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Não culpem os professores

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Em quase todos os lugares do mundo, e o Brasil não é exceção, os professores são, usualmente, culpados ou elogiados pelo desempenho acadêmico de seus estudantes. Entretanto, em várias ocasiões, essa ideia é um grande mal entendido. Os professores são responsáveis por uma pequena fração da variabilidade total dos resultados escolásticos dos estudantes, constatação, esta, demonstrada em diversas pesquisas muito bem delineadas, mas, infelizmente, amplamente ignorada pelos brasileiros.

A maioria da variabilidade dos resultados educacionais está, sim, associada aos estudantes. Entre 50% e 80% dos casos, o desempenho estudantil se deve a diferenças na habilidade cognitiva geral, bem como no fato de a pesquisa educacional não focalizar, com atenção, as características dos estudantes. Por que se tem ignorado o papel da variável estudante por tanto tempo? Primeiramente, porque se concentrar em coisas passíveis de serem modificadas facilmente, como escolas e professores, é mais cômodo do que refletir sobre outras que elas entendem como imutáveis, como o desempenho estudantil.

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Outra razão é que diferenças entre estudantes são ignoradas, bem como há uma forte tradição na cultura ocidental em relação à igualdade entre os estudantes. Interpreta-se aqui igualdade como significando que todas as pessoas são iguais. Ora, há mais de cem anos que pesquisas sociais e psicológicas têm nos ensinado que uma pessoa é uma combinação de genes e experiência, o que ocasiona ser cada pessoa única, e não igual a outra, em sentido matemático.

Talvez o melhor argumento que temos ignorado, e que possa ser o mais importante para entender o desempenho educacional, seja que a educação não tem mudado desde quando surgiu a educação formal. Historicamente, as maiores inovações educacionais têm sido o livro impresso e o quadro negro. Este é um triste comentário sobre a educação, mas inteiramente verdadeiro. Se Platão ou Aristóteles caminhassem em qualquer escola ou sala de aula, de ensino fundamental ou médio, nos dias atuais, eles saberiam exatamente o que estavam fazendo e o que, provavelmente, estaria sendo ensinado. Ficariam, certamente, lisonjeados por tanto que tem sido ensinado desde suas mortes. Mas, na verdade, nada mudou na realidade do ensino.

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O grande problema da educação no mundo é que o sistema educacional tem francamente ignorado o papel massivo dos estudantes no seu próprio desempenho educacional. A despeito do vasto corpo de pesquisa que afirma o papel inequívoco, ou seja, sem margem de dúvida, da importância do nível cognitivo dos estudantes em qualquer que seja o nível educacional.

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