Idealizado como um dos principais empreendimentos para alavancar o desenvolvimento econômico da região, o Aeroporto Regional da Zona da Mata (ARZM), localizado entre as cidades de Goianá e Rio Novo, ainda enfrenta desafios que impedem o crescimento do transporte de cargas aéreas. Criado em 2000 pelo ex-governador Itamar Franco, seu planejamento foi direcionado pela perspectiva de que o terminal se tornasse um aeroporto industrial, podendo assim escoar e distribuir volumes nacionais e internacionais, que, atualmente, são direcionados para aeroportos nos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. Entretanto, desde sua inauguração, em 2011, o local ainda não conseguiu alcançar um de seus objetivos principais.
Na perspectiva do transporte de passageiros, o terminal, que desde sua inauguração em 2011 já recebeu mais de dez mil voos comerciais, está atualmente no auge de sua oferta, tendo em vista que, somente em outubro deste ano, 268 aeronaves passaram pelo local. O número, que é o maior da média histórica para o mês, representa crescimento de 67% frente ao verificado em outubro de 2019, antes da pandemia, quando 160 aeronaves passaram pelo local. Em relação ao mesmo mês de 2020 (106) e 2021 (88), o crescimento é ainda maior, chegando a 152,8% e 204%, respectivamente.
Já ao observar o volume de cargas aéreas nacionais direcionadas ao ARZM, que são carregadas de maneira compartilhada nos voos comerciais já existentes, os números de 2022 demonstram um tímido crescimento em comparação aos últimos dois anos de pandemia, mas ainda não chegam a alcançar o maior patamar já verificado na média histórica, em 2018.
Entre os meses de janeiro e outubro deste ano, o ARZM recebeu aproximadamente 79 toneladas de carga aérea, representando aumento de 16% em comparação ao mesmo período de 2021, quando 68 toneladas foram transportadas no terminal. Entretanto, no mesmo recorte temporal em 2018, o aeroporto chegou a receber cerca de 82 toneladas. Os dados foram disponibilizados pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e obtidos por meio do Sistema Hórus, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Na visão do doutor em Engenharia de Transportes e idealizador da página no Instagram “Papo de Aeroporto”, Rafael Castro, é importante que sejam concentrados esforços na ampliação do transporte de cargas nos voos comerciais já existentes, ainda que este seja um dos primeiros passos para a expansão da atividade no terminal.
“O foco atual do Aeroporto Regional deve ser o aproveitamento dos voos atuais de passageiros para o transporte aéreo de cargas, assim como a Azul já vem realizando em seus voos no local. Entretanto, a capacidade do compartimento de carga do ATR 72-600 (avião utilizado pela companhia na rota Campinas – Zona da Mata) é bastante reduzida, chegando a cerca de 1,4 tonelada, que também é ocupada pelas bagagens dos passageiros. Para além disso, apesar de termos uma alta demanda do transporte de cargas, estamos em uma região que, tradicionalmente, sempre utilizou o transporte rodoviário para a logística das cargas”, avalia Castro.
Otimizar a ocupação das aeronaves
Atualmente, todas as operações cargueiras do aeroporto são realizadas pela Azul Linhas Aéreas, que utiliza seus dois voos para o Aeroporto de Viracopos para deslocar os volumes entre os terminais. Por outro lado, a Latam Airlines, que começou a operar no terminal em julho deste ano, com voos para o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, afirmou à Tribuna, por meio de nota, que não transporta cargas nesta rota no momento. Utilizado nas operações da Latam no terminal e considerado o maior avião que o ARZM recebe atualmente, o Airbus A320 consegue transportar, além dos 174 passageiros, oito toneladas de carga em seus compartimentos exclusivamente dedicados ao transporte aéreo de volumes.
Já nos voos da Gol Linhas Aéreas, que são operados por ATR 72-600 da VoePass, a capacidade de cargas que poderiam ser transportadas é semelhante a da Azul, cerca de 1,4 tonelada diariamente. A Tribuna questionou à companhia se os volumes direcionados para a loja da Gollog (subsidiária de cargas da Gol) em Juiz de Fora passariam pelo Regional, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Investimento na atração de cargas internacionais
Construído com a intenção de receber aviões cargueiros, inclusive os vindos do exterior, o Aeroporto Regional somente recebeu um avião cargueiro em seus onze anos de atividade – e sem que nenhuma carga fosse transportada ou descarregada dele. O fato aconteceu quando um Boeing 737-400F da Sideral Linhas Aéreas pousou no local em junho de 2014, em plena realização da Copa do Mundo, e ficou estacionado no terminal por alguns dias, devido ao congestionamento dos principais aeroportos do país naquele mês. Desde então, ainda que o desembaraço de cargas internacionais esteja acontecendo no ARZM, na visão do professor e economista André Zuchi, há entraves que inviabilizam a atração de novas operações cargueiras para o aeroporto.
“Na minha visão, não temos uma demanda reprimida de cargas nacionais na região. Seria importante investir na atração dos volumes internacionais, justamente para ser o diferencial do Aeroporto Regional frente aos seus concorrentes. Entretanto, diversas questões estruturais impedem o aumento no número de operações cargueiras no local. A principal é a péssima condição da MG-353, estrada que liga o ARZM às cidades da região. Também existem limitações na infraestrutura do terminal, que impedem o pouso de aviões cargueiros internacionais. Mesmo que ele ainda não receba esses voos, é possível receber cargas internacionais no Regional por ele ser classificado como uma zona secundária alfandegada, com os volumes chegando no país em outros aeroportos e sendo direcionados em outros aviões para o local, onde a Receita Federal realiza a operação aduaneira”, explica. Desde a homologação do desembaraço de volumes no terminal, em setembro deste ano, cerca de 9,5 toneladas de cargas internacionais foram recebidas no local, de acordo com dados da Receita Federal.
Atualmente, conforme consulta da Tribuna à ANAC, o Aeroporto Regional estaria limitado a receber aviões do código de referência 4C, devido a largura da pista e da categoria de combate a incêndios do local. Entretanto, a grande maioria dos cargueiros utilizados pelas companhias internacionais no Brasil são do nível 4E, algo que impossibilita a imediata operação cargueira internacional no local. Procurada pela reportagem, a Concessionária do ARZM afirmou que as atuais categorias do aeroporto são compatíveis para promover com segurança as operações vigentes, e que, diante da alteração de demandas, irá realizar as adequações necessárias. Já o DER/MG, responsável pela MG-353, não se pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta edição.