Mais de dois meses após um roubo à mão armada de veículo em Simão Pereira, moradores dizem enfrentar uma rotina de medo, sobretudo no trecho do acesso alternativo usado para desviar do pedágio da BR-040, passando pela Estrada Francisco Jorge da Silva, conhecida como “buraco fundo”. Apesar de o assalto ter acontecido na garagem de uma residência às margens LMG-874, a antiga Estrada União e Indústria, a população teme uma suposta quadrilha que estaria agindo na área, tentando interceptar motoristas e motociclistas. A Polícia Militar garante que reforçou o policiamento depois do crime violento no pequeno município de pouco mais de 2.600 habitantes, situado a cerca de 30 quilômetros de Juiz de Fora. O comando da 33ª Companhia acrescenta que integrantes do grupo que atuaram no assalto foram capturados no estado do Rio de Janeiro, sendo o carro roubado recuperado no início do mês na região de Três Rios.
O morador de Simão Pereira, Sérgio Soares, 48 anos, acredita ter sido alvo de uma tentativa de assalto há cerca de três semanas, quando voltava para a cidade no período noturno pela estrada do buraco fundo. “Costumo passar por ali para desviar do pedágio. Apesar de o trecho ser asfaltado, tem uma parte muito íngreme, e meu carro é 1.0, então eu estava devagar, porque não desenvolve. Também não tem iluminação pública. De repente veio outro carro descendo pela contramão, na direção do meu. Eu só desacelerei, coloquei a mão na buzina, mas não desviei. Quando chegou perto, vi que era vermelho e tinha placa do Mercosul. Como não tomei atitude evasiva, ele desistiu.” Sérgio seguiu até o destacamento da PM para reportar o fato, mas, segundo ele, a ocorrência não foi registrada. “Disseram que iriam averiguar.”
O morador conta que a situação vivenciada por ele e sua esposa foi compartilhada em um grupo de WhatsApp e que o retorno foi imediato. “Há muito tempo não aconteciam casos desse tipo, apenas pontuais. Depois disso, descobri que está sendo recorrente, e feito por uma quadrilha com carro e moto. Quando contamos o nosso caso, um motociclista falou que havia sido fechado por duas motos e que também tentaram abordar carros na mesma estrada. Comecei a juntar uma coisa com a outra. Há umas duas semanas, quando fui sair de Simão, também tinha um carro parado com moto, em um local que costumam usar drogas, mas não sei o que de fato estavam fazendo lá. Não parecem ações isoladas, mas muito bem articuladas.”
Diante do temor de ser interceptado por criminosos, Sérgio diz que tem revisto sua rotina e seus horários. “Por causa do pedágio, ficamos ilhados. Ou pagamos, ou passamos pelo acesso pelo buraco fundo. Estou tendo que me organizar e sair mais cedo, para não passar por lá à noite. O risco de perder o carro depois resolvo, só que, pelo tipo de investida, ficamos na dúvida se é só mesmo assalto ou se não vão fazer alguma maldade. Estamos muito sem suporte aqui.”
Vigia é rendido por trio armado ao entrar em garagem
O crime que acendeu medo entre os moradores de Simão Pereira aconteceu na noite de 9 de junho, por volta das 20h40, na garagem de uma residência às margens da antiga Estrada União e Indústria. De acordo com o registro policial, um vigia, de 63 anos, havia acabado de estacionar seu carro na casa de um irmão e, quando foi fechar o portão, acabou sendo surpreendido por um veículo branco. Dois dos ocupantes desembarcaram, armados com revólver, enquanto o terceiro permaneceu na direção.
Um dos ladrões apontou a arma para o peito da vítima e disse: “perdeu, quero o carro”. Diante da ameaça, o vigia entregou a chave do automóvel, no qual entraram os dois criminosos. O comparsa fugiu no mesmo veículo no qual havia chegado, e todos seguiram em direção a Montserrat, distrito do município de Comendador Levy Gasparian. A vítima contou aos militares que os bandidos aparentavam ter entre 17 e 18 anos. Apesar do rastreamento, realizado inclusive por policiais fluminenses e com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), ninguém foi preso em flagrante.
Em outra ocorrência, registrada no dia 26 de junho, a PM apreendeu um carro, com placa de Juiz de Fora, estacionado em um posto de combustíveis de Simão Pereira, trancado e sem as chaves, e que tinha sinalização de furto/roubo. Populares disseram aos militares que o veículo havia sido deixado no posto por um homem, no dia 24 de junho, por volta das 16h. Mais à frente, o motorista teria embarcado na carona de uma moto, que teria acelerado sentido BR-040.
Para o comandante da 33ª Companhia da PM, responsável pelo policiamento de Simão Pereira, capitão Ricardo Peixoto Freire, o roubo à mão armada de veículo foi um caso isolado. “O carro foi recuperado em Três Rios e estava sem os pneus. Seria um grupo do estado do Rio, que cometeu antes um assalto em Ewbank da Câmara, com o mesmo intuito de pegar um veículo. De lá fizeram o trajeto para entrar para o estado do Rio e passaram por Simão. Aproveitaram essa oportunidade e fizeram esse assalto, mas o crime não foi voltado pra o município”, observa o policial. “Recebemos informações da polícia do Rio de que um ou dois assaltantes foram presos. Depois disso não tivemos mais nenhum crime dessa natureza.”
O capitão pontua que o policiamento foi reforçado após o episódio, sobretudo nas vias de acesso à cidade, que faz divisa com o estado fluminense. “Temos realizado constantes patrulhamentos. Sabemos que a estrada do buraco fundo é usada como rota de fuga e também por quem não quer acessar o pedágio, então temos nossas atenções voltadas para lá. Tanto o policiamento de Matias quanto o de Simão fazem esse percurso, para aumentar a questão da visibilidade .”
PM diz que vai intensificar patrulhamento
Sobre o caso de possível investida de assalto em trânsito, relatado pelo morador Sérgio Soares, não é possível esclarecer do que se tratava, na opinião do comandante Ricardo Peixoto Freire. “Não sabemos se foi realmente uma tentativa de roubo, mas, diante desse fato, vamos intensificar ainda mais o patrulhamento, principalmente no período noturno.” O policial orienta os motoristas a, na medida do possível, evitar o desvio à noite, “uma vez que é uma rota alternativa e não bem sinalizada e bem iluminada como a BR-040.”
Ainda conforme o capitão Freire, não há elementos suficientes para dizer se uma quadrilha continua agindo naquela região. “A partir do momento em que houve somente um roubo até agora, não podemos afirmar. Mas qualquer crime violento é ruim, porque causa sensação de insegurança.”
Além de Matias e Simão, a 33ª Companhia é responsável pelo policiamento de mais oito cidades do entorno de Juiz de Fora: Santana do Deserto, Belmiro Braga, Lima Duarte, Olaria, Pedro Teixeira, Rio Preto, Santa Bárbara do Monte Verde e Santa Rita do Jacutinga. “Apesar de o ano passado ter sido atípico, por causa da pandemia, com muito respeito ao isolamento social nessas cidades menores, não tivemos nenhum crime violento em alguns desses municípios. Agora, com o retorno aos poucos, podemos ver um aumento, mas porque os índices haviam sido muito baixos. Ainda assim, algumas cidades, como Rio Preto, ainda não tiveram nenhum crime violento neste ano”, avalia o comandante da companhia.
Segundo ele, a criminalidade violenta nessas localidades é mais ligada ao roubo de objetos, como celular, mochila e carteira. “Temos dado uma resposta muito boa. Apesar de muitas dessas cidades fazerem divisa com o Rio, em várias ainda não constatamos a influência direta do estado vizinho nos crimes relacionados.”
Zona Rural
Em relação ao policiamento na Zona Rural, inclusive de Juiz de Fora, o subcomandante do 27º Batalhão, major Jean Michel Amaral, afirma que são feitas ações constantes. “Temos em alguns períodos regulares uma operação que chamamos de Segurança Rural. O que nos ajuda muito são as redes de vizinhos, por facilitarem o contato. Também temos duas equipes de patrulhamento exclusivamente voltadas para a segurança desses distritos. Os policiais têm contato constante, seja virtual, através de grupos de WhatsApp ou das visitas.”
O subcomandante destaca que, normalmente, os roubos são cometidos nesses locais mais ermos mediante informações privilegiadas. “Não cansamos de falar dos cuidados que precisam ter com a divulgação de notícias”, diz ele, sobre a venda de bens que indicam circulação de dinheiro. “Nas últimas ocorrências de maior vulto, havia grandes quantidades de dinheiro na casa das vítimas, fruto de alguma negociação.”