Uma funcionária pública de 32 anos, grávida de 6 meses, foi sufocada até a morte pelo próprio marido, da mesma idade, dentro do apartamento do casal no município de Barbacena, a cerca de cem quilômetros de Juiz de Fora. O feminicídio de Ana Paula Amaral de Paula aconteceu na madrugada desta segunda-feira (8) na Rua Jornalista Paulo Emílio Gonçalves, no Bairro Boa Morte, e chocou a cidade de quase 140 mil habitantes, situada no Campo das Vertentes. O suspeito foi preso em flagrante após andar de cueca pela via pública e, ao ser questionado pelos militares sobre o assassinato, começou alegando ter percebido, há algum tempo, “possuir mediunidade”.
Segundo o relato do envolvido à Polícia Militar, naquela noite ele “não estava conseguindo achar lugar confortável” para dormir e decidiu colocar alguns cobertores e travesseiros no chão. Ao vê-lo deitado fora da cama, a esposa teria ido para o banheiro e começado a chorar. O homem afirma ter seguido até ela, dizendo que “estava tudo bem”, e oferecido um copo de “água benta”. Ana Paula não teria aceitado, e ele teria dito a ela para deitar com ele. A mulher teria decidido se juntar ao marido no solo e aceitado orar. O companheiro acrescentou ter colocado a mão na testa dela durante a reza, mas a vítima teria ficado agressiva em determinado momento da oração, pedindo para ele soltá-la.
Ainda conforme o relato, para conter a agressão, o marido pegou um cobertor e o utilizou “como escudo contra ela”, mas a mulher continuou com “as atitudes que estavam lhe desagradando”. Em seguida, ele decidiu colocar o cobertor no rosto dela, sendo agredido de maneira mais contundente. Após apertar mais a peça contra a face de Ana Paula, ela parou de reagir, e ele soltou o cobertor.
De cueca após denúncia
A PM descobriu o crime por volta das 3h, após denúncia de perturbação do sossego no mesmo endereço. Durante a chamada feita ao Centro de Operações da PM (Copom), uma pessoa relatou que um casal estava gritando muito e que, possivelmente, a mulher poderia ter sido vítima de violência doméstica. Ao chegar na rua informada, a equipe policial mobilizada na ocorrência avistou um homem em via pública apenas de cueca. No entanto, ele percebeu a presença da viatura e saiu correndo para dentro do prédio, trancando o portão.
Imediatamente, vários vizinhos surgiram na sacada, apontando para um apartamento do edifício. O portão eletrônico foi aberto para a entrada dos policiais e eles tocaram a campainha do imóvel no terceiro andar. O suspeito teria aberto a porta aparentemente tranquilo, segundo a PM. Ana Paula estava caída no chão de um dos quartos, sem pulsação e já com alguma rigidez nos braços e pernas. O Samu foi acionado e tentou reanimá-la, mas não obteve sucesso. A causa da morte não foi definida com precisão, e o corpo da vítima foi encaminhado para necropsia no Instituto Médico Legal (IML) de Barbacena. De acordo com a polícia, a funcionária pública morta era natural de Baependi, no Sul de Minas.
Suspeito afirma ter interrompido tratamento psiquiátrico
O homem envolvido no homicídio de sua própria esposa grávida ainda afirmou ter ido até o apartamento acima do dele e batido várias vezes na porta, após a mulher ter desfalecido. Depois disso, ele assegurou somente se recordar de ter gritado muito, perambulando pelo prédio e pela rua. Nascido na cidade do Rio de Janeiro, o homem acrescentou ter interrompido, em fevereiro, um tratamento psiquiátrico realizado em Belo Horizonte e disse não possuir motivos para matar sua mulher.
Uma vizinha do casal, 37, contou aos militares que estava em casa e começou a ouvir muito barulho vindo do apartamento de cima. Ela escutou gritos de homem e de mulher em uma aparente briga, mas, momentos depois, não constatou mais a presença da voz feminina. Em seguida, percebeu que o morador havia passado a orar em tom muito elevado. Assustada, a moradora ligou para outro vizinho, que acionou a PM. Em contato com a polícia, o solicitante revelou que, logo após receber a ligação da colega de prédio, teve sua porta esmurrada pelo suspeito, o qual gritava insistentemente para abri-la, afirmando que ele seria “o próximo”. Temendo por sua vida, o homem se manteve trancado até a chegada dos militares.
O suspeito apresentava ferimentos leves na mão esquerda, e foi medicado no Hospital Regional de Barbacena, antes de ser levado para a delegacia da mesma cidade. Segundo a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), ele foi acautelado no Presídio de Barbacena. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.