A pequena vila de Conceição do Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, a cerca de 90 quilômetros de Juiz de Fora, amanheceu mais triste nesta segunda-feira (8). O motivo do luto é o assassinato de José Maria de Souza Silva, 56 anos, conhecido como Firma, que esteve por mais de 20 anos à frente do Candeias Blues Bar, ou, simplesmente, Bar do Firma. Na manhã de domingo (7) ele foi encontrado morto na casa onde morava, em Valadares, Zona Rural de Juiz de Fora, situada no meio do caminho para Lima Duarte. O suspeito do crime é um homem de 39 anos, morador do bairro, que foi preso em flagrante pela Polícia Militar, mas negou envolvimento.
A suspeita é que Firma tenha sido morto com pauladas na cabeça, já que dois pedaços de madeira com vestígios de sangue foram apreendidos no local. Além disso, a vítima apresentava fratura de osso temporal esquerdo e lesão corto-contusa no crânio, conforme constatação de equipe do Samu, que esteve no local para atestar o óbito. A violência empregada no homicídio destoa da forma gentil como a vítima era descrita por parentes e amigos: “Uma pessoa do bem, incapaz de fazer mal a um mosquito.”
Conforme a PM, Firma foi achado sem vida por um irmão dele, 55, que havia chegado na residência com a intenção de almoçarem juntos. Enquanto atendiam a ocorrência, militares receberam informações, de pessoas que não quiseram se identificar, temendo represálias, sobre a possível autoria do assassinato. Os policiais realizaram intenso rastreamento por Valadares e localizaram o suspeito em casa.
Segundo o boletim de ocorrência, o homem negou ligação com o crime, mas teria demonstrado nervosismo e repassado informações desencontradas sobre os horários nos quais teria visto a vítima pela última vez. Ele teria admitido um desentendimento com Firma há cerca de um mês, mas teria alegado que a questão havia terminado por ali. Entretanto, a polícia soube que a vítima teria sido ameaçada de morte por ele e que os dois foram vistos juntos andando pelo bairro no fim da noite de sábado (6).
Como o homem teria assumido que havia ido até a casa de Firma na manhã de domingo, entrado sem permissão e visto que estava morto – sem acionar a polícia ou o socorro -, ele acabou conduzido em flagrante à 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha, por violação de domicílio, omissão de comunicação de crime, além de suspeita de homicídio.
Após os trabalhos da perícia da Polícia Civil, o corpo foi encaminhado para necropsia no Instituto Médico Legal (IML). A motivação do crime não foi esclarecida, e o caso seguiu para investigação na Delegacia Especializada de Homicídios.
“Ele morreu dentro de um sonho”
“Quero que a história dele fique para sempre em todos os corações. O Firma não merecia isso, ser levado dessa forma cruel e covarde. Que se faça Justiça e que isso não fique impune”, desabafou Thayná Pires, 25 anos, ex-enteada e filha de coração da vítima. Procurada pela Tribuna nesta segunda-feira (8), a jovem contou que Firma tinha muitos projetos de vida pela frente e estava apenas esperando a pandemia passar para abrir um novo bar na casa onde havia ido morar recentemente com o irmão, em Valadares. “Já estava tudo montado. Ele morreu dentro de um sonho”, lamentou.
Desde a mudança de residência, no fim de 2019, Thayná foi quem assumiu o Candeias Blues Bar. Ela pretende continuar à frente do negócio quando a situação sanitária permitir, prosseguindo a trajetória iniciada em 1998 no Centro da vila de Conceição do Ibitipoca. “Ele me pediu isso, para continuar com a história dele e do bar. Começou como fundo de quintal, depois ficou maior, e ele conseguiu fundos para comprar um lote na Tapera e fazê-lo da forma como sempre quis”, recorda a jovem.
Os galhos secos de candeia pendurados por toda parte e as garrafas amarradas e suspensas em cordas eram a marca original do estabelecimento, que chegou a ser exibido em 2010 no “Me leva Brasil”, quadro do programa Fantástico, da TV Globo, feito pelo jornalista Maurício Kubrusly. A paixão de Firma pela natureza e o cuidado que tinha com os clientes aparecia também de forma autoral nas porções de queijo ou batatas, sempre adornadas delicadamente com flores.
“Agradecemos a todos pelo carinho que têm com ele. Tenho certeza que vai estar recebendo isso em forma de boas vibrações, com o amor e a paz que sempre transmitiu para a gente”, disse Thayná. Além de continuar o legado deixado por Firma, ela vai redobrar os cuidados com o filho dele e seu irmão, de apenas 5 anos. “Ele nos deixou vários ensinamentos com seu diferente lema de vida.”