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Família busca respostas para morte de garota de 12 anos

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Kethylin tinha 12 anos e não apresentava histórico de doença anterior (Foto: Arquivo Pessoal)

A família de Kethylin Lorrane Rasmini da Silva, 12 anos, busca respostas para a morte súbita da garota, que não teria histórico de doença anterior e faleceu cerca de seis horas depois de ser encaminhada à Policlínica Municipal de Matias Barbosa, no dia 30 de maio. A certidão de óbito aponta como causa “insuficiência respiratória aguda e sepse de foco não especificado”. O teste para Covid-19 deu negativo, enquanto para dengue teve resultado positivo, mas os parentes questionam os procedimentos de coleta para os exames, que teriam sido foi realizados horas após o falecimento, conforme os documentos.

Inconformada, a família registrou um boletim de ocorrência, no qual relata demora no atendimento adequado e falta de equipamentos no socorro, fatores que teriam contribuído para a morte precoce de Kethylin, na opinião dos familiares. “A enfermeira que foi ao local socorrer a criança (em ambulância) nem equipamento levou, e o médico pediatra demorou. Quando atendeu, não prestou o atendimento devido, o que fez o quadro evoluir rapidamente”, diz um parente em parte do texto do BO.

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Mesmo diante das dúvidas, segundo o registro policial, o delegado de plantão em Juiz de Fora naquele dia não teria autorizado a autópsia, por falta de lesões na adolescente, não havendo necessidade, conforme a autoridade policial, de encaminhar o corpo para o Instituto Médico Legal (IML) e nem de perícia. Dessa forma, Kethylin foi enterrada no último dia 31, no Cemitério Municipal de Matias Barbosa, sem outros exames mais detalhados.

“Ela chegou ao hospital com dor de cabeça e temperatura de 34 graus, às 2h da madrugada de domingo (30). O pediatra relatou que ela estava desidratada e a colocou no soro, ao invés de aquecê-la ou colocá-la no oxigênio. Ele saiu para ver outros pacientes. Passando um tempo, não houve melhoras, e o quadro piorou. Sendo assim, ele chamou seu assistente para ajudá-lo. Neste momento, houve a primeira parada cardíaca. Ele tentou reanimá-la, e ela teve a segunda. Na terceira, chegou outro médico e, juntos, tentaram reanimá-la por 20 minutos. Chamaram os pais e a família e alegaram que estava em morte encefálica”, relatou à Tribuna o tio de Kethylin, Diego Morais Silva, 24.

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Ainda conforme ele, os testes realizados para detectar a causa da morte deixaram ainda mais dúvidas. No resultado negativo para Covid, por exemplo, a hora da coleta que consta no documento é às 12h24 do dia 31, quando a jovem já havia inclusive sido sepultada. “O exame de dengue deu positivo, sendo que ela já havia entrado em óbito às 8h10, e a suposta coleta foi feita às 17h20, oito horas depois, após os pais indagarem qual o motivo da morte. Depois disso, a família acionou a Polícia Militar, pois os médicos entraram em contradição sobre o real motivo do óbito”, disse Diego, acrescentando que no atestado de óbito do cartório não consta especificamente dengue como causa. “Os pais estão angustiados, pois esse resultado só foi dado após a família acionar o advogado.”

Mãe recorda os últimos momentos com a filha

Kethylin cursava o 7º ano do ensino fundamental na Escola Estadual Cônego Joaquim Monteiro, em Matias Barbosa. Ainda muito abalada com a morte de sua primogênita, Tamires da Silva Ribeiro, 33 anos, tenta retomar a vida ao lado de seus dois filhos, de 8 e 11 anos. “Está sendo muito difícil, porque a gente não esperava. Ela era cheia de vida, muita animada e tinha muitos planos. Falava que queria servir a Deus, ser obreira e professora. Também era muito agarrada com os irmãos.”

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Tamires recorda os últimos momentos da filha. “Ela nunca apresentou problema sério de saúde. Era difícil até passar mal de gripe. Uma semana antes, tinha esquentado duas vezes (febre), mas não teve diarreia. Reclamou de dor em um olho, mas como estava tendo aulas on-line, achamos que era por isso. No dia anterior (29), só reclamou que, se ficasse em pé, a perna cansava, aí ficou mais sentada. De madrugada, ela ficou com a temperatura muito baixa e não conseguia aquecer, mas não foi desidratada para o hospital, porque tinha jantado.”

Ainda conforme a mãe, mesmo com hipotermia e suando muito, Kethylin caminhou até a ambulância e também desceu andando ao chegar à Policlínica. “Depois que a colocaram no soro, ela deu uma piorada, ficou muito ofegante e com muita sede. Eu molhava a boca dela, mas depois a enfermeira falou que era jejum total. Mas ela continuou reclamando de sede. Quando disseram para colocá-la no oxigênio e levá-la para a sala de monitoramento, ela já não estava respondendo mais. Aí desesperaram e saíram correndo com ela.”

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Polícia Civil vai verificar possível erro médico

A ocorrência registrada pela família de Kethylin relacionada ao óbito seguiu para a Polícia Civil. A assessoria da instituição informou, nesta segunda-feira (7), que o delegado responsável pelo caso, Rodrigo Ciscotto, deve solicitar o prontuário médico à Policlínica de Matias Barbosa e encaminhá-lo ao IML “para que seja verificado se houve algum tipo de erro médico ou se a causa da morte foi natural”. As investigações prosseguem.

Em nota, o Departamento de Saúde da Prefeitura de Matias Barbosa reforça que o atendimento à Kethylin foi realizado de acordo com os protocolos previstos. “Infelizmente a paciente veio a óbito, e, após exames (encaminhados a Acispes), foi detectado que a causa da morte foi dengue. De acordo com a avaliação médica, a paciente deveria estar com a doença de sete a dez dias, e não há registro de atendimento neste período.”

A Prefeitura de Matias pontua que a família havia solicitado o encaminhamento do corpo ao IML, “mas não foi autorizado pelo delegado, já que a causa da morte foi decorrência da dengue, e não, morte suspeita”. A assessoria da Polícia Civil foi questionada sobre esse procedimento, mas não se pronunciou.

O Departamento de Saúde de Matias informa que, segundo o último levantamento do setor de endemias, o município soma cinco casos confirmados de dengue e dois de zika vírus. “E como uma das medidas preventivas a essas doenças, além do tratamento focal e fumacê, estão sendo entregues repelentes às grávidas matienses, já que a zika é uma causa em potencial para o nascimento de crianças com microcefalia”, finaliza a nota.

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