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Apenas 0,23% do lixo é reciclado em Juiz de Fora

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Flávia Helena Dias da Silva, presidente da Apares (Foto: Marcelo Ribeiro)

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Implantada há mais de 20 anos, a coleta seletiva em Juiz de Fora praticamente inexiste. Em todo o ano passado, das 629 toneladas de lixo recolhidas por dia na cidade, apenas 1,5 tonelada foi reciclada, o equivalente a 0,23%, bem abaixo da média nacional, de 4,08%. Isso acontece ainda que metade das ruas da cidade integre as rotas dos caminhões do serviço seletivo. Os problemas parecem estar em todas as etapas do processo: quem está disposto a separar o lixo em casa reclama da falta de regularidade na coleta, a Prefeitura reclama da adesão dos moradores e os catadores se queixam de falta de apoio. Já as empresas que produzem objetos reciclados dizem que há espaço para receber mais materiais. A ampliação do serviço poderia reduzir o envio de lixo e dar uma sobrevida importante para o aterro sanitário de Dias Tavares, inaugurado em 2010 e previsto para operar até o ano de 2035, menos de 20 anos.

Para o Demlurb, a principal dificuldade para aumentar o volume de materiais reciclados em Juiz de Fora é a falha na adesão da própria população. Conforme o órgão, somente 10% do lixo reciclável são separados e entregues à coleta de forma correta. Hoje existem três rotas de seis trechos cada uma. Três caminhões com três funcionários atuam na coleta, realizada uma vez por semana em cada rua atendida.

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Os catadores de materiais recicláveis também reclamam que muitos moradores misturam o lixo da coleta seletiva com o chamado lixo molhado, como restos de comida, além de papel higiênico e até materiais perigosos, como seringas contaminadas. Entre a população, a queixa é pela falta de regularidade no serviço. Há alguns anos, um condomínio na Rua Tom Fagundes, no Cascatinha, tentou implementar a coleta seletiva. A ideia até vingou entre os condôminos, que começaram a separar o lixo seco do molhado. Mas a falta de regularidade na passagem dos caminhões desestimulou os participantes, e o projeto acabou. “A antiga síndica chegou a comprar latões específicos para a reciclagem”, diz a atual síndica, Maria Angélica Furtado Miranda. “Eu continuo separando o meu lixo e levo até o coletor do Empório Bahamas quando vou fazer compras. Mas é uma atitude pessoal. O ideal seria a coleta funcionar bem em toda a cidade.”

Educação ambiental

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Segundo o Demlurb, existem programas de educação ambiental nas escolas e empresas, além de eventos promovidos pelo departamento, como panfletagens nos bairros. O órgão informou ainda que está sendo concluído um projeto de expansão da usina de reciclagem, administrada pela Associação Municipal de Catadores de Materiais Recicláveis e Reaproveitáveis de Juiz de Fora (Ascajuf). A ideia é que seja ampliada a capacidade de absorção da Ascajuf na separação e comercialização do material. Após concluída esta etapa, será realizada a captação da verba para execução.

Candidato deve trabalhar pelo fim da inércia

O professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFJF, José Homero Pinheiro Soares, avalia a situação da coleta de lixo como um dos principais gargalos do meio ambiente em Juiz de Fora. Ele alerta que as políticas públicas mais modernas na questão do lixo apontam, não só para a reutilização, mas para a redução na geração de resíduos. De forma concomitante com essa mudança cultural, é preciso pensar o papel do cidadão e do Poder Público na questão da reciclagem. “O lado mais importante é que as pessoas precisam priorizar a separação do lixo dentro de suas próprias casas. Se eu faço isso, posso cobrar do Poder Público que ele faça a coleta seletiva”, diz. “Uma ação importante dos candidatos à Prefeitura é que proponham efetivamente um plano para sair dessa inércia. A sociedade precisa perceber a importância de reduzir a geração de lixo e de reciclar.” Conforme o professor, em média, 55% do lixo são compostos de matéria orgânica, sendo que a parte de reciclável está na faixa de 20% a 25% do total coletado.

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Em Juiz de Fora, as duas associações de catadores apoiadas pela Prefeitura passam dificuldades estruturais em seus locais de triagem e enfrentam falta de materiais para reciclar. Para amenizar os problemas, a Associação dos Catadores de Papel e Resíduos Sólidos de Juiz de Fora (Apares) e a Associação Municipal de Catadores de Materiais Recicláveis e Reaproveitáveis de Juiz de Fora (Ascajuf) estão unindo forças. “Juntos, podemos vender em quantidade maior, com qualidade melhor e com preço mais justo”, diz a presidente da Apares, Flávia Helena Dias da Silva.

A Ascajuf, formada por aproximadamente 30 membros, sendo cerca de 20 na Zona Norte e dez na Sudeste, ainda recebe os materiais coletados pelos caminhões do Demlurb. Já no galpão da Apares cedido pela Prefeitura, no Centro, os recicláveis estão cada vez mais escassos. Os 18 associados reclamam que, há mais de um ano, quando a prensa usada pelos trabalhadores estragou, os caminhões da coleta seletiva pararam de fornecer os materiais. A expectativa é que, com o reparo custeado pelos próprios associados, o galpão volte a ficar cheio e atraia os trabalhadores.

“Com a coleta seletiva funcionando, cada catador consegue tirar até mais do que um salário por mês. Hoje a gente não consegue ganhar nem meio salário. Muitos associados só vêm trabalhar de vez em quando, porque acabam tendo que fazer bicos para ganhar um pouco mais. Aqueles que estão trabalhando dependem de doação dos materiais”, diz Flávia. “Precisamos do apoio da Prefeitura, que não faz mais do que sua obrigação. Os catadores melhoram a cidade. Nós ajudamos a limpar as ruas.”

Empresas têm capacidade ociosa

Mais do que cuidado ambiental, a coleta seletiva do lixo pode fomentar um mercado ainda em expansão. Entre o cidadão que separa o lixo e o surgimento de um produto reciclado, existe uma cadeia produtiva que envolve catadores, cooperativas, atravessadores e empresas de reciclagem. Na ponta final de todo o processo, as empresas dizem haver espaço para reciclar mais. Em Juiz de Fora, a unidade da AG Plast, que emprega 300 funcionários, tem capacidade instalada para receber até 800 toneladas de garrafas PETs por mês. Mas a fábrica, em operação na cidade há dois anos e que recebe descartáveis de cooperativas de todo o país, ainda tem folga em sua produção. Se atingisse o limite, poderia produzir, por mês, até 650 toneladas de resina que se transformariam em milhares de novas garrafas PET.

“Temos capacidade de aumentar a produção. Falta a oferta de sucata ser maior e mais frequente, além de o mercado como um todo perceber a importância de comprar o reciclável. Tecnologias modernas são capazes de fazer garrafas totalmente descontaminadas que podem, inclusive, ter contato com alimentos”, diz a gerente de qualidade e novos negócios da empresa, Raffaela Andrade.

Conforme a gerente, há avanços nos últimos anos, mas o apoio e a fiscalização para o setor de recicláveis ainda são raros. “Faltam políticas públicas. As poucas leis que existem não são efetivas ou não são cobradas. Isso acaba refletindo numa cultura generalizada em que as pessoas não se preocupam em separar o lixo, porque não entendem a importância disso. Falta ainda apoio das próprias empresas privadas, que, em geral, não têm ou não apoiam a logística reversa.”

O estímulo à logística reversa consta na Lei 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Conforme o texto, o Poder Público pode instituir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender às iniciativas de estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa, que prevê o retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana.

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