Mais de 150 pessoas e diferentes entidades de Juiz de Fora assinam carta pública destinada à Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) contra a decisão de submeter à memória de Rosa Cabinda a comenda por Mérito Comendador Henrique Guilherme Fernando Halfeld. O texto alega que “conceder à Rosa uma comenda que leva o nome de seu algoz, seu escravizador, significa submeter sua memória a uma nova violência”. Nesta sexta-feira (27), a PJF divulgou a lista dos indicados a receberem a comenda em evento a ser realizado na próxima terça-feira (31), no Cine-Theatro Central, às 19h. A solenidade acontece após dois anos de interrupção, ocasionados pela pandemia da Covid-19.
Rosa Cabinda é considerada símbolo da luta negra em Juiz de Fora, inclusive com condecoração própria, a Medalha Rosa Cabinda. Cabinda, escravizada por Henrique Halfeld, foi a primeira negra que utilizou a Justiça para obter sua liberdade no município. O texto alega que por mais “bem-intencionada” que tal indicação possa ser, trata-se de um equívoco. Dessa forma, o documento apela à prefeita Margarida Salomão (PT) que reveja esta decisão.
“Recebemos com choque a notícia de que a Prefeitura de Juiz de Fora, que tem uma gestão sensível com as causas sociais, decidiu “conceder” à Rosa Cabinda, símbolo da luta negra em nossa cidade, a Comenda Henrique Halfeld. (…) Oferecer hoje à Rosa Cabinda a medalha Henrique Halfeld nada mais é do que buscar uma conciliação histórica entre opressor e oprimido e não é silenciando ou conciliando que vamos superar as barreiras históricas entre oprimidos e opressores”, cita o texto, assinado, inclusive, por correligionários de Margarida.
Este ano, de acordo com a PJF, são 25 indicados, e a escolha segue critérios de paridade de gênero e raça. Dos homenageados, 13 são mulheres e 12 homens e, em critério de raça, dos 25 homenageados, dez são negros e negras. Entre eles, o Município lista o nome de Rosa Cabinda e alega que “homenageá-la é parte das várias ações que precisam ser empreendidas em nome de ressignificar a história de Juiz de Fora. Não se trata de reparação. Tal homenagem serve para visibilizar a verdadeira história da cidade, ainda hoje pouco conhecida por sua população, e também de viabilizar outras narrativas sobre o nascimento e o desenvolvimento do município”. A justificativa consta no material de divulgação da PJF com a lista de indicados, divulgada no site institucional. A Tribuna entrou em contato com a Prefeitura e questionou se o Município se posicionará a respeito da carta pública e aguarda retorno.
Assinam o documento as seguintes entidades: Sindicato dos Professores de Juiz de Fora, Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Juiz de Fora, Diálogo e Ação Petista, Coletivo Maria Maria, Juventude Revolução do PT, PSOL/JF, Afonte! Coletivo de Juventude, Resistência Feminista, Centro Acadêmico de Ciências Sociais Darcy Ribeiro, Movimento de Mulheres Olga Benário, Unidade Popular-UP, Movimento Correnteza, União da Juventude Rebelião-UJR e Confraria dos poetas.