Uma manifestação contra o lockdown, que começou como carreata na tarde de segunda-feira (22), resultou em aglomeração com flagrantes de desrespeito a regras sanitárias básicas, como o uso de máscara nas ruas e o distanciamento social. Depois de se concentrarem no alto da Avenida Rio Branco, no final da tarde, centenas de pessoas envolvidas seguiram a pé até o Parque Halfeld, no Centro de Juiz de Fora, enquanto pediam pela reabertura do comércio.
O desfecho em frente à Câmara Municipal ainda se prolongou até as 19h45 com a ocupação da Rua Santo Antônio pelos manifestantes, com a interrupção do tráfego. O programa Minas Consciente proíbe a circulação de pessoas sem o uso de máscara de proteção em qualquer espaço público ou de uso coletivo, além de vedar a realização de qualquer tipo de evento público ou privado que possa provocar aglomeração, ainda que respeitadas as regras de distanciamento social.
O movimento reuniu grupos de diversas frentes e, além de protestar contra o fechamento do comércio, também teve manifestações de vieses políticos, a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e de bandeiras defendidas por ele, e contra a atual gestão da prefeita Margarida Salomão (PT). O protesto acontece num momento crítico da pandemia, com a imposição pelo Estado da onda roxa, em que as regras do Minas Consciente são soberanas a qualquer outra norma municipal.
Apesar do desrespeito às próprias medidas restritivas impostas pelo Governo de Minas, não houve ação por parte das forças de segurança e das autoridades municipais para dispersar o grupo.
Em nota divulgada nesta terça (23), a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) reiterou que situações de notório descumprimento da onda roxa deverão ser informadas aos órgãos de fiscalização municipal e aos destacamentos locais das forças de segurança. “Os mesmos foram devidamente informados da necessidade de participação e cooperação, pelos comandos centrais das corporações, a pedido do governador do Estado, e com vistas à efetivação da fiscalização prevista para a onda roxa.”
A SES-MG destacou que as medidas previstas nesta fase mais restritiva foram estendidas aos 853 municípios de Minas com o objetivo de controlar a disseminação do coronavírus, reduzindo a atual taxa de ocupação de leitos e a pressão sobre os profissionais de saúde. “A secretaria também reforça, junto à população, a importância dos cuidados básicos para prevenção à Covid, como distanciamento social, uso de máscaras e higienização adequada das mãos.”
Questionada pela Tribuna, a assessoria de comunicação da 4ª Região da Polícia Militar informou que a corporação “não vai se posicionar sobre o assunto”.
A diretriz do programa Minas Consciente também determina a participação do Município em casos de descumprimento das normas. “A fiscalização será feita com o apoio da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, em conjunto com os municípios envolvidos. As gestões municipais deverão, através de seus órgãos de segurança pública, trânsito e/ou fiscalização, atuar de forma conjunta, visando ao cumprimento das medidas postas.”
A Tribuna fez contato com assessoria da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) para questionar sobre o fato de não ter ocorrido uma ação no momento de aglomeração do protesto, visando ao cumprimento dos protocolos previstos na onda roxa do Minas Consciente, mas não obteve retorno sobre a questão até o fechamento desta matéria.
Prefeita e governador falam nas redes sociais
Como acabou sendo alvo central do protesto contra o lockdown, a prefeita Margarida Salomão (PT) optou por se posicionar nesta terça-feira (23) por meio das redes sociais , mas não falou da ausência de reação por parte do Município para coibir a multidão, que acabou sendo formada em pleno Centro da cidade.
O governador Romeu Zema (Novo) também demonstrou preocupação com o descumprimento das medidas de prevenção determinadas pelo Governo no estado, a fim de brecar a disseminação do coronavírus no momento mais preocupante da pandemia. Em postagem nas redes sociais, nesta terça, ele ressaltou que a onda roxa é para proteger a saúde dos mineiros e que esta é uma medida necessária para garantir atendimento hospitalar.
“Estamos preocupados com todos os setores que são afetados pela decisão. Por isso, conversei hoje com representantes do comércio e empresários do Estado para ouvi-los e explicar a importância de frear o avanço da pandemia em Minas. O Governo está aberto ao diálogo. Conversando, ouvindo e ponderando, construímos um Estado melhor.”