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‘Pelo amor de Deus, fique em casa’, pede prefeito Antônio Almas

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Após Juiz de Fora bater recordes diários de casos confirmados de Covid-19 na última semana, o prefeito Antônio Almas (PSDB) subiu o tom ao defender o isolamento social nesta segunda-feira (22), em nova transmissão on-line pelas redes sociais. O índice de isolamento registrado diariamente pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) caiu para 48,3% na última sexta-feira (19). Em abril, por exemplo, a taxa ultrapassou 60%, segundo a Prefeitura. Além de admitir o alto índice de transmissibilidade do coronavírus em Juiz de Fora, Almas reiterou dificuldades em comprar ventiladores mecânicos e equipamentos de proteção individual (EPIs) em meio à tentativa de equipar novos leitos de terapia intensiva para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Conforme Almas, 27% do total de casos confirmados até o momento foram registrados na última semana – o número passou de 872 para 1.258. O prefeito disse entender que o crescimento vertiginoso é explicado tanto pelo aumento da capacidade de testagem do Município, bem como pelo índice de contágio médio causado por cada pessoa infectada – conhecido como R0 – estar acima da média. “Enxergo duas situações: nós tivemos um aumento de capacidade de testagem a partir do esforço que a Prefeitura tem realizado com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Quanto mais testamos, maior é o nosso índice de positivos. Porém, existe um outro fato, que é o de ainda termos uma transmissibilidade muito alta. Existe um índice chamado R0, cujo ideal é um valor inferior a um. Quanto menor, maior o controle de transmissibilidade. O nosso índice é 1,08, segundo o relato apresentado ontem (21) pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), um braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas.”

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De acordo com o prefeito, embora o SUS ainda esteja dando respostas ao quadro epidemiológico apresentado, a Prefeitura trabalha em vocacionar novos leitos de terapia intensiva para a rede pública de saúde a fim de reduzir a taxa de letalidade. “Temos feito um esforço para cumprir apenas um objetivo (reduzir a taxa de letalidade). Temos uma taxa de letalidade média de 3,6%. No entanto, na última semana, o índice foi de 1,9%, mesmo com o aumento de casos confirmados. Isso é fruto de ainda termos um sistema de saúde que está conseguindo dar respostas. Ainda temos 13 leitos disponíveis, por exemplo. Temos 42 leitos ocupados com pacientes de Covid-19 dos 55 que vocacionamos exclusivamente para Covid-19 há mais de um mês atrás. (…) Temos aproximadamente 160 leitos públicos. Contando os privados, chegamos a 260. E trabalhamos para ampliá-los.”

Isolamento em queda

Almas admitiu que o Executivo observou o esgotamento dos cidadãos juiz-foranos em relação ao isolamento social. “Mesmo nós não tendo condições objetivas para qualquer flexibilização das medidas tomadas a partir dos primeiros decretos, houve uma parte da população que retornou às ruas. Houve também, por parte do setor comercial, uma busca em ampliar a flexibilização das atividades para que pudéssemos, dentro de um ambiente tão difícil, onde questões de saúde são vistas como contraponto a questões econômicas, pela busca em diminuir o impacto na economia, fazer ações de flexibilização. É bom esclarecer novamente que a Prefeitura fez uma opção pelo entendimento de que não bastariam ações simplesmente localizadas no território do Município de Juiz de Fora.”

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Almas voltou a reiterar que a única medida a garantir segurança aos juiz-foranos é o isolamento social. “Ficar em casa não é receber amigos; não é chamar para a granja 20 amigos para fazer um churrasquinho. É ficar em casa. Quero dizer a cada cidadão: depois que você tiver que enfrentar uma situação em que o seu pai, a sua mãe ou o seu filho estiver na porta de um hospital aguardando um leito de terapia intensiva, não responsabilize a Prefeitura ou culpe o prefeito. A minimização do problema é responsabilidade de cada um. (…) Os bares não saíram dos lugares onde estão. Foi você quem foi até ele, foi você quem foi sem máscara, foi você quem ficou aglomerado nos bares”. Ao fim, o prefeito propôs um “pacto” aos cidadãos. “A Prefeitura vai continuar trabalhando como tem trabalhado. Estamos em um processo de busca de ampliação de leitos até com a possibilidade de comprá-los do setor privado, mas é importante que cada cidadão faça a sua parte. E só tem uma forma de o cidadão fazer a sua parte: fique em casa! Fique em casa! Pelo amor de Deus, fique em casa!”

‘Juiz de Fora não é uma ilha’

Embora admita a frente de trabalho em viabilizar novos leitos de terapia intensiva para o Município – inclusive por meio de contratação de leitos da própria rede privada – Almas ponderou que há dificuldades, como a contratação de profissionais de saúde, bem como a disponibilidade de ventiladores mecânicos, respiradores e EPIs no mercado.

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No entanto, ele voltou a destacar que, como o Município é polo da Macrorregião Sudeste de saúde, a demanda está para além de Juiz de Fora. “Tentamos comprar ventiladores mecânicos. Se a minha memória não me enganar, os preços estão variando. Hoje, um ventilador mecânico chega a R$ 230 mil. Lá no início, era R$ 30 mil, salvo engano. Mais do que isso, temos enfrentado outros problemas que não de Juiz de Fora. Não adianta olharmos para Juiz de Fora como se fosse uma ilha. Não é verdade. Basta olharmos o que está acontecendo pelo país. As situações reveladas em todos os cantos. Estão faltando, além de ventiladores mecânicos, monitores cardíacos, EPIs – e, na nossa cidade, precisamos estar preparados para uma maior necessidade de ocupação de leitos por Covid-19 – e medicamentos, como anestésicos e outras drogas importantes, para o tratamento de Covid-19 e de outras doenças.”

Ainda que os leitos sejam viabilizados, o Executivo encontra ainda dificuldades para a contratação de profissionais da saúde para o atendimento aos pacientes. “Quero dizer que de nada adianta termos os respiradores, ventiladores mecânicos, se não tivermos equipe, pessoal. A Prefeitura já buscou no mercado 80 profissionais médicos e não conseguiu a contratação. De nada vai adiantar se tivermos os leitos instalados se nós não tivermos equipes para trabalhar. (…) Não adianta termos 200 leitos de UTI, porque não temos 20 equipes para trabalhar. Sabemos que para 200 leitos de UTI, precisamos de, em média, uma equipe para cada dez leitos. Mas, como a escala não é de 24 horas, precisaríamos, na verdade, de quatro equipes para cada dez leitos, o que daria 80. Precisamos fazer o simples: isolamento social”, detalhou o prefeito.

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Risco de faltar medicamentos

Questionado sobre o estoque de medicamentos, Almas explicou que, caso haja um “aumento explosivo” de casos, faltarão drogas na rede pública. Entretanto, no momento, ainda há segurança quanto à quantidade de medicamentos disponível pelo Município. Conforme o prefeito, já há uma dificuldade em encontrar determinadas drogas no mercado, como anestésicos, além de insumos próprios para tratamentos como de cardiopatas e vítimas de acidentes vasculares cerebrais (AVCs).

“Ainda temos um mínimo de segurança, que não está garantida se houver uma explosão de casos. Se houver uma explosão por conta do aumento da transmissão, que já está acontecendo, estaremos aumentando, portanto, o número de pacientes críticos, graves, que vão necessitar, em algum momento, de medicamentos para intubação, de antibióticos para complicações inerentes ao próprio estado grave da Covid-19. Se houver um problema maior, se aumentarmos muito a ocupação de leitos, vamos pagar o preço. Inclusive, de não encontrar no mercado. Não é porque ninguém correu atrás; é porque o mercado não tem a oferecer. Várias e várias notícias têm sido publicadas em que donos de empresas que distribuem medicação afirmam que não conseguem comprar (medicamentos) da indústria para distribuir”, lamentou.

‘Não há como discutir flexibilização agora’, aponta Almas

O prefeito Antônio Almas (PSDB) voltou a rechaçar, nesta segunda-feira (22), em transmissão virtual ao vivo, a evolução da Macrorregião Sudeste, encabeçada por Juiz de Fora, para a “onda branca” do programa Minas Consciente. No entendimento de Almas, as próprias manifestações públicas do governador Romeu Zema (Novo) nos últimos dias apontam para a implementação de medidas mais restritivas ao convívio social no Estado de Minas Gerais, devido à interiorização da Covid-19. Até esta segunda, Juiz de Fora soma 50 vítimas fatais devido ao coronavírus, além de 1.298 casos confirmados e outros 6.628 suspeitos.

“Não há nenhuma possibilidade em mudar de ‘onda’. Nenhuma. Não precisa nem da minha avaliação. Não preciso nem olhar os nossos dados. Basta observar o sentimento expresso pelo governador Romeu Zema. Ele expressou, nos últimos dias, a sua grande preocupação com a evolução da doença em Minas Gerais e que ações mais restritivas – em suas próprias palavras – poderão ser tomadas. Não vejo nenhuma possibilidade em Juiz de Fora avançar. E a evolução para a onda branca é uma decisão tomada pelo Governo estadual, porque, como prevê o Minas Consciente, é embasada por dados da macrorregião”, adverte Almas.

Em comunicado publicado em suas redes sociais no último sábado (20), Zema admitiu a necessidade de implementar medidas mais duras no Estado, uma vez que “o número nos últimos dias está nos assustando”. “Não podemos relaxar. Fiquei sabendo que, em Araxá, onde sempre morei, apenas as atividades essenciais estarão funcionando a partir desta segunda-feira (22). Medidas mais duras vão se fazer necessárias. Por isso, eu continuo pedindo àqueles que podem: mantenham o isolamento. Fiquem em casa. Àqueles que precisam trabalhar, que façam o uso de todas as medidas possíveis para a sua segurança e para os outros também, o distanciamento, o uso de máscaras e também as medidas de higienização. Não podemos facilitar para esse inimigo invisível e imprevisível.”

Onda branca

Em caso de evolução para a “onda branca”, estariam aptos a abrir as portas em Juiz de Fora estabelecimentos vinculados a antiguidades e objetos de arte, armas e fogos de artifício, artigos esportivos e jogos eletrônicos, formação de condutores, produtos agrícolas, plantas e floriculturas, móveis tecidos e afins, e, por fim, atividades acessórias – como atividades de consultoria geral em gestão empresarial; de contabilidade, consultoria e auditoria; de imóveis próprios e atividades jurídicas.

Mais próximo do “lockdown” do que da onda branca

No entendimento de Almas, o Município de Juiz de Fora está, neste momento, mais próximo de retroceder ao “lockdown” – trancamento total, em que apenas serviços estritamente essenciais funcionariam – do que evoluir para a “onda branca”. De acordo com o prefeito, embora alguns cidadãos defendam o “lockdown”, o mecanismo não é uma panaceia, já que muitos nem o isolamento social têm respeitado.

“Não há como discutir flexibilização agora. Juiz de Fora está na ‘onda verde’. Na minha avaliação, não passaríamos, nos próximos dias, para nenhuma ‘onda branca’. (…) O nosso caminho atual é muito mais para retroceder da ‘onda verde’. E retroceder da ‘onda verde’ só tem um caminho: o ‘lockdown’. Agora, o ‘lockdown’ não é uma panaceia. Não adianta simplesmente decretarmos ‘lockdown’. ‘O prefeito de Juiz de Fora resolve decretar lockdown’. Fecho a cidade por 15 dias, mas o Estado do Rio de Janeiro está explodindo de casos. Daqui a 15 dias, abrimos, e as pessoas de lá voltam para Juiz de Fora”, projetou Almas.

Conforme Antônio Almas, a interiorização da Covid-19 em Minas era esperada pelos prefeitos desde o início da pandemia. “Há mais ou menos 30 dias, o governador tinha um olhar de muita tranquilidade sobre Minas em relação àquilo tudo que estava acontecendo em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Fortaleza, em Manaus etc.. E não estava errado. Mas existe uma dinâmica da doença e todos nós esperávamos que, em algum momento, ela iria interiorizar mais, que é o que está acontecendo. As cidades mineiras estão experimentando um aumento do número de casos nos últimos dias. Cidades que não tinham casos, logo registram dois, três. Cidades em que os casos aumentavam esporadicamente, agora crescem com mais frequência. Esse processo chama a atenção de todos nós, porque estamos caminhando para o momento mais difícil em Minas.”

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