Com a bancada feminina reforçada de forma inédita e representada por quatro estreantes no Legislativo, as pautas para os próximos quatro anos tendem a ser mais abrangentes, com projetos sociais e também voltados para as áreas de saúde, educação, transporte público e meio ambiente. Após vencer nas urnas em primeiro lugar, Cida (PT) já retornou para a coordenação do Sindicato dos Professores (Sinpro) e, na Câmara, pretende continuar lutando contra o “desmonte na educação”. Entre seus principais objetivos estão promover concurso público para o magistério – não realizado há mais de dez anos -, e “revogar o artigo nono” da legislação da classe, “que dá reajuste apenas para os anos iniciais, quebrando a carreira desses profissionais”.
“Nosso mandato será a serviço da luta dos trabalhadores em Juiz de Fora”, resume Cida, em entrevista à Tribuna nesta segunda-feira (16). “Demos um passo positivo, somos quatro mulheres. Lógico que temos a pauta feminina, como salários e jornadas iguais, mas não tem jeito de desmembrar, a luta de classe está inserida em tudo.” Ela atribui o sucesso nas urnas aos mais de 30 anos de trabalho. “Esses votos confirmam e solidificam a minha militância. Sinto responsabilidade maior, mas também mais legitimidade.”
Companheira de sigla e de luta, a jovem Laiz Perrut (PT) conquistou a cadeira que já havia tentado em 2016. “Esse novo formato da Câmara vem trazer um fôlego para nós mulheres. Na última eleição eram duas, agora dobramos. Como a única jovem eleita, tenho compromisso com a juventude, também com negros e negras, LGBTQI+ e pessoas com deficiência.” Além disso, ela quer levantar, junto a moradores, os principais problemas de cada região. “Nosso primeiro compromisso é implementar o gabinete móvel, que vai de bairro em bairro ouvindo as pessoas.” Outra pauta é a mobilidade urbana. “Pensar em uma nova licitação para o transporte público e em alternativas, com ciclovias. Também serei uma voz dos metalúrgicos e de todos os trabalhadores.”
Tallia (Psol) faz coro sobre a conquista feminina. “Isso representa um marco da virada que queremos fazer para pensar os espaços legislativos. Uma Câmara que seja mais conectada com as demandas dos trabalhadores e representativa para mulheres, LGBTQI+s, negros, pessoas com deficiência e para a juventude. Que esteja a serviço da democracia, da justiça social e de uma sociedade igualitária, seguindo no combate ao conservadorismo.” Segundo ela, a busca será por um espaço mais plural, diverso e inclusivo. “Seguiremos na luta de combate às opressões, pensando medidas urgentes que combatam a violência e valorizem nossas trabalhadoras, a juventude e todo o povo que constrói nossa cidade.” Direitos sociais, cultura e educação pública também serão prioridades, ela garante.
Também reforçando a bancada feminina, Kátia Franco (PSC) foi eleita com a principal bandeira de ser protetora dos animais. “É um privilégio muito grande ter a oportunidade de participar de uma legislatura, onde seremos quatro mulheres, algo histórico.” Ela também quer defender as vítimas da violência doméstica, principalmente com o aumento dessa modalidade criminosa durante este período de pandemia. “Pretendo, através do meu mandato, unificar e fortalecer a causa animal, não me esquecendo da área social, que lutarei com muito carinho e esforço.”
Passos da mãe
Outro estreante no Palácio Barbosa Lima, Júlio César Rossignoli (Julinho, Patriota), filho da vereadora Ana Rossignoli (Ana do Padre Frederico, Patriota), pretende seguir os passos da mãe, que completa seu terceiro mandato este ano. “Meu trabalho será focado nas pessoas idosas.” Sargento reformado da Polícia Militar, ele teve a terceira maior votação, recebendo o apoio de 5.328 eleitores. “A ajuda de todos foi muito importante.” Para ele, a renovação do atual Legislativo vai permitir discussões de novos projetos. “Haverá opiniões bem diferentes.”
Prestes a iniciar o terceiro mandato, Aparecido Reis (Cido, PSB) quer ampliar seu trabalho no Legislativo com foco nas questões voltadas à saúde e ao social. Ele diz ter ficado satisfeito com a segunda maior votação, totalizando 5.459 apoiadores. Sobre a nova configuração da Câmara, espera que as discussões continuem voltadas aos interesses da população, que depositou confiança nos antigos e em novos vereadores.
Mesmo sem conseguir contar com seu próprio voto, o médico pediatra Antônio Aguiar (DEM) foi reeleito para o terceiro mandato. “Senti mal na quinta, fiz teste para Covid-19 na sexta, e o resultado positivo saiu no sábado, por isso não pude votar.” Apenas com tosse e sintomas gripais, ele avalia que a eleição foi inusitada, tanto por sua questão pessoal de saúde, quanto pela pandemia no geral e pela ausência de coligação na disputa. “Isso obriga os partidos a terem maior representatividade.” Ele considera que a presença de mulheres ainda é baixa, mas já sinaliza mudanças. “O que parece ser tendência é o extremismo perdendo espaço. Sempre defendemos que a bandeira principal é o bem comum. E é em cima disso que devemos construir nosso mandato, colocando equipamentos públicos em áreas mais carentes, oferecendo não só escolas, mas lazer e oportunidades.” Leis ambientais, como o IPTU verde, e melhorias para os servidores públicos estão entre suas principais pautas.
Também seguindo para o terceiro mandato, José Márcio (Garotinho, PV) quer dar prosseguimento às principais causas. “Continuamos trabalhando por uma cidade sustentável, com planejamento urbano e mobilidade. É necessário que a Prefeitura mande para a Câmara discutir com a sociedade o detalhamento do Plano Diretor.” Além disso, quer levantar as questões dos servidores públicos e problemas estruturais da cidade, como saneamento. “Temos um plano que precisa ser revisto. Não podemos ficar a cada verão sempre tensos, prevendo algum alagamento, sem fazer nada.”
Reeleito, Juraci Scheffer (PT) também quer discutir a mobilidade urbana, questões de zeladoria e do cuidado com o patrimônio cultural. “A cidade está mal iluminada e mal cuidada. A Câmara vai ter que trabalhar muito ajudando o Executivo para melhorar a qualidade de vida da nossa população.” Entre suas pautas específicas, estão as defesas do consumidor e da pessoa idosa. “Vamos trabalhar a organização da cidade, que ficou sem planejamento durante muitos anos. Nossa proposta é que haja plano municipal de drenagem e que o plano diretor de desenvolvimento seja mudado. A pauta é bem extensa, porque há muitos problemas.”
Às vésperas de começar o segundo mandato, Carlos Alberto (Mello Casal, PTB) é outro que considerou a eleição atípica, pela quantidade de candidatos. “Quero trazer recursos para Juiz de Fora e dar continuidade ao trabalho, promovendo melhorias nos condomínios Minha casa, minha vida, e em postos médicos que precisam ser reformados.” A defesa da segurança pública permanece na frente, assim como propostas para o esporte, “que está muito a desejar no nosso município”.
Veterano, Vagner de Oliveira (PSB) diz que vai trabalhar ainda mais em prol da comunidade na sua terceira oportunidade como parlamentar, ouvindo as demandas das populações de áreas mais afastadas. “Entendemos que esta foi a aprovação do trabalho realizado nos últimos quatro anos.” Ele ressalta que a bancada feminina vai possibilitar trocas de experiências. “Essas pautas nunca foram esquecidas, mas agora se fazem mais representativas.”
Com o mesmo tempo de Casa, Nilton Militão (PSD) pondera que houve perdas de candidatos que desenvolveram trajetória positiva. “Mas temos expectativa que essa nova configuração vai desenvolver um bom trabalho também. Vejo com bons olhos, embora tenha sido uma eleição atípica.” Segundo ele, o PSD conseguiu alcançar seu objetivo. “Vamos atuar em parceria com o senador Carlos Viana para trazer recursos para Juiz de Fora em todas as frentes em prol de melhorias, principalmente na saúde, na educação e no transporte público.”
As experiências como diretor do Demlurb por quase seis anos e como morador da região, entre os bairros Santa Cândida e São Benedito, podem ajudar Tiago Bonecão (Cidadania) em sua estreia na Câmara. “No Demlurb, criei, há dois anos e meio, o projeto Pintando o Futuro, em parceria com o Estado para trabalho dos acautelados. Conseguimos reformar 18 escolas e cinco creches.” A ideia dele é ampliar esse trabalho com a mão de obra de detentos, inclusive qualificada, para outras frentes. “Sabemos que a Prefeitura está com problemas financeiros. Vamos precisar ter uma Câmara unida para colocar a cidade de volta aos trilhos, enxugando ao máximo o orçamento e trabalhando com mutirões. Nossa bandeira vai ser a valorização de todos os servidores públicos. Também queremos trazer novas empresas e mais receita para Juiz de Fora.” Como residente da Zona Leste, ele já trabalha com projetos sociais na comunidade, “tentando transformar o futuro das crianças”.
Para Bejani Júnior (Podemos), foi uma honra disputar a eleição, “defendendo o nome do pai”: “as bandeiras que carregamos são sempre sociais, voltadas à saúde e educação.” Ele afirma estar entusiasmado para começar o trabalho ao lado dos demais vereadores. “Teremos muito a contribuir para Juiz de Fora, temos que pensar no município como o lar que vivemos e onde queremos ver nossos filhos crescendo.”
Maurício Delgado (DEM) conta ter estado sempre envolvido com a área social e com esporte. “Não vamos abdicar de ser ferramenta do bem-estar de pessoas. Vamos fiscalizar realmente, sendo o mais coerente possível, e exercer todas as funções cabíveis, de comum acordo, para a população.” Para ele, houve, de fato, uma renovação na Câmara. “Parabéns pelas mulheres terem vindo com essa força tão grande. Isso é importante e necessário.”
André Luiz (Republicanos) considera que a renovação parcial na Câmara tem o seu lado positivo. “A experiência dos que se reelegeram, associada ao entusiasmo dos novatos, será boa para o Legislativo municipal. No decorrer do mandato pretendo manter um diálogo permanente com a população. Acredito que será um ano difícil pelo momento em que estamos vivendo. Mas vamos trabalhar duro junto ao próximo prefeito para o melhor para a nossa cidade.”
Atual presidente da Mesa Diretora, Luiz Otávio Fernandes Coelho (Pardal-PSL) tem expectativa de continuar apresentando projetos de interesse local, além de acompanhar de perto o trabalho do novo chefe do Executivo. “Esperamos que as pessoas que estão chegando na Casa também tenham compromisso, com foco voltado a retribuir a confiança dos eleitores.” Segundo ele, o volume de solicitações é muito grande, principalmente nas áreas de educação e saúde. “Vamos fazer tudo o que for possível para viabilizar tratamentos, exames de alta e média complexidade, enfim, os direitos da população.” Cobrar do Estado melhorias na segurança pública e zeladoria do Município também estão entre suas prioridades.
A Tribuna também tentou contato com os demais vereadores eleitos, Marlon Siqueira (PP) e João Wagner Antoniol (PSC) mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.