Há 20 dias para o primeiro turno das eleições 2014, as campanhas eleitorais entram em sua fase decisiva. E para muitos, as informações que circulam pela rede mundial de computadores ajudaram ou ainda podem ajudar a escolher os futuros representantes do Brasil. Como é o caso do jornalista e professor João Victor de Oliveira, de 32 anos, que se considera politicamente ativo na web, pesquisando desde o histórico dos candidatos até as propostas apresentadas durante a corrida eleitoral.
Nas redes sociais, como Twitter e Facebook, ele diz buscar interação com amigos e até mesmo com os próprios candidatos. “Ao mesmo tempo em que acompanho um debate na TV, tenho a oportunidade de visualizar tweets de jornalistas, políticos e eleitores de diversas partes do país. Dessa forma, sei o que um eleitor lá na Bahia ou no Amazonas, por exemplo, está pensando. Já no Youtube, posso rever os debates ou buscar entrevistas passadas dos presidenciáveis.” Quando questionado se a internet já o influenciou na hora do voto, João Victor afirma que sim. “Vejo uma preocupação muito grande durante a corrida eleitoral na escolha do presidente, enquanto que as campanhas para Senado e para Câmara dos Deputados têm um espaço bem menor. Democraticamente falando, acho que deputados e senadores têm um papel tão importante quanto o presidente da República. Por isso, utilizo a internet para me informar melhor também sobre estes candidatos e para tomar minhas decisões.”
Um outro diferencial da internet apontado pelo professor é a possibilidade do contato direto com os políticos e sua equipe de campanha. “Mencionei um candidato nas redes sociais e fui respondido. Às vezes temos a impressão de que eles (candidatos) são pessoas muito distantes. De repente, quando respondem uma mensagem, vemos que não estão tão longe assim e nos fazemos notar. Mesmo morando numa cidade do interior, a rede social me aproxima deles. E isso é um contato completamente diferente.”
Afinal, a internet pode mudar os rumos das eleições?
De acordo com o professor de marketing digital da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Márcio Ferreira, a resposta é sim. Para ele, a migração do público jovem para a internet se torna extremamente relevante nas campanhas políticas. “Analisando o fenômeno chamado de segunda tela, vemos que, durante um debate pela TV, por exemplo, os eleitores fazem comentários via smartphones, tablets, notebooks. Em maior ou menor grau, dependendo de quem esteja fazendo a postagem, ele será capaz de gerar engajamento e, de certa forma, ajudar na escolha política, principalmente daqueles que ainda estão indecisos.”
O professor do Instituto de Ciências Sociais da UFJF Raul Magalhães também responde sim para a pergunta. “A internet é um instrumento de multiplicação de opiniões. E as opiniões compartilhadas por amigos normalmente tendem a dar mais confiabilidade à informação. Isso não quer dizer que ela seja mais confiável que as dos meios tradicionais, mas que seu efeito tem um posicionamento muito mais abrangente”. Ainda segundo ele, o poder de mobilização, relativamente barato, pode trazer benefícios para os candidatos com menos espaço nas campanhas: “Agora qualquer computador em rede pode produzir conteúdo, dispensando carros de som e panfletos, por exemplo, que geram custos para o candidato.”
Mesmo mediada por computadores, de acordo o professor de marketing digital, as pessoas são as maiores influências no ambiente on-line: “A internet é só uma plataforma que permite o processo de interação. Quem influencia, neste caso, é a pessoa, alguém que consegue levar a informação para muitos, coisa que não era possível anteriormente”.
Ainda que recente nas campanhas eleitorais, o conteúdo multimidiático das plataformas pode decidir o rumo da eleição, positivamente ou negativamente: “Hoje, o candidato consegue enviar um vídeo, um áudio, uma imagem, etc. Imagina então um disparo em massa para todos os eleitores que possuem smartphone no Brasil, via WhatsApp, nos dias que antecedem a votação. Se for um ataque a determinado concorrente, por exemplo, pode ser que não dê tempo de ele reverter essa situação. Por ser difícil de ser fiscalizada pela Justiça Eleitoral, essas plataformas também podem ser um ponto negativo no processo democrático, abrindo precedente para que os candidatos cometam irregularidades. Por isso, é importante que o eleitor busque pluralidades de informações, cruzando dados com mais de um meio de comunicação. A partir daí, poderá formar a sua opinião.”
Já o cientista político e professor da Faculdade de Comunicação Social da UFJF Paulo Roberto Figueira Leal pondera. Ele defende a busca variada de informações políticas, mas lembra que há uma grande variedade de meios pelos quais os eleitores se informam, além da web. “É difícil ponderar sobre quais meios os candidatos conquistam mais votos. Há variados nichos, que se comportam de formas diferentes. Além dos meios de comunicação, é importante destacar que os eleitores se informam por outras vias, como o tradicional boca a boca, por exemplo.”
O que pode e o que não pode na web?
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a propaganda eleitoral na internet pode ser feita em sites (cujo endereço eletrônico seja comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado em provedor brasileiro), blogs, redes sociais, e-mails e sites de mensagens instantâneas, cujo conteúdo seja gerado ou editado por candidatos, partidos ou coligações ou de iniciativa de qualquer pessoa natural. Quanto às mensagens eletrônicas, elas podem ser enviadas para endereços cadastrados gratuitamente.
Por outro lado, é vedada qualquer propaganda paga na internet (como postagens patrocinadas no Facebook), assim como veiculação eleitoral em sites de pessoas jurídicas ou de Administração Pública. A violação deste artigo pode gerar multa de R$ 5 mil a R$ 30 mil.
Também é vedada a doação, cessão ou venda de cadastro de endereços eletrônicos. A pena prevista também varia de R$ 5 mil a R$ 30 mil. Caso não haja opção de descadastramento das mensagens, o candidato pode pagar R$ 100 por mensagem enviada indevidamente.
A política “zueira” também informa?
Assim como páginas e perfis oficiais dos candidatos, muitos são os chamados “fakes” na internet. Alguns, criados por opositores, buscam denegrir a imagem do concorrentes. Outros buscam simplesmente “trollar” falas ou comportamento dos políticos. Exemplo disso é a página “Eleições da Zueira“, cujos memes são compartilhados entre os usuários do Facebook.
A gerente de projetos Aline Tinoco é uma das usuárias da internet que confessa acompanhar esse tipo de postagem. “Geralmente as montagens são baseadas em alguma situação real. Por ver muitas pessoas compartilhando, acabo tendo interesse em pesquisar sobre o que se trata aquela brincadeira.”
No entanto, para Paulo Roberto Figueira Leal, não já poder de informação a partir deste tipo de conteúdo. “Não vejo uma mudança de voto a partir de uma brincadeira compartilhada na internet. Neste caso, acho que as discussões com maior embasamento dos usuários podem surtir mais efeito.”