Milhares de professores, técnico-administrativos em educação e estudantes tomaram, nesta quarta-feira (15), as ruas da região central de Juiz de Fora, em protesto contra os cortes feitos pelo Ministério da Educação (MEC) e a proposta de emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência. Convocado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), o ato unificado, apoiado ainda por outras entidades sindicais, paralisou o dia letivo das redes municipal, estadual e federal de ensino, atingindo também instituições privadas.
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Desde o início do dia, a manifestação articulou-se em três frentes: na UFJF, Cidade Alta; no Bairro Fábrica, Zona Norte; e no Parque Halfeld, em frente à Câmara Municipal, para onde todos os grupos se deslocaram. Concentrados em frente ao Paço Municipal, os manifestantes deixaram o Parque Halfeld às 18h pela faixa da Avenida Barão do Rio Branco no sentido Centro/Manoel Honório. Em seguida, adentraram a Rua Floriano Peixoto e, na sequência, pegaram a Avenida Getúlio Vargas. Como o destino final era a Praça da Estação, os participantes utilizaram a Rua Halfeld.
O trânsito na região central ficou comprometido ao longo do dia. Na Avenida Itamar Franco, os motoristas tiveram que esperar a passeata dos estudantes, que desceram do Campus da UFJF, passando pela Avenida Rio Branco até chegar ao Parque Halfeld. A Rio Branco ficou bloqueada na altura do Parque Halfeld; eram grandes as filas de coletivos de transporte urbano no corredor central. Alguns passageiros deixaram os veículos e seguiram os seus trajetos a pé. Entre 18h e 19h45, o trânsito no Centro ficou comprometido, sobretudo nas ruas Floriano Peixoto e Halfeld, e também na Avenida Getúlio Vargas, uma vez que, ao fim do movimento, a retaguarda da passeata adentrava a Praça da Estação.
O trajeto da marcha foi integralmente monitorado pela Polícia Militar (PM) e pela Guarda Municipal. A PM não fez estimativa do número de presentes. Segundo a organização, a mobilização foi uma das maiores já ocorridas em Juiz de Fora. Para se ter uma dimensão, enquanto a dianteira da passeata chegava à Praça da Estação, ainda havia manifestantes descendo a Rua Floriano Peixoto.
Conforme balanço da Secretaria de Educação de Juiz de Fora (SE), das 101 escolas da rede municipal, 90% aderiram à paralisação. Na Secretaria de Estado de Educação (SEE), levantamento, até o inicío da tarde, apontou funcionamento normal ou parcial de 80% das escolas. Da rede federal, o IF Sudeste paralisou as atividades. A UFJF, por outro lado, não informou se houve funcionamento integral ou parcial de institutos e faculdades.
Embora tenham mantido agendas próprias entre a manhã e o início da tarde desta quarta, o Sindicato dos Professores (Sinpro), o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) e o Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFJF, em conjunto com a Apes e o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino de Juiz de Fora (Sintufejuf), encontraram-se, durante o ato unificado, no Parque Halfeld, para aula pública sobre a Previdência.
Ainda que a mobilização tenha sido encabeçada pela educação, a pauta central era a PEC da reforma da Previdência, em análise na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, elaborada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Os cortes do MEC somaram-se às pautas quando a manifestação já estava em articulação pelas confederações. A manifestação é considerada preparatória para uma greve geral, a ser realizada em 14 de junho.
Ato unificado também rejeita a reforma da Previdência
Antes de sair em passeata, trabalhadores em educação, além de manifestantes de outras categorias, concentraram-se, entre 16h e 18h, em frente ao Paço Municipal, no Parque Halfeld. Como previsto, o ato unificado foi inaugurado, pouco depois das 16h, com aula pública sobre o modelo de Previdência implantado no Brasil. Posteriormente, às 17h15, a organização abriu espaço para falas. A princípio, falaram as entidades representativas de trabalhadores em educação e, em seguida, demais sindicatos, federações, lideranças partidárias e membros de movimentos sociais.
“É na rua que se constrói a unidade”, defendeu Flávio Bitarello, coordenador-geral do Sinpro, em discurso contra a reforma da Previdência e os cortes anunciados pelo MEC. O tom crítico ao Governo Bolsonaro (PSL) foi uma constante. Em seguida, o Sind-UTE, ao assumir o microfone, confrontou o que os manifestantes consideram constantes ataques à educação por parte do Governo federal. “O nosso papel é sair daqui e construir com a comunidade uma greve geral em 14 de junho. Se não formos para a rua, não vamos derrotar a reforma da Previdência”, afirmou Victória Mello, diretora da entidade. Marina Barbosa Pinto, presidente da Apes, criticou o corte de 30% imposto às instituições de ensino federal. “É na rua que vamos defender a educação e a democracia.”
Flávio Sereno, coordenador-geral do Sintufejuf, lembrou a presença do ministro da Educação, Abraham Weintraub, na Câmara dos Deputados, para explicar o contingenciamento orçamentário da pasta. “Enquanto o ministro da Educação está no Congresso, e o presidente, nos Estado Unidos, nós estamos nas ruas para defender a educação e o nosso futuro.” Também coordenadora-geral do Sinpro, Aparecida de Oliveira Pinto, representante do diretório nacional da CUT, ressaltou a união da juventude, de professores, de movimentos sociais e da população em geral. “Temos que dizer para este Governo: tire as mãos da nossa aposentadoria; tire as mãos da educação pública.”
O coordenador de finanças do DCE, Rafael Donizete, ressaltou a alta adesão da comunidade estudantil da UFJF. “Hoje, a universidade estava vazia. Quem estava indo para a instituição era para concentrar na Praça Cívica, de onde convocamos nossa marcha. Conseguimos reunir ali cerca de de dois mil estudantes. (…) Chegamos ao Parque Halfeld para nos unirmos ao ato unificado, e já estava muito grande, quase que não coubemos na praça.”
Três frentes de mobilização
Desde o início do dia, a manifestação articulou-se em três frentes. Ao passo que professores das redes municipal e estadual de ensino reuniram-se, a partir de 16h, em frente ao Paço Municipal, no Parque Halfeld, depois de assembleias para discutir pautas específicas às categorias, estudantes do IF Sudeste e da UFJF deixaram os respectivos campi em marcha à concentração. O Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro) realizou, às 10h, assembleia com os professores da rede particular e, às 15h, com o magistério municipal, ambas no Ritz Hotel. Já o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) reuniu os professores, também às 15h, na Escola Estadual Delfim Moreira, para reunião sindical.
Na Cidade Alta, estudantes da UFJF concentraram-se, às 14h, na Praça Cívica, no campus, com faixas e palavras de ordem. Pouco depois das 15h, os discentes deliberaram por caminhar até o Parque Halfeld, onde chegaram às 17h30. Eles desceram em passeata, através do acesso Sul da instituição, pelas avenidas Presidente Itamar Franco e Barão do Rio Branco. Na Zona Norte, por outro lado, os estudantes do IF Sudeste encontraram-se no Bairro Fábrica e saíram, às 14h30, em marcha até a região central. Fontes informaram que, próximo ao Bairro Morro da Glória, o grupo foi encorpado por docentes do Colégio João XXIII, vinculado à UFJF. Os discentes do IF Sudeste e do João XXIII somaram-se aos demais manifestantes por volta de 17h40.
Adesão das categorias
Entidades governamentais e sindicais discordaram quanto ao número de trabalhadores em educação envolvidos no movimento. Ao passo que a Secretaria de Educação de Juiz de Fora apontou 90% de adesão do magistério municipal na mobilização, o Sinpro estimou a participação de 95% dos docentes. Na rede estadual, 80% das instituições, conforme a Secretaria de Estado de Educação, mantiveram normalmente ou parcialmente as atividades. Das 3.620 unidades de ensino do Estado, 77% responderam à pasta sobre a adesão dos profissionais à manifestação. Em Juiz de Fora, contudo, conforme o Sind-UTE, nenhuma escola funcionou de maneira integral. Dos trabalhadores em educação do município, 90% aderiram à greve, conforme o sindicato.
Questionada pela Tribuna sobre a adesão de técnico-administrativos em educação (TAEs), estudantes e professores à greve, a UFJF disse ser impossível apontar quaisquer números, uma vez que a participação é espontânea. “A Administração Superior da UFJF respeita a mobilização de todos os segmentos representativos da instituição – estudantes, professores e técnico-administrativos em educação”, resume, em nota, a instituição. A exemplo da universidade, o Sintufejuf não mensurou a participação dos técnico-administrativos, ainda que estime grande adesão da categoria. A Apes, pelo contrário, informou à reportagem a adesão integral dos docentes de UFJF, IF Sudeste e Colégio João XXIII à Greve Nacional da Educação.
Dentre as instituições da rede particular, Academia de Comércio, Instituto Granbery, colégios Santa Catarina, Stella Matutina, dos Santos Anjos, Nossa Senhora do Carmo, Nota 10, Apogeu, Escola Internacional Saci e Paineira Escola Waldorf paralisaram suas atividades, conforme o Sinpro. Questionado, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Sudeste de Minas Gerais (Sinepe) informou que os números serão consolidados somente nesta quinta-feira (16).