No segundo debate do processo de escolha do novo reitor da UFJF, o primeiro realizado em Juiz de Fora, no Teatro Pró-Música, nesta quarta-feira (13), a infraestrutura da instituição se manteve no centro das discussões, principalmente em relação às obras inacabadas. Com a plateia composta por grupos de estudantes, técnicos e professores mobilizados pelas três chapas, o debate foi acalorado, com troca de farpas entre os concorrentes. Após os questionamentos e as respostas dos candidatos, a plateia respondia com aplausos e gritos. A transparência em relação aos contratos, licitações e obras executadas deu a tônica das discussões, com críticas tanto para a gestão do ex-reitor Henrique Duque (2006 a 2014), quanto para a ex-reitora e atual deputada federal Margarida Salomão (PT/ (1998-2006).
O debate foi dividido em quatro fases, sendo a primeira para a apresentação das chapas, a segunda para perguntas entre os candidatos, a terceira para perguntas da plateia e a última, para as considerações finais. Os candidatos dividiram o tempo com réplicas e tréplicas sob a mediação de dois integrantes da comissão eleitoral.
Durante o encontro, o candidato Rubens Oliveira, da chapa 2, chegou a questionar Marcus David, da chapa 1, sobre as promessas de mais transparência na universidade. David respondeu sobre o compromisso de fornecer diagnóstico da situação orçamentária e financeira da UFJF, assim como das obras inacabadas, além da criação de um portal da transparência com relatórios mensais. Em resposta, Rubens disse que a fala do candidato tratava-se de “um discurso que nem sempre correspondeu à prática”. Disse que Marcus David não apresentou qualquer planilha orçamentária durante a gestão de Margarida, da qual era responsável pelo orçamento. Por sua vez, Marcus David afirmou que o candidato estava “enganado”, já que foi diretor financeiro apenas na gestão do ex-reitor Renê Mattos, que implantou o sistema de distribuição do orçamento para as unidades acadêmicas.
Projetos questionados
Os ataques prosseguiram ao longo do debate. Questionado por Dimas Araújo, candidato da chapa 3, o candidato Rubens, que representa o grupo que hoje está à frente da Reitoria da universidade, afirmou que as obras na UFJF estão paralisadas devido a questionamentos de diversos órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas da União (TCU), sobre projetos e licitações. Além disso, afirmou que não houve repasse financeiro para quitar os compromissos, como no caso do HU. Ele também alegou existir “erros clássicos” nos projetos, como o da nova reitoria, já que a licitação foi feita sem a sondagem para a realização das fundações. Explicou que os erros estão sendo corrigidos para que as obras sejam retomadas. Dimas criticou Rubens sobre a falta de transparência sobre estes relatos, afirmando que ele teve um um ano e quatro meses para apresentá-los à comunidade. Rubens, por sua vez, chamou o adversário da chapa 3 de “mal informado”, alegando que apresentou um relatório completo das obras à Associação dos Docentes de Ensino Superior (Apes), incluindo as obras de Governador Valadares.
O embate por conta das obras voltou após Marcus David indagar Rubens sobre o HU. Marcus David chegou a afirmar que é preciso “abrir a caixa preta” do hospital. Rubens explicou que o questionamento do TCU se deu em relação aos aditivos no valor da obra, superando o percentual de 25% que é permitido por lei, chegando a 48%. Ele disse que “já há pessoas condenadas pelo TCU antes de sair o acórdão” e completou que a execução não ocorreu por falta de repasses durante ano de 2015. Marcus David classificou como graves as informações prestadas pelo candidato e questionou sobre a diminuição de leitos no hospital, além da “falta de esclarecimentos do contrato com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh)”.
Fadepe
Além do embate sobre as obras, o clima ainda esquentou quando trataram da Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Fadepe). Dimas afirmou que a fundação foi cerceada pela Reitoria durante a gestão de Júlio Chebli e Marcos Chein, sendo urgente retomar o apoio a projetos da universidade. Rubens rebateu, dizendo que o TCU entende que “as fundações estão mais para laranjas e caixas pretas”. “O que a Administração fez foi enquadrar a Fadepe nas corretas determinações dos órgãos de controle. A comunidade estava podendo tudo, sem fazer licitação dentro da Fadepe. Tem que se adequar agora. Por isso, acha que a Fadepe parou. Tem que se adequar dentro dos instrumentos de controle”, justificou.
A reportagem da Tribuna desta quarta, que trata sobre a reavaliação, pelo TCU, da prestação de contas de contrato firmado entre a Fadepe com a Organização Pan-Anamericana de Saúde (Opas/OMS) no valor de R$ 489.300, também foi citada por Rubens Oliveira, ao mencionar a necessidade de se repensar a UFJF.