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Em entrevista exclusiva, Antônio Almas fala à Tribuna sobre seus planos de governo

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A cerimônia de posse do novo prefeito de Juiz de Fora se encerrou por volta das 15h da última sexta-feira (6). “Toda posse é sempre uma lua de mel”, disse o novo chefe do Executivo, Antônio Almas (PSDB), momentos depois, quando chegou ao prédio da Prefeitura para assumir a cadeira pela primeira vez, às 16h, para o seu primeiro compromisso no novo mandato: receber a Tribuna para uma entrevista exclusiva, em que falou sobre seus planos de governo, suas proposições e, acima de tudo, apresentou-se aos juiz-foranos.

Fotos: Fernando Priamo

No gabinete pela primeira vez, Almas estranhou o fato de o ex-prefeito Bruno Siqueira (MDB) – que renunciou ao cargo na última sexta-feira para disputar as eleições em outubro – ter limpado as mesas e as gavetas. “Depois trago as coisas do meu antigo gabinete, no andar de baixo.” Já sentado na cadeira, o novo prefeito evitou falar de números e dados pontuais, uma vez que, mesmo diante de todas as especulações sobre o afastamento de Bruno, só foi comunicado da nova missão na última semana. Apesar disto, não se furtou de nenhuma das perguntas feita pela reportagem.

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Tribuna – Quando o senhor foi informado da renúncia de Bruno Siqueira? Quando o senhor começou a se preparar para a função? O senhor se considera preparado para o desafio?
Antônio Almas – Se achar completamente preparado é um pequeno equívoco. Temos que buscar sempre nos preparar para o dia seguinte. Mas, de certa forma, venho me preparando ao longo do tempo, até pelo exercício das funções de vice-prefeito. Na gestão passada, Bruno instituiu o Comitê Gestor e, no segundo mandato, o Comitê Estratégico. Já na primeira reunião do secretariado, ele me pediu que acompanhasse tanto um como outro. Fui nomeado para este comitê, que tem exatamente a função de pensar todas ações e compromissos que assumimos com a cidade através do plano de governo. De certa forma, isto já era uma preparação para o exercício do mandato de vice. Agora, as questões mais agudas, do ponto de vista da formalização (da renúncia de Bruno), aconteceram nesta semana.

– Em 2016, quando o senhor aceitou ser vice, passou pela sua cabeça, em algum momento, assumir a Prefeitura pouco mais de um ano de mandato?
– Com certeza que não. Seria demagógico dizer isto.

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– A chefia do Executivo nunca chegou a ser uma ambição?

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– Neste aspecto, não. Apesar de achar uma grande dignidade ser prefeito da cidade em que nasci, que escolhi para viver, criar meus filhos e manter relações de amizade. Mas dizer que, em algum momento, não pensei nisto enquanto iniciante de uma carreira política, lá atrás, quando em 1988 eu disputei a primeira eleição a vereador, não seria verdade. Mas depois que o tempo passou, o entendimento maior da política me fez perceber que a vaidade não é uma boa conselheira. Então, eu vim para este mandato dentro de uma discussão no PSDB, a partir do chão de fábrica, daquele militante que está na reunião toda segunda-feira. (O PSDB) começou a discutir meu nome em algumas situações, construiu-se meu nome, mas sempre com a perspectiva de ser vice. Na minha cabeça, eu seria vice até 31 dezembro de 2020.

– Bruno Siqueira afirmou que este é um projeto de governo coletivo que começou em 2013, ao lado do então vice Sérgio Rodrigues, e seguiu em 2017, já com o senhor envolvido na gestão. A manutenção do modelo executado até aqui é também o objetivo do senhor?
– É fundamental que a gente reafirme isto: é a continuidade de um projeto. Não poderia ser diferente, pois, se eu não me comportasse desta forma, estaria traindo toda uma discussão já estabelecida. Tenho convicção de que precisamos aprofundar isto. Até para aprofundarmos a própria democracia no Brasil. Os planos de governo e as discussões propostas durante a campanha não podem ser meras discussões de um processo eleitoral. Este projeto foi apresentado para a cidade, que o aprovou. Em uma linguagem mais simples, nós oferecemos um contrato de prestação de serviço a Juiz de Fora, e a cidade assinou conosco este contrato. Independentemente de quem seja o prefeito, este contrato está vigente e se encerra em 2020, com possibilidade de renovação.

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– Mas em que a troca no comando pode alterar o cotidiano da gestão?
– Acho que a característica principal que a gente possa trazer como novidade é uma preocupação de aprofundar a participação popular e o olho no olho. Isto por características pessoais minhas. Quero fomentar o dedo de prosa. O prefeito Bruno já exercia isto com grande maestria, nos encontros que fazia com a sociedade, como o próprio Bem Comum Bairros. Assim, a obrigação nossa, que acreditamos no projeto político em que a sociedade seja um agente transformador, é a de aprofundar estas relações. Agora, vou poder dar meu toque pessoal e espero conseguir avanços. Agora, do ponto de vista gerencial administrativo, a gente tem certeza do potencial de toda a equipe que foi montada pelo prefeito Bruno, mas que teve a participação de todas as forças políticas que compuseram o quadro partidário que o trouxe até aqui.

– Sendo um projeto de continuidade, o ex-prefeito Bruno terá algum papel na sua administração?
– Com certeza. Seria uma situação de absoluta arrogância se não assumisse que posso me valer tanto da experiência do prefeito Bruno, como da experiência do deputado Marcus Pestana (PSDB), como da experiência do ex-prefeito Custódio Mattos (PSDB), como da experiência, por exemplo, do Bebeto Faria (PP), que está na função de secretário de Agropecuária e Abastecimento e é ex-prefeito da cidade de Santos Dumont. Não vejo, em momento nenhum, que isto seja continuísmo. Muito pelo contrário. Mas vai caber a mim a responsabilidade de, após ouvir cada opinião, entender aquilo que é o melhor para a cidade.

– E como fica o secretariado? Já se especula que o PSDB pode ganhar mais espaço no primeiro escalão. Já temos uma vaga em aberto, que é a de João Matos, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo.
– Neste primeiro momento, posso dizer que será um processo de discussão e acompanhamento. O trem está nos trilhos e em movimento. Por prudência, não posso ter nenhum açodamento. O Governo está caminhando. Não é como uma transição que vem de um processo eleitoral, em que, às vezes, a força política que gerou este processo é diferente daquela que a antecedeu. Neste caso, por força da necessidade da discussão política, é necessário alterar algumas funções. Neste momento, tenho o pedido do secretário João Matos para deixar o governo por questões estritamente particulares. Vamos discutir nomes de um secretário que transmita sinais da continuidade da administração para o setor empresarial. A gente precisa trabalhar este nome sem pressa.

– Já há algum nome sendo trabalhado?
– O que estou discutindo e trabalhando são adaptações de rumo. Não tenho a pressa de chegar na segunda-feira e falar que vou mudar uma ou outra peça. Neste sábado, fiz uma uma reunião com o secretariado, para discutir projetos e identificar como estão os avanços de cada secretaria. Por mais que eu tenha participado do Comitê Estratégico, há ações que são muito pertinentes a cada pasta e, agora sim, preciso tomar pé delas. Temos que correr. Já o tempo, acho curto quando alguém se elege em outubro para iniciar o governo em janeiro. Eu não tive este tempo. Vamos deixar o trem nos trilhos para seguir sua caminhada. Aí, vamos vendo. Na próxima estação, a gente avalia.

– Podemos dizer que uma maior reforma no secretariado pode ocorrer após as eleições?
– O processo político pode determinar isto. Não tenha dúvida de que algumas alterações possam acontecer ao longo destes próximos seis meses. Inclusive, espero que isto ocorra com o aumento da nossa representação no âmbito estadual e nacional. O que precisamos hoje é de responsabilidade e que continuemos a administrar a cidade, de forma a garantir tranquilidade ao cidadão.

– Sabemos que o PSDB tem um projeto próprio na sucessão estadual. Provavelmente, deve lançar um nome ao Senado. Seja do próprio PSDB ou de outra sigla aliada. O próprio senador Aécio Neves é um nome cotado para tentar a reeleição. Enfim, possivelmente um candidato tucano pode ser adversário de Bruno Siqueira na disputa por uma das duas cadeiras. Como o senhor, um homem de partido, lidaria com tal situação?
– O interesse da cidade sempre deve estar acima de tudo. Hoje, Juiz de Fora e região demonstram a necessidade de que a nossa representatividade seja aprofundada. Eu espero que os desígnios da política nos levem a campos comuns. Se isto não ocorrer, o prefeito de Juiz de Fora terá a sensibilidade de manter sua vinculação partidária e seu espírito partidário, mas nunca esquecendo a importância de aumentar a nossa representatividade no cenário político mineiro e nacional.

– Quando o senhor era candidato a vice, o senhor disse em entrevista à Tribuna que sua principal bandeira na função seria defender avanços na área da saúde, até por sua formação como médico. O que o senhor considera necessário fazer para avançar neste setor tão sensível à sociedade?
– A primeira preocupação que sempre tive é que, se eu quisesse ser secretário de Saúde, eu teria dito ao prefeito Bruno e apresentado a ele a ideia, com certeza. Mas, como vice, apesar de ter a bandeira da Saúde por uma questão de formação profissional, tinha o entendimento de que não deveria ocupar qualquer cargo de secretário. Pois, assim, perderia exatamente o exercício da função de vice-prefeito. A Saúde está muito bem conduzida pela Elizabeth Jucá, nossa secretária e uma pessoa com grande formação na área de gestão, de grande sensibilidade e que tem avançado nos processos existentes. Tenho certeza de que não é a Saúde que queremos e de que não chegaremos a ela. Mas temos alguns programas sendo trabalhados e que vão ser apresentados no tempo certo à comunidade.

– Agora não seria o tempo certo?
– (risos) Ainda não, isto deve ser anunciado ao lado dela (da secretária de Saúde, Elizabeth Jucá).

– Tem algum projeto que o senhor queira implementar em seu mandato?
– Vou insistir nesta questão do aprofundamento de ferramentas que me permitam uma maior interlocução com a cidade. O prefeito Bruno já vinha buscando isto, e eu quero aprofundar ainda mais, pelas minhas próprias características. Do aspecto do desenvolvimento, tenho conversado dentro da Administração sobre como devemos ter um esforço maior para valorizar a cidade como um polo turístico. Até nosso nossos munícipes conhecem mal as potencialidades turísticas que temos. Na verdade, as pessoas não sabem dos museus que nós temos. Temos a dificuldade ainda com o Museu Mariano Procópio. Não vou esquecer disto, que a gente ainda não conseguiu realizar tudo o que desejamos, mas temos avançado. Temos o turismo rural e precisamos potencializar isto. Estamos nos tornando um grande polo cervejeiro e precisamos utilizar isto para atrair turismo gastronômico. Para pontuar algo na questão da Saúde, está sendo feita a busca da garantia de paradigmas de universalidade e qualidade. Estamos vivendo um momento de muitas dificuldades pelas circunstâncias econômicas em que o Estado se encontra. O Estado retém recursos do Município e interfere no dia a dia de nossas responsabilidades. Temos dificuldades econômicas, mas tenho a certeza da vontade de cada secretário, de cada participante da administração, de fazer a sua parte para que a gente possa vencer esse momento difícil.

– Desde sua primeira militância, passando por seu mandato como vereador pelo PSB, até chegar à Prefeitura pelo PSDB, como o senhor se define no tabuleiro político entre direita e esquerda?
– Há um desgaste na definição do que é direita e do que é esquerda, em uma polarização que pode levar o país a lugar nenhum. Por meu histórico pessoal, eu me colocaria como uma pessoa de centro-esquerda. Talvez um pouquinho mais à esquerda, porque o pensamento de esquerda que me consome vem da minha própria religiosidade e do meu compromisso de servir. Ainda no PSB, eu dizia que era socialista não por ter lido (Karl) Marx, mas por minhas primeiras atividades nas comunidades cristãs, em que tentávamos tornar tudo comum em uma experiência de socialismo.

– Sobre a questão da segurança pública, o ex-prefeito Bruno Siqueira sempre deixou claro a necessidade de parcerias com o Governo do estado, para incrementar ações como câmeras de segurança e ampliação de efetivo de policiais. Nesta área, o senhor pretende manter esta mesma política?
– Não vejo como ter uma posição diferente da do prefeito Bruno. Ele sempre falou em buscar parcerias com Governo do estado, isto pela situação de violência que temos hoje, que nos obriga a ações emergenciais. Mas ele nunca se descuidou da área social, que é o melhor caminho para buscar uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais fraterna pelas ações que o poder público pode desenvolver. Saber disto é a minha grande satisfação, poder ter a possibilidade de assinar um documento que pode ajudar a melhorar a vida de muitas pessoas.

– Falando em parcerias com o Governo do estado, o senhor prevê algum problema de relação institucional com Belo Horizonte pelo fato de o senhor ser do PSDB e o governador Fernando Pimentel do PT, partidos que têm tido papel antagônico nas discussões estadual e nacional?
– Espero sinceramente que não. Acima de partidos, devem existir homens públicos responsáveis. É o governador do Estado e, neste estado, também está Juiz de Fora. Então, ele não não poderá, como homem público, deixar de olhar Juiz de Fora pela legenda do partido que hoje ocupa a cadeira de prefeito.

– O senhor já se inteirou de como irá encontrar as finanças do Município? A política de aperto de cintos deve ser mantida?
– Não vou te falar de números. Mas posso falar de esforços que a Administração tem feito. O secretário da Fazenda, Fúlvio Albertoni, tem sido um guerreiro neste processo de buscar ações que possam melhorar arrecadação municipal. Além do secretário, temos toda uma equipe e os comitês Gestor e Estratégico, que têm feito esforços para levantar situações objetivas para o aumento da arrecadação. Temos feito um grande esforço, por exemplo, para garantir o pagamento do servidor da Prefeitura e, com certeza, iremos buscar esta meta até o final do Governo. Os servidores e os nossos parceiros podem ter ser certeza de que buscaremos resolver cada problema.

– Neste sentido, prefeito, tivemos negociações salariais muito duras entre Prefeitura e servidores nos últimos anos, com repetidas ocorrências de greves dos professores, por exemplo. Como o senhor imagina esta relação em seu futuro governo?
– Acho que o diálogo impõe a necessidade da verdade de ambos os lados. Temos números que nos levam a, responsavelmente, nem sempre poder atender a todas as reivindicações colocadas pelos nossos servidores através dos seus sindicatos, que são legítimos. Não podemos ter a irresponsabilidade de oferecer aquilo que não podemos cumprir. Do ponto de vista dos servidores, queremos que os números possam ser vistos fria, apartidária e apoliticamente, para que a gente possa construir alternativas que sejam viáveis para o servidor. Em uma negociação salarial, é muito fácil dar um percentual a mais sem responsabilidade e sem se preocupar sobre como isto pode impactar o processo de forma que, lá na frente, possa resultar em atrasos ou parcelamento dos pagamentos.

– Como o senhor imagina sua relação com o Poder Legislativo?
– O respeito, para mim, é uma palavra importante na nossa vida pessoal e familiar. Por exemplo, quando se quebra o respeito entre pai e filho, quebra toda a relação familiar. Então, a questão do respeito é palavra de ordem. Eu vou respeitar sempre o Poder Legislativo, até por ter a consciência de que fui membro do Poder Legislativo e me sinto muito honrado disto. Tenho um carinho enorme pela Casa. Agora, em todas as circunstâncias que forem possíveis, me sentirei muito à vontade em voltar lá. A grande marca deve ser a do respeito entre os poderes.

– Qual o maior desafio à frente da PJF?
– O maior desafio é chegar ao final da administração com a certeza do dever cumprido. Esta certeza virá pela garra, pelo trabalho cotidiano, por não deixar de fazer aquilo que é meu dever, pela austeridade e pela manutenção da conduta de transparência construída pelo prefeito Bruno Siqueira. Quero garantir os princípios de legalidade e de honestidade que sempre deve ser a marca do servidor público.

– A possibilidade de tentar a reeleição já passou pela sua cabeça?
– Este é um processo que terá que ser construído com a composição partidária que garantiu o segundo mandato deste projeto. Política para mim não é pessoal, mas coletiva. Caso haja esta construção coletiva, com certeza vamos avaliar a possibilidade, no momento certo. Hoje, o meu compromisso é cumprir o mandado para o qual eu fui eleito até 31 de dezembro de 2020.

– Quem é Antônio Almas?
– Antônio Almas é morador da Zona Norte. Nascido na cidade e apaixonado por Juiz de Fora. Uma pessoa que sempre buscou, no exercício da sua vida profissional, ajudar as pessoas. É este Antônio que quero transportar para o exercício do mandato, de forma a ser solidário com o sofrimento daqueles que têm as maiores dificuldades na sociedade. Ser solidário também com aqueles que querem empreender e têm dificuldades. Mesmo com aqueles que pensam diferente de mim. Mesmo com aqueles que vão usar rede social para as críticas. Este é um problema que todos os administradores enfrentam. As cobranças, às vezes, são injustas, pois as pessoas não conhecem todas as dificuldades do processo. Eu sei que este é o maior problema que eu trouxe para minha família. Mas, mesmo assim, com estes risco, eu que quero servir Juiz de Fora.

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