Juiz de Fora voltou a figurar no mapa de cidades que sediaram manifestações contrárias ao Governo do presidente Michel Temer nesta sexta-feira (30). Chamada de greve geral, a mobilização foi convocada por centrais sindicais e pelo Fórum Sindical e Popular de Juiz de Fora e durou cerca cinco horas. Entre a manhã e o início da tarde, o ato chegou a paralisar concomitantemente o fluxo de veículos particulares e coletivos nas avenidas Rio Branco e Getúlio Vargas, duas das principais vias juiz-foranas, por cerca de 40 minutos, comprometendo o trânsito na região central, com reflexos em outros pontos da cidade. Ao final do evento, representantes do Fórum Sindical estimaram a presença de até dez mil pessoas no protesto que também pediu o fim das discussões das reformas trabalhista e da Previdência que vêm sendo debatidas pelo Congresso Nacional e a realização de novas eleições gerais pela via direta. Como nos últimos protestos, a Polícia Militar não avaliou o número de presentes.
Ainda com concentração tímida na Praça da Estação, a mobilização teve início às 9h. Uma hora depois, quando o número dos presentes já se tornara mais significativo, representantes das mais de 50 entidades, entre sindicatos, movimentos estudantis e sociais, iniciaram suas falas e se revezaram no microfone de um dos dois trios elétricos posicionados no local. Por volta das 11h, o grupo seguiu em marcha pela Avenida Francisco Bernardino. Em seguida, a passeata percorreu a Rua São Sebastião e chegou à Avenida Getúlio Vargas meia hora após o início da caminhada. No local, as falas foram retomadas. Durante os discursos, a organização anunciou no caminhão de som a notícia de que o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia derrubado o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB) das funções parlamentares. A decisão do ministro causou indignação e mudou o roteiro da passeata, que, inicialmente, seguiria pela Getúlio Vargas, passaria pela Rua Halfeld e retornaria à Praça da Estação.
Após deliberações, os presentes resolveram seguir pela Avenida Rio Branco, que já tinha suas três vias fechadas por um grupo que havia se separado da manifestação. Assim, os caminhões de som seguiram para a principal via da cidade e trafegaram pela pista dos ônibus até o cruzamento com a Rua Halfeld, onde a ação foi encerrada por volta das 13h20. Ao todo, a marcha durou pouco mais de duas horas, e o trânsito na Avenida Francisco Bernardino ficou fechado por manifestantes por cerca de 30 minutos; na Getúlio Vargas, por aproximadamente uma hora; e nas três faixas da Avenida Rio Branco por 40 minutos, seguidos por mais 40 minutos de fluxo comprometido na pista central e na pista sentido Centro/Bom Pastor.
Ônibus circularam normalmente
Ao contrário do que ocorreu na última greve geral, no dia 28 de abril, motoristas e cobradores do transporte coletivo urbano da cidade não aderiram ao movimento. Assim, os ônibus circularam na manhã desta sexta-feira. O fluxo de veículos, no entanto, não pode ser considerado normal em alguns momentos, por conta do fechamento de vias centrais, o que gerou uma grande fila de coletivos na Rio Branco, por exemplo. Segundo a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (Settra), para evitar maiores reflexos, foram feitas mudanças pontuais nos trajetos de quase todas as linhas durante o período em que o trânsito permaneceu comprometido.
De acordo com os organizadores, entre as categorias que cruzaram os braços parcial ou integralmente durante o dia estão professores das redes estadual, municipal e particular, servidores públicos municipais, bancários, policiais civis, docentes e técnico-administrativos da UFJF e profissionais dos Correios.
Balanço
Ao final, quando a marcha já havia chegado ao Parque Halfeld, representantes de centrais sindicais fizeram um balanço da mobilização. Pela CUT, Aparecida de Oliveira Pinto convocou os manifestantes a se manterem permanentemente mobilizados e considerou que direitos históricos dos trabalhadores estão ameaçados desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “A intenção (do impeachment) não era só a de tirar um governo. A intenção era de retirar direitos dos trabalhadores”.
Pela Central de Sindicatos Brasileiros (CSB), Cosme Nogueira enalteceu a amplitude de segmentos representados no ato, citando a presença de José Luiz Guedes, ex-deputado federal e ex-líder sindical nos anos 1960, quando foi perseguido pela ditadura militar, e da juventude.
Cosme também deu tom local ao ato com críticas à gestão do prefeito Bruno Siqueira (PMDB) relacionadas a questões como a atual negociação salarial mantida pelos servidores e problemas relacionados à frota de caminhões do Demlurb.
BR-267 fechada
Antes do ato na Praça da Estação e nas vias centrais de Juiz de Fora, um grupo de manifestantes fez uma ação na BR-267, no Bairro Igrejinha, Zona Norte de Juiz de Fora. De acordo com informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), por volta das 5h30 desta sexta (30), manifestantes fecharam a via, e o congestionamento chegou ao entroncamento com a BR-040. Policiais tentaram negociar a liberação da via, o que ocorreu por volta das 8h30.
Em Minas Gerais, outras rodovias foram interditadas na manhã desta sexta, durante a agenda nacional de ações contra o Governo federal. Entre elas, a BR-265, entre São João del-Rei e Lavras, e a BR-135, que foi fechada pelo MST próximo a Bocaiuva e Diamantina. A MG-050 também chegou a ficar fechada durante a madrugada, na altura de Divinópolis.
* Colaborou Michele Meireles