Uma luta de Davi contra Golias. Foi assim que a jornalista Valéria Monteiro classificou sua empreitada pessoal para disputar a Presidência da República nas eleições de outubro. Filiada ao PMN desde janeiro, Valéria faz uma peregrinação pelo país acompanhada apenas de um estrategista político, romaria que chama de Caravana da Coragem. A trajetória teve início no último dia 23 de fevereiro, partindo de Campinas. Esta semana, a pré-candidata esteve no Rio de Janeiro e depois passou por Juiz de Fora, nesta quinta-feira (1º).
Foi uma visita mais de reminiscências do que propriamente uma agenda de campanha. “Tenho uma ligação afetiva com a cidade. Uma das melhores amigas da vida, que já partiu e deixou muitas saudades, a Beatriz Thielmann, era daqui”, afirmou a ex-apresentadora do Jornal Nacional – foi a primeira mulher a integrar a bancada do telejornal – e do Fantástico, em visita às redações da Tribuna e da Rádio CBN Juiz de Fora. Depois, ela seguiu para Belo Horizonte, sua cidade natal, onde irá fazer o lançamento de sua pré-candidatura em solo mineiro neste sábado (3).
Em entrevista exclusiva à CBN Juiz de Fora, que será veiculada por volta das 9h desta sexta-feira (2), Valéria Monteiro evitou levantar bandeiras políticas. Segundo ela, que projeta visitar cerca de 30 cidades neste primeiro momento, esta é uma etapa de ouvir a população, antes de formular e apresentar de fato suas propostas para o país.
“Tenho algumas bandeiras políticas, mas, nesta primeira fase de pré-campanha, estamos viajando para escutar e para compreender os anseios e as demandas da população. É um momento mais de escutar do que de falar”, classificou a pré-candidata, que defende a mensagem de que “é de que é possível fazer diferente” ao convocar os eleitores a participar da discussão política. “O descrédito é tamanho que há possibilidade de que tenhamos 50% do eleitorado sem intenção de votar. Isto é muito grave. Não existe espaço vazio na política. Se a gente não partir para uma renovação significativa, vamos permanecer nesta mesma situação de desgaste, de empobrecimento e de aprofundamento das desigualdades”, avaliou.
Neste sentido, Valéria se posiciona como uma pré-candidata do “centro humanista” – sem radicalismos, pontua – e como uma via de reação aos políticos e às práticas políticas consolidadas. “Os políticos tradicionais e as raposas velhas não estão dando conta do trabalho. Não entendem que eles estão lá para representar o povo. A enganação é generalizada. Acho que posso contribuir. Inclusive, vindo da área da comunicação e do jornalismo, contribuir para que a gente consiga compreender todo o processo, desde a enganação até a constatação de que o bolso da população está cada vez mais vazio. Me identifico como a única novidade nesta campanha. Uma campanha feita sem investimentos e grandes financiamentos. Queremos colocar este debate. Não temos nenhum apoio do mercado financeiro, contrariamente a todos os adversários nesta pré- candidatura.”
Filiação
Sobre a filiação ao PMN, oficializada no último dia 12 de janeiro, a jornalista afirmou se tratar de uma escolha pessoal. “Escolhi o PMN exatamente por ser um partido pequeno. Não procurei os maiores partidos, pois eles representam exatamente a origem da descrença de todo eleitorado brasileiro”, pontuou. Valéria também minimizou o histórico de desempenhos fracos do partido em disputas presidenciais.
Nas duas vezes em que lançou candidatura própria à Presidência – em 1989, com Celso Brant, e em 1998, com o general Ivan Frota -, a legenda não conseguiu angariar sequer 1% do eleitorado. “Na época do Celso Brant, nem na época do general, existia a internet. Hoje, a gente consegue conversar abertamente com o eleitor sem a dependência de horário de TV, por exemplo”, minimizou a ex-apresentadora. A entrevista completa com a jornalista e pré-candidata à Presidência, Valéria Monteiro, será veiculada por volta das 9h05 desta sexta-feira, na Rádio CBN Juiz de Fora.
Jornalista questiona gastos de campanha
A definição da jornalista Valéria Monteiro de se lançar na disputa presidencial foi anunciada ainda em dezembro, quando a ex-apresentadora não havia definido sequer sua filiação partidária. “Um dia levantei desesperada, principalmente com a descrença de todos que me cercavam e com a falta de ânimo e de luta. Me senti na obrigação de fazer alguma coisa, e que as pessoas pudessem utilizar a minha voz para representar esta voz que esta sendo totalmente negligenciada pelos poderosos”, contou.
“A Caravana da Coragem é constituída por mim e por Alessandro Nogueira. Ele dirige. É estrategista. Motorista. Coordenador da minha pré-campanha. É uma pré-campanha sem dinheiro. Queremos entender e saber se é possível fazer uma pré-campanha com pouco dinheiro. Saber o porquê de os políticos gastarem tanto nas campanhas e pré-campanhas”, questionou. Segundo Valéria, além do olho no olho com o eleitorado neste primeiro momento, ela tem aproveitado as incursões que já passaram por São Paulo, Rio de Janeiro e, agora, Minas Gerais, para dialogar com as bases partidárias do PMN.
Durante a entrevista, a jornalista também esboçou seus pontos de vista sobre alguns pontos da atual política brasileira. Fez críticas ao decreto de intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro assinado pelo presidente Michel Temer (MDB) e também questionou a proposta de reforma da Previdência proposta pelo Governo federal.
Intervenção e reforma
“Existe um fundo de marketing nesta intervenção. Aliás, todos os governos federais desde a redemocratização têm governado pelo marketing. Entendo a sensação de segurança que esta intervenção pode causar aos cariocas. Mas também acredito que não é uma solução de médio e longo prazo. É mais um tapa-buraco. Mais uma política para inglês de ver. Enquanto a gente não criar políticas mais estruturantes e criar agências especiais de proteção de fronteiras que possam controlar o trafico de drogas, armas, contrabando e até imigração, não adianta colocar o Exército nas ruas”, avaliou a pré-candidata.
Sobre a reforma da Previdência, Valéria considera que ela não seja necessária da forma como foi apresentada. “O país não é uma empresa e deve ser olhado com uma orientação de bem-estar social. Desde a redemocratização do país, é o mercado que ocupa as pastas da área econômica. Não vejo que a reforma da Previdência, do jeito que ela veio, seja algo necessário. Parece uma forma de manipulação de números que são altamente enganadores no país. A gente não vive no mesmo país que as pessoas do mercado financeiro. Esta distância entre a população e os governos está cada vez maior”, finalizou, pontuando ainda que a intervenção no Rio de Janeiro poderia ser “uma cortina de fumaça pelo fato de que a reforma não deveria ser aprovada”.