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Tem Base! Larissa Oliveira possui trajetória de pódios e obstáculos contada pelos pais

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Da infância na Rua Halfeld aos pódios em todos os cantos do mundo. Das primeiras braçadas no Bairro Cascatinha às dez medalhas em pan-americanos, recorde absoluto na história da participação brasileira nestas competições. No meio de uma trajetória de centenas de conquistas nas piscinas, apreciadas pela Tribuna na sua casa, em Juiz de Fora, a nadadora Larissa Oliveira superou os mais diversos obstáculos, mas sempre com roteiros de um denominador comum: o apoio da família. E no segundo episódio da série Tem Base!, Elizabeth e Gilson de Oliveira, os pais da atleta, contam detalhes de toda a caminhada da filha até se tornar referência no esporte mundial, em entrevista feita antes da pandemia.

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Desde pequena, Larissa já mostrava sua paixão pela água. Os benefícios da natação fizeram os pais da futura representante da seleção brasileira unirem o útil ao agradável. “Com seis meses nós viajamos para Caldas Novas (GO), e ela já era louca por piscina. E com um ano, ela começava a querer dar as primeiras braçadas. Resolvemos, então, colocar a Larissa na natação. Até porque ela era uma criança que, geneticamente, herdou a família, que tem muita rinite, sinusite, asma. Ela tinha muita otite, amigdalite, todas as ‘ites’. E a gente optou em colocar a Larissa na natação para ver se melhoravam os quadros de infecção de vias aéreas superiores. E esse foi o caminho. Ela melhorou muito”, recorda a mãe Elizabeth, pediatra.

Larissa começou na Academia Gold, do Bairro Cascatinha, e, com 2 anos partiu para o Granbery. “Começou com a Carla, professora do colégio, e ela nadou durante muitos anos ali. Um dia a Carla me chamou: ‘Olha, a Larissa ganha todas as competições internas e já está com 7 para 8 anos. Pensa em levar ela lá para o Clube Bom Pastor.’ A gente falou que se um dia ela manifestasse a vontade, a gente levaria. Com 8 anos, isso aconteceu”, conta Elizabeth.

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Larissa foi treinada, então, por Christian Marini e, depois, por Gerson Oliveira. Aos 8 anos, eis que um momento marcaria a vida da família pelo comportamento de Larissa. “Teve uma competição que foi muito importante, que apareceu na TV naquela época, lá no Tupynambás. No início só poderiam nadar crianças de 9 anos, e ela tinha 8. Mesmo assim me pediu para levar ela para fazer a inscrição. Me lembro que falei com a atendente e ela falou que não podia. Aí a Larissa: ‘Não, mas eu já vou fazer 9 anos!’ Ela era muito insistente. Aí a moça foi conversar com o diretor e disse que se eu assinasse autorizando, ela poderia participar. Ela nadou, ganhou a competição, uma das primeiras dela antes de entrar para a seleção do Bom Pastor, realmente”, relata a mãe, orgulhosa. “Esse momento foi muito importante. Daí em diante, dos 9 anos, ela pode se federar e realmente viu que era isso que ela queria.”

Larissa Oliveira conquistou sete medalhas no Pan de Lima, chegando a dez em sua carreira por estas competições (Foto: Wander Roberto/COB)

O Pinheiros e a distância

Após o Clube Bom Pastor, ainda na adolescência, Larissa passou a defender o Botafogo. Pouco depois, vestiu a camisa de outro alvinegro, o Corinthians, time de coração do pai. Nestes dois clubes, contudo, ela ainda conseguiu se manter em Juiz de Fora. “Ela passou para Educação Física na Universidade Federal de Juiz de Fora, o que ela queria, mas veio a grande dificuldade porque tive que deixar ela ir embora. Era o sonho dela”, lembra Elizabeth.

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Entre as propostas na mesa de Larissa, com o destaque nas piscinas, a família optou pelo Esporte Clube Pinheiros (SP), preterindo o Minas Tênis Clube em uma “decisão muito difícil”. “Fomos conhecer os clubes, e acho que a estrada de JF a BH fez eu decidir por São Paulo, porque era uma estrada muito perigosa na época, eu ia rezando daqui até lá. E pedi a Deus para me ajudar nessa decisão. Vi muitos acidentes na ida para Belo Horizonte. Já para São Paulo foi uma viagem super tranquila, o pessoal do Pinheiros foi muito acolhedor, surpreendente mesmo a recepção, e senti segurança em deixar a Larissa com o Alberto (da Silva, técnico do Pinheiros)”, explica a mãe, que relata ter ficado com o coração apertado nos primeiros meses sem a nova atleta do Pinheiros.

“Foi difícil ficar aqui em casa sem a Larissa. Eu estava sempre acostumada com ela e a Rhaissa sempre juntas, minhas duas filhas. Foi muito difícil. Tinha dia que eu sentava, chorava… mas nunca falei para ela, porque eu sabia que era o que ela quer, e não podia ser egoísta. Tinha que deixar a minha filha seguir o seu rumo. Mas graças a Deus conciliei meu trabalho, que também era difícil pelos plantões. Deu tudo certo. Agradeço a minha mãe (Vera Alice), que me ajudou bastante e foi morar um pouco com ela, meu braço direito. E têm pessoas que ajudam muito a Larissa em São Paulo, como a Cleuza, ajudante dela, terceira mãe da Larissa, porque a segunda acho que é a minha mãe”, sorri.

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Apesar da saudade, a família mantém a rotina de ver Larissa sempre que pode. “Temos, por norma, visitá-la com frequência. Em síntese, de 15 em 15 dias vamos a São Paulo para acompanhá-la, ver como está passando. Damos inteiro apoio pra ela. Sozinha é muito difícil essa trajetória. O sucesso dela se dá pela dedicação e pela família”, reitera o pai, Gilson, médico endocrinologista.

Olimpíada do Rio, uma “alegria incontida”

Com o passar do tempo, Larissa seguiu ocupando os pódios por todo o mundo. Em 2015, no Canadá, por exemplo, conquistou uma medalha de prata e duas de bronze na disputa dos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Tudo isto consolidava a nadadora juiz-forana até a realização do sonho de todos os atletas do planeta: uma vaga em uma olimpíada. Não fosse o bastante, a juiz-forana ainda atuaria perto de casa, no Rio de Janeiro, em 2016.

“Quando ela conseguiu o índice para a Olimpíada do Rio foi uma alegria incontida. Não dá para definir em poucas palavras. A emoção é muito grande. A satisfação de ter uma filha em uma olimpíada é muito grande. Só mesmo sentindo que podemos traduzir em só uma palavra: alegria”, conta o pai Gilson.

A cada vitória, conforme Elizabeth, a filha “se transforma, fica muito feliz. Ela se cobra muito. Quer sempre estar no pódio com as melhores marcas. E foi muito importante quando ela conseguiu o índice pra Olimpíada de 2016. Foi uma vibração enorme de todos. E também foi importante para Juiz de Fora.”

Da esquerda para a direita, Gilson, Rhaissa, Larissa e Elizabeth, parte da família da nadadora (Foto: Reprodução Instagram)

2017 de acidente, incertezas e união

Menos de um ano após a Olimpíada do Rio, em março, ninguém poderia esperar que Larissa passaria por um dos maiores obstáculos de sua vida. Em São Paulo, quando estava em seu carro, a atleta, então com 24 anos, foi surpreendida com a queda de uma árvore, que acabou atingindo sua perna direita. Um drama começava para ela e sua família. “Foi uma batalha difícil realmente. Me lembro até hoje, era uma quarta-feira, eu estava saindo de um plantão com muitos atendimentos de urgência, cansada. De repente, minha outra filha, a Rhaissa, me chama dizendo que a Larissa estava me ligando e querendo uma ajuda. Liguei para ela, que disse: ‘Mãe, sofri um acidente, mas não é nada grave. Uma árvore caiu no meu carro.’ Quando ela falou isso, eu imaginei ela saindo do treino e que essa árvore estava no carro, então era só pedir o reboque. Aí ela falou que precisaria levar uns pontinhos. Então fiquei assustada”, começa a contar Elizabeth, emocionada.

“Fui para São Paulo e no hospital tomei ciência da gravidade. Vi que ela tinha perdido a (veia safena), vasos linfáticos e sensitivos e o (músculo) adutor longo. Sei que não foi fácil, os médicos fizeram o melhor, tiveram que, realmente, fazer uma retirada da parte do músculo que já não ia ter como ficar, e ela acabou sem o adutor longo”, explica Elizabeth, que passou quase duas semanas ao lado de Larissa, internada.

A filha, então, começou a perguntar sobre quando voltaria a poder nadar. “Foi um momento difícil, porque ali eu não tinha a noção do que falar para ela. E mais de 200 pontos naquela perna… foi uma dificuldade. Não falava para o meu marido o que estava acontecendo, só a Rhaissa sabia e não queria deixar eu falar para o pai com medo dele passar mal. Mas aguentei firme, tive muita fé. E quando eu perguntava, só diziam que ela voltaria a nadar, mas não sabiam se ela conseguiria a nível de competição. Era tudo uma incógnita. E ainda tinha risco de necrose, de uma nova cirurgia”, relembra a mãe da atleta, respirando fundo.

Larissa se recuperou e voltou fortalecida às águas. “Ela tem uma cicatriz na perna direita que ficou em forma de L. L de Larissa. A ironia do destino. Daí para frente ela foi sucesso. E o objetivo central dela, agora, é a Olimpíada no Japão”, destaca Gilson.

Larissa sonha, agora, com a Olimpíada de Tóquio, adiada em 2021 por conta da pandemia de Covid-19 (Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br)

O Pan de Larissa Oliveira

Pouco mais de um ano depois, Larissa já voltava com tudo aos pódios pelo Brasil. A atleta do Exército Brasileiro e do Pinheiros foi até Lima, no Peru, disputar uma competição que marcaria seu nome ainda mais na história do esporte nacional.

Larissa obteve sete medalhas no evento, sendo uma de ouro (4x100m medley misto), duas de prata (4x100m livre e 4x100m livre misto) e quatro de bronze (100m livre, 200m livre, 4x200m livre e 4x100m medley). Assim, a juiz-forana se tornou a brasileira com mais pódios em uma única edição do Pan e, somando com os três pódios de Toronto 2015, a desportista com maior número de medalhas no evento – dez ao todo.

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“Acabamos assistindo pela televisão, por uma decisão dela, acho que não queria que nos preocupássemos com ela no Peru, e ela com a nossa chegada lá. Mas não deixou de ser uma emoção. (…) Foi um momento de muita alegria, onde vimos que 2017 passou. Agora é só alegria”, resume Elizabeth.

Dedicação, o amuleto da sorte

Corinthiano, Gilson veste a camisa de seu time de coração, ex-clube de Larissa, e os pódios vêm. “Minha esposa sempre fala que quando visto a camisa do Corinthians, parece que o sucesso da Larissa é melhor. Inclusive, estávamos em um Mundial em Doha, e eu vesti a camisa do

Corinthians e ela ganhou a medalha de ouro. Parece que virou um amuleto. É uma alegria colocar essa camisa e ver a filha campeã”, conta o pai da nadadora, sorrindo, deixando claro, ainda, seu pensamento sem a superstição. “O amuleto da sorte é o sucesso dela, que se dedica profundamente no esporte. Treina todos os dias. Não é fácil. Para a nossa satisfação, a vida dela é um sucesso”, opina.

De fato, Larissa tem na determinação seu guia. Mas nada seria o mesmo sem a família Martins de Oliveira, sempre ao lado da nadadora. “A Larissa é tudo para nós. É uma filha que a gente admira muito pela responsabilidade, pela qualificação que ela tem na natação. Isso representa para nós uma medalha de ouro”, afirma Gilson. “Ela já provou que não tem limites e, se Deus quiser, teremos mais uma Olimpíada para ela”, torce Elizabeth.

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