O ano era 2002. Ronaldo fenômeno adotou penteado do Cascão, e talvez seja hour-concours um dos piores penteados do futebol. Fátima Bernardes foi considerada musa da Copa, o Brasil, pentacampeão, e foi o último Mundial ao lado do homem mais lindo do meu mundo: meu pai. Numa atitude inédita, a Fifa decidiu que, naquele ano, Coreia do Sul e Japão fossem escolhidos os países-sede da Copa. Eu, com 10 anos, trocava o dia pela noite, já que os jogos aconteciam em meio à madrugada. As ruas da cidade de Santos Dumont pintadas, bandeirinhas verde e amarelas penduradas e todos nós, juntos.
A cada jogo uma programação diferente: pipoca na casa do vizinho, combinação do uniforme pra dar sorte! Muito cedo, estávamos prontos. Minha mãe acordava a gente, TV ligada, nós entre as cobertas, xícaras de café e também as pizzas, que meu pai fazia questão de encomendar, ainda que ele fosse rígido com nossa alimentação. Mas, na Copa, valia tudo, inclusive pizza às 3h da manhã. Ele, que nunca vi chutando uma bola, nem meus irmãos diga-se de passagem, fazia aquela festa a cada gol do Brasil, tornando a Copa, naquele ano, meu evento favorito. Mesmo porque, poucos meninos e meninas da minha época lembravam de 1994, afinal, tínhamos dois ou três anos.
Eu, que sempre acreditei na eficácia das simpatias, era o Brasil entrar em campo e, no primeiro minuto de partida, já pegava meu rolo de linha e fazia onze nós. Cada nozinho era destinado a um jogador da seleção adversária. A intenção era uma só: pedir a Deus para amarrar as pernas deles. Assim, o Brasil dominaria o jogo. Meu pai, que sempre “comprou” minhas doidices de criança, estava lá, sempre ao meu lado e acreditando nas minhas marmotas. Ele me fazia sentir a menina mais especial do mundo. No final, deu certo, conquistamos a quinta estrela. Tempos depois, meu pai também virou estrela e seu brilho resplandece em cada novo dia da minha vida. Essa é lembrança mais carinhosa, linda e cheia de saudades de futebol com o homem mais importante do meu mundo.