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Francês radicado em JF diz que torcerá para Brasil em caso de seleções se cruzarem nas semifinais

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Um administrador, professor e também autor, Erwan Pierre Entem, 44 anos, nasceu na França, mas já vive em Juiz de Fora há cinco anos, tempo em que está no Brasil. Nascido em Nantes, o professor ainda viveu 15 anos em Paris antes de se mudar para o nosso país. A escolha pelo Brasil veio atrelada à vontade de mudar de vida. Formado em administração de empresas, ele não queria mais ficar trabalhando na área em seu país natal e, após uma seleção de dez países, decidiu optar pelo país canarinho como destino final.

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Erwan nunca foi fã de futebol, pouco acompanha. Mas, por aqui, a energia e emoção das pessoas com o Mundial fez com que ele até comprasse uma antena para acompanhar a Copa, nem que seja de longe. “No início eu não tinha televisão, comprei uma antena há pouco tempo. Quando vi as pessoas na rua foi uma loucura, você sente a energia. Na França não é assim. As pessoas são menos expressivas, mais duras. Aqui tem mais alegria.” Ele conta que seu pai, por exemplo, que está lá na França, espera para acompanhar a Copa a partir das fases mais decisivas. “Lá não tem essa torcida que tem aqui. Não é uma coisa de nação”, ele conclui.

“No início eu não tinha televisão, comprei uma antena há pouco tempo. Quando vi as pessoas na rua foi uma loucura, você sente a energia. Na França não é assim. As pessoas são menos expressivas, mais duras. Aqui tem mais alegria”, conta o francês Erwan Pierre Entem (Foto: Marcelo Ribeiro)

Nesse Mundial não há chance, mas Brasil e França já fizeram uma final de Copa de Mundo. Foi na Copa de 1998, quando perdemos por 3 a 0 para os franceses. Perguntado se ele lembrava do jogo, Entem disse não ter acompanhado mas afirma que seria divertido, caso isso pudesse acontecer outra vez. Quem sabe daqui a quatro anos. “Eu não lembro daquele jogo, essa época eu já estava trabalhando. Mas depois até procurei na internet e vi que tinha tido uma final entre França e Brasil. Poderia ser divertido.”, ele comenta.

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O futebol está enraizado na cultura do povo brasileiro. A emoção de um povo como o nosso é capaz de cativar outras culturas, que acabam por sentir uma energia diferente e se aproximam do nosso sentimento. Assim foi com Erwan: “torcer pelo Brasil faria bem. O futebol faz parte dos valores aqui e o Brasil é um pais que existe como nação no futebol”.

Culturas diferentes: “É como trocar de óculos e de cor”

Em entrevista à Tribuna, Erwan conta que, logo quando chegou ao Brasil, ele até pensou em continuar no ramo empresarial, mas como não tinha muitos retornos e as perspectivas salariais eram baixas, ele seguiu para a área acadêmica. Após colocar um anúncio na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Erwan iniciou a trajetória de ensinar a língua francesa em território brasileiro. “No início achei isso meio estranho, mas me adaptei ao mercado”, diz. Hoje o professor tem vários alunos e, em suas aulas, ele ensina o idioma para pessoas que vão viajar para a França, pretendem estudar por lá, precisam de traduzir projetos ou que vão migrar para o Canadá (onde a língua francesa também é oficial), por exemplo. Além disso, ele aproveita as aulas para uma troca de experiências. “Aqui tem que se apoiar na sua identidade. Cada aluno tem sua paixão: pelo Exército Brasileiro, pela culinária, pela Belle Époque, pelas viagens, pela história. Sinto a energia das pessoas e troco os conhecimentos.”

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Com um irmão morando nos Estados Unidos, uma prima na China, outra em Londres, Erwan se incluiu em mais um integrante da família que deixou seu país de origem para conhecer uma nova cultura, que segundo ele tem bastante diferença. “É como trocar de óculos e de cor. As pessoas vão ver as mesmas coisas, mas não vão viver as mesmas coisas “, argumenta o professor. Para ele, a noção do tempo é a maior diferença. “Aqui, o agora se expande, não tem limite. Na França, estamos sempre no futuro”, completou Entem. Quando chegou ao Brasil, não sabia nada de português, nem mesmo quem era o presidente. Mas uma coisa ele garante ter, de fato, conhecido no país do verde e amarelo. “Adoro a visão da vida que as pessoas têm aqui. É como uma pintura, você gosta, sente, mas não é. Quando volto na França é a mesma coisa. Dizem que somos grossos, diretos. Posso sentir isso, que pode ferir quem vai lá e não conhece. Mas, são culturas diferentes”. Se existe algo que o deixa surpreso dentro da cultura brasileira é falar da morte. “Aqui, em muitas expressões falam da morte, como brincadeira. São coisas muito fortes. Lá não usamos isso. Mas eu gosto daqui”, disse em tom de brincadeira.

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E se der França e Brasil nas semifinais?

A escolha por morar em Juiz de Fora veio depois que seu pai, que já tinha trabalhado no Brasil há algum tempo atrás, o aconselhou a evitar cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, pelo tamanho e estrutura das capitais. “Eu venho de Paris, uma cidade com dois milhões de habitantes e três mil entradas de metrô. Tinha tudo perto, mas aqui as cidades não são assim”, diz Entem.

Apaixonado por literatura, o francês é integrante da “La Sacem”, sociedade francesa de autores, compositores e editores de canções, e acredita que isso o ajuda na hora de ensinar o idioma aos brasileiros. “Não se pode aprender francês só para perguntar onde estão os serviços porque é uma língua cultural. Brasil e França têm uma correspondência no mundo da ficção e, aqui, muitas vezes ela está no mundo real. É um mundo paralelo”, ele disse.\

Neste sábado, os Blues tem uma grande missão diante da Argentina, em jogo válido pelas oitavas de final da Copa da Rússia. Quem perder dará adeus ao Mundial. Se avançar, a Seleção Francesa pode ser adversária do Brasil num possível encontro em uma das semifinais, caso a seleção canarinha também se classifique. Neste caso, os dois países ligados à Erwan vão se encontrar em duelo decisivo. Então para qual deles será a torcida do professor? Ao melhor estilo de um coração francês, de alma brasileira, ele é direto. “Morando aqui é mais importante torcer para o Brasil”.

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