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Em visita a JF, Zico defende presença de psiquiatras no meio esportivo

(Foto: Leonardo Costa)

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(Foto: Leonardo Costa)

Mesmo depois de ter deixado de vestir a camisa do clube de maior torcida do país, há quase 30 anos, na partida de despedida entre Flamengo e Fluminense, em Juiz de Fora, Arthur Antunes Coimbra, o Zico, segue como referência dentro e fora dos gramados e arrebatando multidões. Prova disso foi a última visita do “Galinho de Quintino” à Juiz de Fora, no último sábado (24), no Centro de Treinamento que leva o seu nome. Pessoas de diferentes idades e torcedores de clubes distintos demonstraram seu carinho e admiração pelo ídolo do Flamengo e do futebol japonês, que também teve passagens como jogador e treinador pelo futebol Europeu.

Tamanho respeito credencia Zico a falar de diferentes assuntos do meio esportivo, com propriedade. O mais recente é a psiquiatria do esporte, tema do livro do juiz-forano Hélio Fádel, “Psiquiatria do Esporte – Estratégias para qualidade de vida e desempenho máximo”, que será lançado na próxima quarta (4), na livraria Saraiva, no Shopping Independência, com prefácio escrito por Zico.

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Apesar de polêmico e com pouca aceitação entre atletas e dirigentes de clubes, o Galinho defende a importância de se ter um profissional da área no departamento médico das equipes para diminuir o preconceito na área e elevar cuidados mentais com atletas profissionais e amadores, aumentando assim, a chance de atletas de diferentes níveis sociais obterem sucesso dentro e fora de campo. Nesta entrevista exclusiva, Zico fala sobre a facilidade de conviver com o tema desde pequeno, por contar com um profissional da área dentro de casa, das dificuldades dos atletas exporem o problema e do benefício da implantação de um profissional da área desde as categorias de base dos clubes.

Tribuna de Minas – Como foi fazer o prefácio do livro do Helio Fádel sobre psiquiatria do esporte?
Zico – Para mim foi muito fácil, pois eu tenho uma irmã que é psicóloga, o que me ajudou em muitas coisas. Pois eu chegava em casa e tinha com quem conversar. Na minha época de jovem, quando eu comecei a jogar futebol, tudo o que acontecia dentro e fora de campo eu chegava em casa e falava com ela. Então, para mim, é um tema que me acompanha desde cedo, por isso considero muito importante. Acredito que o trabalho do Helio Fádel poderá acrescentar bastante, não só para o futebol, mas na área esportiva em geral, pois poucos têm a oportunidade que eu tive de contar com um profissional da área dentro de casa.

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– Qual a importância desse tema para você, que além de ter sido jogador, comandou diversos atletas na beira do gramado, como técnico?
– O tema, além de importante é muito pertinente, pois temos jogadores que fazem muito sucesso dentro de campo, mas fora dele necessitam de um melhor acompanhamento. No Brasil, a maioria dos jogadores vem de classes sociais mais humildes e enfrentam uma pressão muito grande e, às vezes, não sabem como lidar com isso. Muito deles não conseguem uma preparação psicológica adequada no ambiente familiar e isso pode ser prejudicial na carreira. Mas, infelizmente, ainda há um preconceito muito grande em relação ao cuidado médico envolvendo a saúde mental. Com isso, muitos atletas se negam a admitir um problema, seja ele ligado ao alcoolismo, ao uso de drogas e até mesmo à depressão, tentando sempre minimizar o problema, o que pode se tornar sério demais e trazer grandes prejuízos para eles, sua família e até mesmo para sua equipe.

– Como jogador ou treinador você já conviveu com atletas que estivessem enfrentando esse tipo de problema?
– Não. São problemas sérios que a pessoa fica com vergonha de botar para fora isso. Então, ela tem que adquirir muita confiança e ter uma pessoa certa para arrancar dela certos tipos de problemas. Acho que a presença de um psiquiatra dentro do clube seria um algo a mais que os clubes e as seleções poderiam oferecer, porque não tenho dúvida que irá ajudar no futuro.

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– Você jogou e treinou na Europa e, principalmente, no Japão. Existia algum tipo de trabalho voltado para a psiquiatria por lá?
– No Japão não existe. Mas é necessário. Porque a autoestima do japonês é meio complicada em relação a parte emocional. Eu acho que isso poderia ser de grande ajuda no futebol japonês. Acho que na cultura, não sei. Mas no futebol, no esporte japonês seria de grande valia. Na Europa sei que alguns clubes trabalham este tema. Mas ainda são poucos.

– Você acredita que, diante de tantas informações, hoje as pessoas têm uma tendência maior de aceitar a psiquiatria no esporte?
– Acho que se for bem esclarecida, o jogador aceita. Agora, tem que ser um processo lento, tranquilo. Às vezes, até desde a base, onde os jogadores estão começando e querem um lugar ao sol. Então, se eles começarem a ter contato com isso… A gente tem jogadores com muitos problemas com o uso de drogas, álcool, problema familiar e, se ele conseguir se abrir no início da carreira, isso pode ser benéfico pelo resto da sua vida. (Fotos: Leonardo Costa)

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