A peregrinação de Fernando Diniz na elite do futebol brasileiro parecia fadada ao fracasso. Afinal, sempre estivera preso em um imaginário insustentável. Do trabalho à frente do Audax àquele no Fluminense, Diniz vagava em um espaço, um tanto sem forma, entre o ex-jogador formado em psicologia e o técnico predestinado a restabelecer algo perdido na escola futebolística brasileira entre as décadas de 1990 e 2000. Em suma, ele era a iminência do “vir a ser” quando ainda de alguma maneira buscava compreender o que realmente era. Diniz é a caricatura da incompletude.
A própria postura de Fernando Diniz, seja à beira do gramado, seja em entrevistas coletivas, expunha a angústia de um sujeito cujos trabalhos tinham prazos de validade em números garrafais, o que alimentava o sadismo alheio. Ao menos até a passagem pelo Fluminense, Diniz não precisava de muitos meses para formar equipes vistosas. Entretanto, o mesmo precedente indicava uma decadência tão melancólica quanto vertiginosa. As equipes de Diniz produziam chances claras de gol como água, mas esmoreciam a qualquer momento diante da primeira ofensiva adversária.
De alguma forma, os próprios jogadores pareciam não somente absorver as angústias de Diniz, mas também a compartilhá-las de maneira irreversível. Assim como no Caju e nas Laranjeiras, o cenário em Cotia parecia sumariamente sentenciado ao mesmo fim antes mesmo que as audiências de instrução começassem. Quando Cuca deixara o São Paulo, qualquer escolha para o comando técnico seria mais óbvia do que Diniz, já que o clube, moribundo diante de uma escassez aparentemente perpétua, mal sabia o que realmente era, assim como Diniz.
Até Diniz conduzir o São Paulo à liderança do Campeonato Brasileiro e às semifinais da Copa do Brasil, a demissão do técnico era algo iminente. Tanto tricolores quanto a crônica esportiva sabiam que a cabeça de Fernando Diniz rolaria. Especulava-se apenas se nesta ou na próxima semana. No entanto, embora nem o finado Telê Santana saiba como, as angústias de Diniz foram fiadas por Daniel Alves, Thiago Volpi, Reinaldo, Brenner, Luciano e Igor Gomes. O Tricolor tem o heptacampeonato nas mãos, mas, mesmo que pelo acaso acabe por não o conquistar, Fernando Diniz, por ora, parece ter aprendido a lidar com a própria incompletude.