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‘Incríveis’: Atleta de kickboxing encontra no Galpão da Luta uma oportunidade para mudar

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As abordagens policiais eram frequentes enquanto ele perambulava pela rua, o que aumentava o estigma de um menino, que tinha sonhos, mas não sabia como expressá-los. Morador do abrigo institucional Estância Juvenil, Roque Sérgio da Silva Junior, 15 anos, assim como muitos adolescentes em situação de vulnerabilidade social, possuía talento, mas contava com poucas oportunidades.

Amante de lutas, Roque viu, no contato com o sargento da Polícia Militar (PM), Luiz Bento, que fazia ronda no Bairro Araújo e é responsável pelo projeto Galpão da Luta, que ensina modalidades de lutas para jovens em situação de risco, uma chance de mudança. E a agarrou com unhas e dentes. Em apenas seis meses de treinos, o jovem de olhar tímido conquistou dois títulos, um deles o cinturão no 3º Campeonato Brasileiro de Kickboxing, que aconteceu em novembro, em Juiz de Fora.

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“Você pode me fazer um lutador?”, perguntou o jovem Roque, 15 anos, ao sargento Bento. O policial aceitou o desafio, levou o garoto para treinar no Galpão da Luta e hoje ele é uma jovem promessa no kickboxing. (Foto: Leonardo Costa)

Bento, que atua em bairros da Zona Norte da cidade, lembra que a relação entre policial e os jovens às vezes é desgastante, principalmente quando as abordagens são feitas na mesma comunidade. Mas numa dessas ocasiões, o sargento foi surpreendido com um pedido, que mudaria não só a vida de Roque, mas também a sua. “Numa das abordagens, ele me perguntou: ‘Você pode me fazer um lutador’? Na hora não acreditei e disse que o levaria para academia, mas para isso ele teria que se comprometer comigo. Ele mudou o comportamento através da rígida disciplina da luta”, conta orgulhoso o mestre, que criou o Galpão da Luta há dez anos e considera o menino um grande talento.

“Eu aprontava muito na rua. Fazia muitas coisas erradas, mas comecei a receber conselhos e a pensar no que poderia ser melhor para mim. Sempre gostei de lutas. Joguei capoeira durante um tempo em um projeto social, no Bairro Dom Bosco, mas via alguns meninos lutando muay-thai e kickboxing e também queria fazer, mas não tinha como”, lembra o jovem.

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Roque conquistou dois títulos em seis meses de treinos, mas, para o sargento Bento o feito não o surpreendeu, pois a dedicação e a vontade de vencer levaram o menino às conquistas. A primeira disputa foi em agosto, na 1ª Copa Brasil de Muay-Thai, realizada em Ewbank da Câmara, quando ele saiu vencedor. “O adversário que ele enfrentou já treina há muito tempo em Belo Horizonte e conta com toda estrutura possível em uma academia especializada. Mas o Roque não ficou devendo em nada. Muito pelo contrário, lutou com tranquilidade e venceu. Após essa medalha, Roque conquistou o cinturão no 3º Campeonato Brasileiro de Kickboxing, na sua faixa etária, que aconteceu em novembro, em Juiz de Fora, quando enfrentou e venceu quatro adversários.”

 

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Regras, disciplina e auto-estima

(Foto: Leonardo Costa)

Roque e os dois irmãos mais novos tiveram que deixar o convívio familiar e foram levados para a Estância Juvenil há cerca de dois anos. Lá, o jovem contou com a ajuda da psicóloga do abrigo, Joana D’arc de Assis, a quem ele considera como sua segunda mãe. “Ele chegou na Estância Juvenil com 13 anos junto com um casal de irmãos mais novos. Depois que o Roque começou a treinar na academia teve uma mudança muito grande, não só no comportamento, mas também no rendimento escolar. Sempre tentamos incentivá-los com alguma atividade de contraturno, buscando algo que eles se identificam mais. Hoje, o irmão também treina na mesma academia, e a irmã já está de volta ao convívio da mãe”, conta a psicóloga, que fez o primeiro contato com o sargento Bento pedindo uma oportunidade para o futuro campeão.

Segundo, Joana, a Estância Juvenil, que é uma casa de acolhimento coordenada pela Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac) e supervisionada pela Secretaria de Desenvolvimento Social, da Prefeitura de Juiz de Fora, hoje abriga meninas e meninos com idades entre 12 e 18 anos. Segundo o sargento Bento, para frequentar as aulas no Galpão da Luta os alunos precisam ter bom comportamento e boas notas na escola. Ele destaca que o objetivo do projeto é fortalecer a autoestima dos meninos e meninas, que encontram nas brigas de gangue uma forma de afirmação.

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“Observando o que acontecia nas rondas policiais, descobrimos que esses jovens queriam brigar para mostrar que sabiam. Por isso, eu e um colega pensamos: já que eles querem lutar, que lutem com regras e disciplina e, então, criamos o projeto, que hoje conta com cerca 120 alunos em núcleos espalhados por Juiz de Fora e outros 110 alunos em Ewbank da Câmara”, explica Bento. O menino que brigava na rua hoje conta com padrinhos, que o apoiam com equipamentos e roupas. Roque, que se espelhou em outros jovens que conquistaram títulos através do Galpão da Luta, agora também é visto como exemplo a ser seguido, por sua história de vida e força de vontade em superar desafios.

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