15 anos de Atenas: André Nascimento recorda ouro olímpico no vôlei

No dia em que completa 15 anos do título na Olimpíada na Grécia, ex-atleta, formado em Juiz de Fora, lembra de tensão e alívio após vitória sobre a Itália


Por Gabriel Silva, estagiário sob a supervisão do editor Bruno Kaehler

29/08/2019 às 07h00

André Nascimento foi recebido em Juiz de Fora com festa no Centro da cidade, em caminhão do Corpo de Bombeiros, no dia 1º de setembro de 2004 (Foto: Fernando Priamo/Arquivo TM)

Após quatro sets diante dos italianos, o apito é soado pela última e decisiva vez. Milhões de brasileiros vibram enquanto a bandeira verde e amarela chega, pela segunda oportunidade, ao topo do pódio olímpico do voleibol masculino. A linguagem do esporte, universal, facilita que a Seleção Brasileira, dos locais Giovane Gávio e André Nascimento, e os fanáticos de diferentes cantos do planeta presentes em Atenas, na Grécia, dialoguem naquele dia 29 de agosto de 2004, há exatos 15 anos. Segundo ouro olímpico de Giovane, dentro de quadra o oposto André Nascimento também se tornaria estrela de ouro na constelação de atletas, porque não, juiz-foranos.

Passados 15 anos, as lembranças do meritiense, mas que se considera de Juiz de Fora, onde iniciou sua formação como atleta, surgem sem esforço. A concentração durante as oito partidas até a conquista, a campanha vencendo todos que cruzaram o caminho brasileiro, o clima de expectativa no vestiário enquanto o barulho da torcida ecoava nos corredores do Estádio da Paz e da Amizade: nada foi esquecido; e as recordações saltam à mente do ex-atleta nascido no Rio de Janeiro, mas formado no Clube Bom Pastor, que, aos 40 anos, é dirigente do Itapetininga/SP.

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“O pior é realmente antes de começar, aquela espera do horário do jogo. A gente assistiu vídeos do time da Itália, e foram momentos de muita ansiedade”. André tinha 25 anos quando conquistou sua primeira medalha olímpica. Apesar da pouca idade, a desenvoltura em quadra – destacada pelo seu potente braço esquerdo – já havia garantido títulos expressivos pelo selecionado brasileiro, casos da Copa do Mundo e da Liga Mundial.

Centenas de juiz-foranos foram parabenizar André Nascimento após o ouro olímpico (Foto: Olavo Prazeres/Arquivo TM)

As conquistas passadas não diminuíam a responsabilidade de votar ao mais alto lugar do pódio olímpico depois de Barcelona, em 1992. Após a vitória, mesmo com vantagem digna de título incontestável (3 sets a 1, com parciais de 25/15, 24/26, 25/20 e 25/22), a sensação de alívio predominou no carioca/juiz-forano André, como se estivesse prendendo a respiração durante a campanha e, com o título, pudesse respirar.

“(Após o jogo) a gente não sabia a dimensão do que tínhamos alcançado. É uma concentração enorme durante a competição e o que te envolve faz você esquecer de tudo. Quando acaba, você fica sem noção do que aconteceu e da proporção que tomou aquele resultado”.

Após Atenas, a situação se inverteu, e o então aspirante a craque chegou como atleta consagrado em Pequim, quatro anos depois, quando a medalha de prata encerrou ciclo vitorioso na seleção: seis títulos da Liga Mundial, dois da Copa do Mundo e do Campeonato Mundial e um do Pan-Americano, além do ouro em Atenas.

‘Foi o melhor time em que já joguei’

A personalidade de uma jovem estrela forjada, ainda na infância, pelo Clube Bom Pastor, garantia o papel importante em uma seleção que contava com astros como Giba, Nalbert, Serginho e Maurício. O que poderia ser um obstáculo para ter protagonismo em uma geração já consolidada, acabou como um estímulo para André Nascimento alcançar o nível técnico dos demais. “Com certeza aquela seleção foi o maior time que eu já joguei. Aprendi muito e tenho orgulho de ter participado dessa equipe que começou em 2001”, afirma André, lembrando que as vitórias consecutivas surpreenderam os próprios jogadores. “Praticamente ninguém esperava tantos títulos, mas é uma seleção que acreditou no trabalho da comissão técnica, abraçou a ideia”.

Em meio ao elenco estrelado, um dos atletas tinha lugar especial como modelo para André. Giovane Gávio, nascido em Juiz de Fora, por alguns anos não foi seu companheiro ainda nas quadras juiz-foranas. No ouro de Atenas, Gávio era outra referência da equipe e integrava a seleção desde a década anterior, quando também conquistou o primeiro lugar em Barcelona.

“Para mim, principalmente, desde quando comecei no Clube Bom Pastor, era um cara que sempre foi referência. E na seleção era um cara experiente que, em momentos difíceis, estava ali falando uma palavra legal para todo mundo, colocando sempre para cima”.

‘O vôlei tem crescido’

Após a aposentadoria das quadras em 2018, a saudade é inevitável. Desde o encerramento da carreira como atleta, o então experiente jogador se tornou um dirigente novato. O cotidiano de funcionamento do Itapetininga (SP) é outro motivo que desperta nostalgia. “Sempre dá saudade de estar ali, principalmente por eu ainda estar envolvido com o voleibol. Acompanho os treinos do time onde estou. Então, com certeza, dá saudade. Do clima, aquela coisa de competição, mas já estou me acostumando”, afirma.

Giovane Gávio exibiu a medalha no dia 3 de setembro para creche coordenada por sua irmã. A Tribuna não conseguiu contato com o ex-jogador (Foto: Gilson Assis/Arquivo TM)

Com a propriedade de poucos, André acredita que o voleibol brasileiro tem evoluído. “O vôlei tem crescido ao longo desses 15 anos. A gente está tendo atletas novos, uma renovação bacana da seleção, apesar de não termos uma sequência de vitórias, mas sempre chegamos nas finais”.

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A Tribuna também buscou contato com o juiz-forano Giovane Gávio, mas sem sucesso.

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