Suco de maracujá e treinos. Essa tem sido a estratégia de Sergipe nas últimas horas para combater a ansiedade diante da proximidade da estreia de sua filha, Beatriz Ferreira, na disputa do boxe em Tóquio 2020. A pugilista baiana e radicada em Juiz de Fora há cerca de 15 anos entra em ação pela primeira vez no ringue às 5h (horário de Brasília) desta sexta-feira (30), em luta com Shih-Yi Wu, de Taiwan, pelas oitavas de final da competição.
“O coração tá a mil por hora porque já vínhamos esperando essa Olimpíada. Sabia que os batimentos iam acelerar porque o nosso trabalho sempre foi focado nessa disputa. Graças a Deus chegou a hora, não tem como correr”, conta Sergipe à Tribuna. “Tô muito confiante e a Bia está com sede. Apesar de ter visto as companheiras de equipe perderem, o que faz sentir um pouco, tenho certeza que ela não vai se afobar e vai conseguir boxear. Só entrar com foco, determinada como nas outras competições, que quando pisar no ringue a adrenalina cai um pouco”, projeta o ex-pugilista campeão brasileiro e principal incentivador de Bia.
O pai da pugilista conta, ainda, que já até preparou a recepção para os amigos que quiserem acompanhar a luta em sua casa. “Mesmo nesse horário, que é difícil, estou preparado pra receber quem quiser vir aqui em casa assistir. A bandeira de Bia tá na frente do meu portão. A ansiedade tá batendo a semana inteira, mas tomo um suco de maracujá, faço um treino dando umas porradas pra aliviar. Só que o pensamento não sai, fico contando as horas”, confessa.
Ao contrário de Bia, a adversária asiática já lutou nesta Olimpíada, na primeira fase, tendo batido a sueca Agnes Alexiusson por 4 a 1. O nervosismo de uma estreia, logo, estará com a brasileira. “Primeira luta sempre é um peso maior em qualquer evento, ainda mais em uma Olimpíada, o maior do mundo. Ela tá bem ansiosa, mas isso passa quando entra no ringue. Mas estreia é sempre danada. Só que Bia sempre cresce durante a competição. Acho que ela vai se sentir bem desde a primeira luta, estamos esperando isso há muito tempo e ela não vai deixar escapar”, projeta Sergipe.
Confiança e tatuagem
A confiança em Bia vem dos resultados recentes e do crescimento desde os primeiros jabs com Sergipe, ainda na Bahia. A atleta é atual campeã pan-americana e mundial e chegou no Japão como a número 1 do ranking internacional na categoria até 60kg. “Bia é uma atleta muito agressiva, que se conhece muito bem. Tem golpes duros. Acredito que ela vai entrar com sede, e a adversária já vai para trás. E dominando o centro do ringue, já era. Porque Bia vai conseguir aplicar mais golpes e pontuar. A melhor defesa é o ataque, sempre falo para meus atletas. E se a pessoa se solta com dois, três golpes, vai acertar algum, e é isso que Bia faz: as adversárias recuarem”, exalta o pai.
Disputar os Jogos Olímpicos sempre foi a principal meta da dupla. Prova disso é a homenagem feita por Sergipe à filha, para sempre em seu corpo. O pai tatuou os anéis olímpicos em comemoração à vaga obtida. “Tinha falado até com ela que se classificasse teria uma surpresa. E foi essa tatuagem. É o caminho da verdade e do ouro marcado na minha pele”, destaca Sergipe.
A única frustração é não estar presencialmente ao lado da filha em Tóquio. “É a pior coisa essa distância, porque a vida toda estivemos juntos. Num piscar de olhos meu a Bia já sabe que não está bem e o que deve fazer. Mas lá também tem grandes treinadores. Queria estar lá, foi meu esporte a vida inteira, fizemos o que deu pra ela ser considerada a melhor do mundo. Estava querendo ir, fiz meus planos, mas a pandemia complicou. Mas ela já viajou muitas vezes sozinha e vai dar tudo certo.”