“Sabe quando você tenta um gol de bicicleta e acerta? Foi o que a gente fez”. É com essa analogia que o professor de Geografia do IF Sudeste, Emerson Muniz, um dos produtores do documentário “O Galo Carijó e a sua importância para a identidade juiz-forana” e da história em quadrinhos “Fantasma do Mineirão”, resume o projeto de extensão. Idealizados e construídos por ele e mais dois docentes, Ciro Vale e Patrícia Botelho, juntamente com nove bolsistas, alunos da instituição, as produções têm como objetivos resgatar e homenagear a história do Tupi e possibilitar que as novas gerações tenham interesse em conhecer o clube.
O lançamento, aberto ao público, ocorre nesta quarta-feira (25), às 19h, no Anfiteatro do bloco administrativo do Instituto (Rua Bernardo Mascarenhas, 1823, Bairro Fábrica. Após o evento, o documentário será disponibilizado no YouTube do IF a partir de quinta-feira, enquanto as HQ’s serão distribuídas para escolas e bibliotecas.
Ideia e produção
Como conta Ciro Vale, a ideia surgiu a partir de uma aula que ministrou para Claudinho, ex-jogador do Tupi. Ao conversar com ele e outros atletas do Carijó, o professor sentiu a necessidade de contar essas histórias de alguma forma. Observou, também, a carência de dados sobre a história alvinegra, na sua visão, rica. “O documentário e a HQ vão possibilitar que as novas gerações conheçam a história do Tupi. Foi um trabalho de alunos e professores, buscamos trabalhar a topofilia (sentimento de comunidade), através do Tupi, que tem muito disso. Falamos da rivalidade com Tupynambás e Sport. Entrevistamos jogadores, técnicos, diretores, torcedores e pesquisadores. Queremos resgatar a memória do clube, que não pode ser apagada. A gente acredita que, com esse documentário, nós vamos conseguir trazer paixão dos juiz-foranos ao Tupi. É uma marca muito grande, merece uma honra enorme”, declara Ciro à Tribuna.
Já Emerson, professor apaixonado por futebol, especialmente pela imprensa esportiva e torcedor do Tupi, ressalta a questão geográfica presente no documentário. “Não só resgatamos a história emotiva do Tupi, mas também a parte urbana e histórica de Juiz de Fora. Ao dialogar com o passado, a gente entende nosso presente e consegue ver também o futuro para a cidade e para as agremiações daqui. Fomos falando com pesquisadores do município, chegamos a mais de 70 entrevistados. Recolhemos documentos históricos, notícias, imagens, vídeos e livros. Juntando todo esse conhecimento, conseguimos fazer o documentário. O primeiro episódio conta as origens de Juiz de Fora e do Tupi; o segundo, a história do Fantasma; e a terceira parte, o Tupi e a cidade mais contemporânea”, detalha o professor.
“Não podemos esquecer de valorizar o Tupi e Juiz de Fora”
João Pinheiro, de 17 anos, e Lara Esteves, 18, são dois dos nove alunos bolsistas do projeto de extensão. Enquanto o menino, de Juiz de Fora, apaixonado por futebol, foi um dos responsáveis pelo documentário, a jovem, de Lima Duarte, que não conhecia o clube antes do trabalho, participou da confecção da história em quadrinhos.
O adolescente tem suas raízes ligadas ao Tupi. Seu tio-avô, o Francinha, foi um dos jogadores de sucesso do clube de Santa Terezinha na década de 1960. “Minha avó me mostra as fotos dele jogando no Tupi. É uma memória que eu já tinha. Isso intensificou minha vontade em fazer o documentário. A gente formou um time muito unido, com vontade. Tudo por nossa conta e por querer ver finalizado. Fui responsável pela maioria das entrevistas. Entrevistei grandes nomes, como o pesquisador Léo Lima, filho do ex-jogador Eurico, o Ademilson, um dos maiores ídolos carijós, e Ângela Maria, torcedor símbolo”, adianta João.
O jovem gostou tanto do trabalho, que agora pretende cursar Jornalismo ou Cinema. “Fizemos questão de contar muitas histórias, que se desdobraram em três longas-metragens. Muitas fotos, depoimentos, e principalmente carinho. Com o dinheiro da bolsa, comprei uma câmera para fazer mais. Eternizamos a memória do time, todos que não sabem a história, poderão entender”, se emociona o garoto.
Mesmo garantindo a qualidade do resultado final, Lara relembra dificuldades nas pesquisas, que durou de maio até dezembro de 2021, além do processo de confecção, até março de 2022. “Procuramos fontes, dados, e não encontrávamos. Dividimos em setores. Uma amiga, a Íris, fazia a roteirização e as entrevistas, e eu desenhava e fazia a diagramação e colorização. No final, foram 24 páginas. Eu criei um termo, chamado Tupifilia. O projeto se da a partir da associação do Tupi com as ciências geográficas. Tupifilia vem da topofilia, sentimento de pertencimento ao Tupi e à Juiz de Fora. Por isso, na HQ, tentamos trazer um pouco da percepção para quem está por fora, quem não conhece o time. Vão entrar dentro de uma história importante de Minas Gerais”, explica Lara.
“As pessoas tem que procurar saber. Pesquisar, valorizar, entender a importância da cultura local. Não podemos esquecer que Juiz de Fora é nosso lar. Ao invés de só olharmos para fora, vamos olhar para aqui”, pede a aluna.
Legado para os juiz-foranos
Enquanto o documentário abrange um extenso período de tempo da história do Tupi, a HQ foca na época em que o time ficou conhecido como “Fantasma do Mineirão”, por ter vencido América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro no Mineirão. “A HQ é mais para o público infanto-juvenil. O projeto quer manter viva a história das agremiações esportivas da cidade para as gerações mais novas. Temos grandes descobertas, cito os torcedores símbolos do Tupi, o Marquinhos Saddam, a Ângela Maria. Os populares também foram contemplados. A imprensa também, o Mauricio Menezes, o Danadinho, o Fernando Luiz Baldiotti. Falamos com pesquisadores da história urbana de Juiz de Fora. O que mais me deixa contente é que foram os alunos aqui do Instituto, que no trabalho de extensão, puderam fazer essas pesquisas. Eles cresceram muito, isso me deixa muito feliz. O brilho no olho dos nossos alunos é incrível”, reitera Emerson.
Além de exaltar os jovens do IF, o professor Ciro conta que um aspecto muito importante é o legado deixado por todos os envolvidos. “A história em quadrinhos é um material didático, pode ser utilizado nas escolas, porque conta uma história bonita do Tupi, que envolveu ensino e pesquisa. No documentário, são três episódios, com quase cinco horas de filme. Não foi algo profissional, foi orgânico, intuitivo. Isso despertou nos meninos muito interesse. Envolveu toda a comunidade, mais de 20 pessoas, de forma direta ou indireta”, entende o geógrafo.