Nesta sexta-feira (25), durante entrevista coletiva, o Tupi apresentou oficialmente a diretoria que irá comandar o clube e seu futebol na temporada de 2022. No contato com a imprensa, os dirigentes justificaram escolhas na montagem do departamento de futebol, projetaram um orçamento de R$ 700 mil para a disputa do Módulo II do Campeonato Mineiro, admitiram já estarem conversando com possíveis treinadores e confirmaram a formação de um time sub-20 para iniciar o processo de restruturação da base. Poucas horas depois, o clube confirmou acerto com o técnico Ademir Fonseca para o comando no estadual.
O experiente treinador de 59 anos fará sua quarta passagem no Carijó, tendo defendido o Alvinegro de Santa Terezinha em 2001, 2010 e 2019. A Tribuna apurou que o profissional já iniciou os trabalhos com a direção para a formação do elenco, com o estadual marcado para começar em 27 de abril, mas ainda sem uma data de início dos trabalhos.
Ademir estava no Asa (AL) na última temporada, seu trabalho derradeiro. Tem no currículo mais de 30 clubes, como Caldense, Ipatinga, Uberlândia, Mogi Mirim, Santo André, Volta Redonda, Paysandu, onde foi campeão paraense, e CRB, clube pelo qual conquistou o alagoano.
A apresentação
O encontro da manhã desta sexta, ainda antes da notícia da chegada de Ademir Fonseca, contou com discursos voltados à campanha carijó de reconstrução, que tem sido chamada de “um novo Tupi”, com a volta de profissionais identificados com o preto e branco juiz-forano como uma das bases. Estiveram presentes o presidente alvinegro Eloísio Pereira (“Tiquinho”), o vice de Futebol Jeferson Vitor, além do diretor de Futebol Adil Pimenta e do novo gerente da pasta, Cloves Santos, confirmado na última quinta.
O mandatário Tiquinho destacou sua história com o clube ao se apresentar. “Conheci o Tupi há 13 anos levando meu filho para as escolinhas de base e virou uma paixão. Dali, viemos a montar uma chapa, onde o ex-presidente afastado (José Luiz Mauller Junior, o Juninho) cometeu várias coisas e tomamos a frente pra mudar todo esse processo. Agreguei só pessoas de caráter dentro do clube e temos esperança de fazer muitas coisas diferentes do que já foi realizado até aqui.”
Entre estas pessoas está Jeferson Vitor, braço direito do presidente. “Começamos a construção de um novo Tupi. Em todos os momentos que conversamos, falamos em construir pontes, unir pessoas, ser o caminho para que aqueles que gostem do clube voltem. O Tupi precisa de carinho, de apoio. As portas do clube jamais ficarão fechadas nessa gestão. Todos nós somos fundamentais no papel importantíssmo de reerguer o clube”, destacou o VP de Futebol.
Adil Pimenta
O retorno do ídolo carijó como jogador e novamente diretor de Futebol, Adil Pimenta, também foi analisado. “Trouxemos o Adil, que é meu ídolo. Faz o link com a geração que viu o Salles Oliveira ficar pequeno, que viu o clube migrar pro Sport (…) O Adil resgata essa identidade. Ativamos mais um gatilho de trazer o Cloves, que é uma grande referência, porque nas grandes conquistas do clube, ele estava presente”, destaca Vitor.
“É um prazer estar participando de um momento tão importante do clube. Eu que já vivi e convivi tanto dentro quanto fora de campo em situações adversas. Retornei ao Tupi porque vi seriedade no presidente. Acompanhei a eleição passada, trabalhei com o presidente do passado, e quando vi que a coisa não estava fluindo da forma que esperava, simplesmente me retirei. Só voltei quando vi a possibilidade de fazer um clube sério, o que foi sempre meu objetivo, colocar o clube na Série B do Brasileiro e ser formador de jogadores”, destacou Adil. Fico muito agradecido e feliz de estar fazendo parte de uma comissão que realmente visa o bem do Tupi. Estou entrando em campo como se estivesse jogando. Nada melhor do que em vida ter essa oportunidade de estar retribuindo tudo aquilo que recebi do Tupi”, completou.
Cloves Santos
“Volto com uma filosofia de mudar de visão tanto política quanto de divisão de clube, para retornarmos ao Módulo I e poder disputar os nacionais, onde o clube deveria estar. A primeira proposta é repassar pra todo mundo que só falo em acesso”, destacou Cloves ao receber o microfone.
A campanha de um novo Tupi, no entanto, soou de forma contraditória a torcedores quando se informaram da opção por Cloves, ex-VP d de Finanças e do Conselho Gestor carijó, que fez parte da diretoria entre 2011 e o início de 2016. Questionado sobre esta escolha, Jeferson Vitor contextualizou.
“O que o Tupi é hoje, é desde quando nasceu. E reforço que, nessa história, fomos vice-campeões mineiros em 1933, campeões da cidade por diversas vezes, do interior em 1985, título da Série D, acesso, muitas coisas positivas. E todas as pessoas que participaram desses momentos são muito bem-vindas porque precisamos entender o que foi feito naquele período. Tiramos, eventualmente, algo que não foi adequado para o clube. Nosso foco é exclusivamente nas coisas boas que aconteceram no Tupi. A emoção dos mais jovens é o estádio do Arruda calado; a dos mais velhos, sair de Paracatu, como eu, pra ir próximo ao Espaço Mascarenhas acompanhar o acesso do Tupi pra Série B do Campeonato Brasileiro, e eu com um rádio, no meio da torcida, começando a pular antes do gol porque tinha um delay na transmissão, e aquele tanto de gente comemorando. São esses momentos que precisam ser revividos”, explica.
O presidente Tiquinho complementou. “O Tupi está de portas abertas pra todo mundo. Pesquisei o Cloves e só tive informações boas a respeito dele. É mais um motivo de estar junto com a gente.”
Já o próprio gerente de Futebol, Cloves, se defendeu. “O Tupi, em 2015, teve a maior cota da Copa do Brasil. Chegou a quase R$1,3 mi de receita nela. Com o acesso em 2015 pra 2016, teve cotas de tv, direitos de transmissão, mais ‘n’ patrocínios. O Tupi possuiu a maior receita dele em 2016. Em março desse ano, eu saí do clube. Todas as dívidas, e isto está comprovado via auditoria, vieram depois da minha saída. Quando saí havia poucas ações trabalhistas. O que complicou a vida do Tupi foi o que fizeram em 2016. Então, não aceito, de forma alguma, nenhum tipo de colocação que a dívida do clube foi provocada por mim. Todas as demissões, trocas que causaram prejuízo e mais de cem ações trabalhistas, eu não estava lá. A auditoria prova. Não que eu tenha responsabilidade nenhuma em algum tipo de dívida, todo clube deve, ninguém passa zerado, mas o Tupi saiu com uma cota de Tv de Mineiro, Série B e Copa do Brasil muito grande. De lá pra cá, o que foi feito, aí é papel da imprensa investigar. Mas saí de lá com o Tupi positivo.”
“Acesso é mantra”
A chave, conforme os dirigentes, após o arbitral do Módulo II, passou exclusivamente para o acesso à elite, além da formação de um time sub-20 a partir já da próxima semana. “A cabeça do jogador, da cozinheira, do porteiro é que o Tupi tem que subir. Tem que mudar de divisão. A cidade precisa comprar essa ideia. É um mantra. O primeiro passo foi entender o cenário que o clube se encontra. A realidade hoje é disputar o Módulo II.”
Para isto, há uma busca pela reaproximação da torcida. “Sócios-torcedores, ingressos, vendas de camisas estão sendo trabalhadas com nossa equipe e existirão. Serão lançadas adequadamente, no momento de nossas estratégias de trabalho”, garante Cloves.
Neste sentido, o diretor revelou que existe uma possibilidade de campanha em que o torcedor contribua, de forma ainda não detalhada, com a escolha de um atacante “camisa 9”.
Orçamento de R$ 700 mil
Perguntado também sobre o montante financeiro que o Tupi deverá possuir para o Módulo II, Jeferson Vitor afirmou que a diretoria tem feito “um levantamento com uma série de implicações, parte mais complexa do trabalho. Ainda estamos tendo contato com empresas para que possam se tornar parceiras nessa empreitada. Dentro da realidade do Tupi, temos um entendimento de que irá ter em torno de R$ 700 mil hoje.”
Há uma projeção de R$ 15 mil de despesas por jogo, entre taxas da Federação Mineira e custos relacionados à logística. “Dá em torno de R$ 165 mil (11 partidas na primeira fase). Com o hexagonal, se passarmos, teremos 21 jogos no total. Acreditamos que, com essa coletiva, as pessoas vão começar a procurar o Tupi, e que vamos falar de coisas que efetivamente dão 3 pontos. Temos batido de porta em porta, conversado com as pessoas, mostrando o projeto e dizer que vale a pena acreditar no Tupi.”
Conforme Cloves Santos, o Tupi quer “trabalhar com uma folha entre R$ 100 e R$ 120 mil pra ter um time competitivo.” O início das atividades depende do nível das contratações por conta das questões físicas. A ideia é tentar atletas ativos para economizar na parte física e investir na técnica.
Também existe a intenção da comissão técnica permanente voltar com prioridade na contratação de profissionais da casa. “O grupo de trabalho tem que ser pago e, ao mesmo tempo, ter rendimento, história com o clube e se identifique com a torcida. Queremos formar aquelas famílias que já foram construídas aqui, o atleta que vestir a camisa do Tupi tem que sentir o peso dela e sentir como obrigação ir pra segunda fase, sem premiação. De lá pra cá vamos trabalhar diferente. A camisa do Tupi ainda pesa muito no cenário nacional, mesmo no Módulo II”, finaliza Cloves