Quando vi a Seleção toda azulzinha no jogo contra a Costa Rica na manhã desta sexta (22), entre um gole e outro de café, senti uma pontinha de esperança involuntária, afinal era minha camisa favorita. Ledo engano. Apesar de emocionantemente termos vencido ‘los ticos’, não sem angústia, eu cheguei à conclusão que, apesar de o futebol ser cercado de superstições, não tem camisa que ganhe jogo. É na raça, no trabalho, na resistência, no “sangue nuzói”, e na sorte, às vezes.
Na vida, infelizmente, não é diferente. Quando Marcus Vinicius da Silva, 14 anos, foi assassinado na última quarta (20) em uma operação policial na sua comunidade, a Maré (RJ), ele vestia o uniforme de sua escola. A operação na Maré tinha como objetivo cumprir 23 mandados de prisão. No entanto, na conta dos mortos “suspeitos” entrou Marcos Vinícius, devidamente vestido, identificado, pronto para entrar em campo em mais um dia de sua vida escolar. Mas não tem uniforme, qualquer que seja, capaz de desestigmatizar a população jovem, negra e de comunidade, que sob a égide do “bandido bom é bandido morto”, acaba recebendo bala portando o pesadíssimo armamento de cadernos, livros e canetas. Não tem uniforme que salve o jovem negro de tantas ações policiais que têm viés racial e social.
E se o Brasil tem, sim, que virar o jogo em campo na Rússia, é urgente que a naturalização de assassinatos como o de Marcus Vinicius como “acidentes” em prol de um bem maior, assim como os responsáveis por isso, tomem um cartão vermelho. A Maré não está nem aí se a Seleção joga de amarelo ou azul, só não aguenta mais seus meninos serem exterminados, ainda que de uniforme escolar.