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Em teste, Gabriel Geraldo alcança dois índices para a Olimpíada de Tóquio

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Nem mesmo cerca de seis meses longe da piscina, por conta das restrições em Juiz de Fora para redução do contágio da Covid-19, diminuem o espetacular rendimento e o apetite de Gabriel Geraldo Araújo na água. O atleta de apenas 18 anos, representante do Clube Bom Pastor e considerado por muitos especialistas uma das principais esperanças da natação brasileira para conquistar vaga na Paralimpíada de Tóquio, programada para ocorrer a partir de agosto de 2021, segue registrando tempos do mais elevado nível no desporto aquático.

Prova disso é a performance de Gabrielzinho, como também é chamado, em um evento de tomada de tempo realizado na última semana, no Centro de Treinamento (CT) do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em São Paulo. O esportista natural de Santa Luzia (MG), mas que mora e treina em Juiz de Fora, com toda a equipe do Bom Pastor, nadou duas vezes abaixo do índice A para Tóquio, tanto nos 50m costas quanto nos 200m livre – resultados não válidos para a obtenção da vaga de forma oficial.

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Equipe técnica elogia comprometimento de Gabrielzinho que, mesmo sem poder treinar, manteve o peso corporal e se destacou no retorno às piscinas (Foto: Alê Cabral-CPB)

À Tribuna, ele comentou sobre o retorno aos treinos, mas mostrou-se surpreso com o resultado. “Venho me preparando desde que retornei à rotina de treinos com toda a equipe do Bom Pastor, em setembro, mas não sabia ao certo que teria uma tomada de tempo. Mas tinha a certeza que eu preciso estar pronto sempre”, conta Gabriel.

Nos 50m costas, o índice A para Tóquio, tempo que ele precisa registrar oficialmente para conquistar a vaga, é de 1min03seg61. No CT Paralímpico, ele fez a prova em 1min00seg12, o que também renderia, se fosse em um campeonato, o recorde brasileiro ao atleta. Seu treinador, Fábio Antunes, destacou o feito de Gabriel.

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“O 50m costas foi espetacular. Ele tinha 1min05seg69, recorde brasileiro. De manhã nadou 1min04seg16 e pela tarde fez 1min00seg12. Foi a primeira vez que nadou abaixo do índice A nesta prova”, reiterou.
Já nos 200m livre, Gabriel atropela o índice A da Paralimpíada, de 4min52seg46. Mesmo não sendo o seu melhor tempo, ele realizou a prova em 4min25seg03 na parte da tarde, em um evento totalmente espelhado no que o nadador deve encontrar no Japão.

“Os resultados foram muito bons para o momento. Neste evento buscamos simular os Jogos de Tóquio. Com isso, nadamos 200m livre e 50m costas de manhã, reproduzindo as eliminatórias, e na parte da tarde, repetimos as provas, simulando as finais. Assim será a programação dos jogos”, esmiúça o técnico Fábio.

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“É sempre bom não ter limites”

Há mais de seis meses sem competir, devido às medidas de segurança, proteção e combate ao coronavírus adotadas pelas entidades esportivas em todo o mundo, Gabriel também pode sentir, novamente, a ansiedade e a sensação que somente as participações em campeonatos oficiais trazem a um atleta.

“Foi uma sensação diferente, aquele friozinho na barriga, aquela adrenalina de competição. Me senti como se estivesse retornando a minha casa, porque na piscina é onde eu me sinto melhor apesar dos obstáculos desse ano”, conta Gabriel, portador de focomelia, uma síndrome congênita caracterizada pela má formação de braços e pernas.

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Os resultados também serviram para fortalecer ainda mais a autoconfiança e moral do nadador após tanto tempo longe das águas. “Significam que sempre posso ir mais longe, dobrar as metas e, consequentemente, saber que estou no caminho certo para a realização do meu sonho. A confiança e a positividade eu sempre tive, sei que com muita luta e todo o foco que tenho consigo ir além”, destaca

Questionado se a manutenção das marcas seria seu objetivo a curto prazo, Gabriel mostrou personalidade e, acima de tudo, maturidade. “Depois dessa tomada de tempo, essas duas provas são as principais, mas é sempre bom não ter limites. Se a equipe e principalmente o Fábio analisar que tem outra prova com boas possibilidades, estarei pronto. Seja qualquer prova, competição e a qualquer momento. Esse é o meu foco e pensamento para cravar o meu nome na história da natação paralímpica.”

Nadador segue focado nos Jogos de Tóquio ano que vem (Foto: Arquivo Pessoal)

“Ele surpreendeu a comissão técnica”

Desde o seu retorno, com pensamento no Open Internacional Loterias Caixa, em São Paulo, programado para março do ano que vem, onde Gabriel poderá confirmar sua vaga em Tóquio, o paratleta se supera diariamente e, nas piscinas, surpreende até mesmo profissionais que o acompanham no Clube Bom Pastor, como contou o treinador Fábio.

“No trabalho de base, focamos na técnica e na propriocepção dele na água. Ele tinha que se reconectar com o meio líquido. Ele chegou para o seu primeiro treino com um peso corporal bom, sem ter engordado. Isso já foi um ponto positivo. Inicialmente achamos que ele ia demorar um tempo maior para voltar a nadar rápido. Mas ele surpreendeu a comissão técnica. Vem evoluindo a cada dia, fazendo bons treinos, ficando mais forte, alimentando com qualidade, cuidando do corpo e da mente. O trabalho da equipe multidisciplinar vem ajudando muito no rendimento dele, com o fisioterapeuta Rodrigo Campos, a nutricionista Thamiris Rezende, psicóloga Mariluci Vieira, médico Darlam Júnior e preparadores físicos Diogo Lima e Rafael Henrique.”

Tudo tem sido meticulosamente preparado para o sonho de Gabriel, que é participar de uma Paralimpíada, se tornar realidade. “Ele tem que nadar rápido na hora certa, então temos que ter cautela e controle de tudo”, complementa o coach.

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