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Ex-Vasco, Ayupe se emociona com biografia: “Uma história de coragem”

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Marco Aurélio Ayupe, natural de Roça Grande, distrito de São João Nepomuceno (SJN), é conhecido por milhares no Brasil afora por seu talento com a bola no pé, sobretudo pelo corredor direito dos gramados nas décadas de 1980 e 1990, quando vestiu importantes camisas do futebol como lateral-direito de Corinthians, Grêmio, Vasco e até mesmo da seleção brasileira infantil. Poucos conheciam, no entanto, seu principal lado: o humano. Isto porque, há menos de um mês, Ayupe, Mineirinho ou simplesmente Marco, teve sua história aprofundada em biografia lançada em sua cidade natal.

A obra “Ayupe, De Roça Grande para o Mundo da Bola”, escrita pelo jornalista Nei Medina, detalha a caminhada vitoriosa de um jovem que deixou a cama de casal onde dormia com sua mãe, aos 12 anos, pelo seu sonho e do pai de a família ter um atleta profissional, até o retorno à Zona da Mata, já com a carreira consolidada, para tomar a frente do projeto social do Núcleo Esportivo SJN, da Prefeitura local, onde atende cerca de 150 jovens com o objetivo da formação cidadã por meio do esporte desde 2003. “Este livro é muito importante porque as pessoas nos conhecem por ser um ex-atleta, ter jogado em alguns clubes, mas não têm ciência da história, das dificuldades que passei para chegar a ser um jogador profissional. Os jovens também, como esses garotos que fazem parte do meu projeto, que sabem que sou ex-atleta, mas não o que vivi ao longo desses anos”, reitera o ex-lateral, hoje com 53 anos. “Estou muito feliz em poder contribuir um pouco mostrando esse caminho. As pessoas muitas vezes não sabem o que acontece nos vestiários, bastidores também”, complementa à Tribuna.

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Livro foi lançado há menos de um mês em São João Nepomuceno, terra de Ayupe (Foto: Fernando Priamo)

Ayupe confessa que ainda não conseguiu ler o livro. Nas primeiras tentativas, a emoção conteve a leitura. “Antes de ser lançado, recebi o rascunho, e meus filhos Junior e Gabriela, além da minha esposa Márcia, leram. Minha filha disse que não sabia muitas coisas que estavam no livro. Eu comecei a ler e chorei, relembrando tudo o que passei e conquistei, dos meus amigos também. Preferi deixar pra ler mais pra frente, mas tenho certeza de que ficou muito bom porque meus amigos e familiares gostaram muito”, explica.

Do Botafogo de SJN às 128 páginas de história

O amigo, jornalista e escritor da obra Nei Medina acompanha Ayupe desde seus primeiros gols, quando o são-joanense ainda atuava no meio-campo. “Eu conheço o Ayupe desde a infância dele, nossa diferença de idade é de cinco anos. Quando eu jogava no juvenil do Botafogo de São João Nepomuceno, às vezes ele vinha num time de garotos mais novos que eu, isso com 11 pra 12 anos de idade, e atuando com meninos mais velhos que ele. Porque lá em Roça Grande ele já jogava no meio de adultos, aí quando pegava garotos da mesma idade ou pouco maiores, tinha ótima desenvoltura. Lembro dele jogando no meio-campo. E eu atuava no Botafogo com o irmão dele, Eduardo Ayupe, que hoje é professor”, contextualiza Nei.

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“Sabia dos feitos dele, como quando foi campeão mundial em 1984 com a seleção brasileira infantil na França, o que está relatado no livro também, além do título brasileiro de 1989 com o Vasco. Outros, já não lembro muito. Ele é campeão estadual de 1990 com o Vasco, também de uma Copa Rio-São Paulo em 1983. Em 1994 já lembro, titular da lateral direita do Grêmio, campeão da Copa do Brasil, depois da A2 do Paulista com o Mogi Mirim em 1995, do Torneio Início do Campeonato Paulista de 1996 com a Portuguesa de Desportos, estadual com o Corinthians em 1997…”, complementa a recordação.

Nei Medina e Marco Aurélio Ayupe durante o lançamento da obra (Foto: Eduardo Ayupe)

A ideia do livro, assim como a biografia de Adil Pimenta, outro ex-Corinthians de São João Nepomuceno, surgiu de parceria justamente com o irmão de Marco Aurélio. “Junto com o Eduardo Ayupe, escrevemos o livro “São João Nepomuceno, um cantinho de Minas e seus talentos esportivos”. Só que ele não foi publicado. Aí depois fiz o Adil e o Ayupe. Queria escrever algo, sou um apaixonado pelo resgate da memória esportiva. Cresci, na minha família, aprendendo a respeitar o sucesso das pessoas, fui preparado por meus pais para isso desde pequeno. E temos o Ayupe, Adil, Helenize de Freitas, Wellington Fajardo, vários atletas que estão naquele primeiro livro (não publicado). Aí conversei e comecei com o Adil, que estava em 25 páginas dessa primeira obra e transformei em 123 para o primeiro livro dele. Com o Ayupe, tive seis encontros, quis fazer diferente. Foram cerca de quatro horas de áudios, fiz um esboço e encaminhei pra ele. Basicamente foi esse o processo”, afirma Nei, que concluiu o livro em 128 páginas.

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Uma carreira de desafios

Nei não titubeia ao exaltar a humanidade de Ayupe, “respeitado por todos de sua cidade e pelos clubes por onde passou.” Assim como desde o começo, com o pai como espelho, o “Mineirinho” não se intimidava pelos desafios e aproveitava as portas abertas. “É uma história de coragem, visto que, com 12 anos, quando ele vai fazer teste no América-RJ, ele ainda dormia na cama de casal com a mãe, e o pai em uma cama de solteiro. E aparece a oportunidade de ir para o Rio morar em um alojamento do América, o que, pra mim, é uma história de coragem. Porque hoje talvez falamos que um menino de 12 anos é um rapazinho, mas naquela época era uma criança que morava num distrito de São João Nepomuceno. Nunca tinha saído de lá”, conta Nei.

“Os desafios e a persistência marcaram ele, o que está relatado no livro, porque por um ano e meio quase ele ficou apenas treinando já que não existia categoria de base na idade dele, o sub-13, no América. Não tinha chance de jogar”, explica o jornalista. Eis que, em um salto talvez impensável, naquele momento, até para Ayupe, um sonho foi realizado antes mesmo do profissionalismo. “Aí vem a mão poderosa de Deus na vida dele. O América foi fazer, no fim de 1983, um ano e pouco depois da chegada do Ayupe, um torneio no Espírito Santo, e o Júlio César Leal, técnico da seleção infantil na época, estava lá para observar os garotos. Ele gostava de jogar no meio-campo e o treinador ainda colocou o Ayupe na lateral esquerda. Só que o Julio César gostou e, em fevereiro do outro ano, convoca o Marco para a seleção que iria disputar o Mundial na França. Foi titular ao lado do goleiro Veloso, William do Vasco, Katita do Cruzeiro, André Cruz e outros nomes conhecidos. Quer dizer: ele enfrentou uma situação de adulto quando ainda garoto e, antes de completar 15 anos, ainda vai para o Vasco. Os jornais do Rio divulgaram a transição, falando que o treinador do América não havia gostado da saída dele, rendeu uma polêmica.”

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Ayupe foi de atleta da base a campeão brasileiro de 1989 pelo Cruz-Maltino, seu time do coração (Foto: Arquivo pessoal)

Nei ainda antecipa outros temas encontrados na biografia. “A expectativa da assinatura do primeiro contrato, a emoção, e a frustração de como foi; a saída depois de sete anos de Vasco, para o Bragantino, e aquele frio na barriga, em que o lateral do time de Bragança Paulista era o Gil Baiano, titular também da seleção brasileira; ele conduziu a tocha olímpica em 2016; tem a história do Núcleo Esportivo, o projeto social da Prefeitura de São João Nepomuceno em que ele está desde 2003, ou seja, 19 anos formando cidadãos e atletas. Ele tem um caráter ímpar, é um excelente pai de família, marido, um cara muito respeitado em todo o município.”

Os livros seguem à venda por Nei Medina no valor de R$ 30 mais frete. Os interessados podem entrar em contato pelo Whatsapp (32) 99952-2703 ou pelo endereço de e-mail neimedina@outlook.com.br. “Estou muito feliz pela procura. Tenho recebido contatos de outros estados, porque a história ficou muito legal, 80% o livro é de falas dele, que é muito humilde e relata tudo o que aconteceu, inclusive dos insucessos.”

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