A menos de dois meses para o início dos jogos, o clima da Copa do Mundo 2018 já tomou conta dos juiz-foranos. Independente de sexo, idade ou time do coração, o objetivo é um só: completar o álbum de figurinhas. Para isso, vale investir tempo, dinheiro e emoção. Os colecionadores mais fervorosos afirmam que também é necessário disciplina e planejamento. A brincadeira se tornou febre nas últimas semanas e tem movimentado diferentes locais de Juiz de Fora, que se transformaram em pontos para negociação dos cromos e encontro para um bate papo sobre futebol.
No Parque Halfeld, um público fiel se reúne diariamente. Nos finais de semana, o local chega a receber mais de cem pessoas para compra, venda e troca de figurinhas. São homens, mulheres, crianças e adolescentes, de Juiz de Fora e região, que acompanham atenciosamente, por meio de planilhas ou aplicativo de celular, o que falta e o quanto falta para completarem o álbum. Quando o objetivo, enfim, é alcançado, o espaço também vira palco de comemoração, como aconteceu com a educadora Marilange Coelho no último sábado (14).
Moradora de Viçosa, Marilange viajou com as duas irmãs para conseguir as figurinhas que precisava. “De quatro em quatro anos venho para cá, pois os lotes são diferentes. Muitas que tenho repetidas, o pessoal daqui não tem. É mais fácil para trocar.” Mesmo assim, ela conta que desembolsou quase R$ 300 para coleção. Cruzeirense de coração, diz que a motivação para completar o álbum deste ano vai além do gosto pelo futebol. “Minha filha, de 21 anos, tem todos os álbuns da Copa desde que nasceu. Agora ela está noiva, se preparando para casar, e eu quero continuar com esta tradição para os netos.”
É também pela tradição da brincadeira, iniciada na infância, que a aposentada Magda Santana se empenha na atividade. “Estou fazendo para o meu neto e meus três sobrinhos netos. Acredito que colecionar é um hábito saudável, que envolve cultura e memória.” A atleticana relata que, inicialmente, comprou 150 pacotes de figurinha, e agora realiza trocas e compras pontuais. “Venho sempre ao Parque Halfeld, mas já teve gente que levou as figurinhas na minha casa para eu escolher.”
Figurinha de Pelé é a mais concorrida e pode custar até R$ 35
Não tem para Neymar, Messi ou Cristiano Ronaldo. Do total de 681 figurinhas que preenchem o álbum da Copa 2018, a mais concorrida é a do eterno camisa 10 da Seleção Brasileira, Pelé. Segundo os colecionadores, ela está entre as mais raras e, como manda a lei da oferta e procura, também é a mais cara na venda avulsa. O preço chega a R$ 35, sete vezes mais do que os principais nomes do futebol atual. “As figurinhas dos jogadores brasileiros custam R$ 3, com exceção do Neymar que é R$ 5. As mais comuns, sem brilho, são vendidas por R$ 0,50. As das cidades e dos times, por R$ 1. Aquelas que são destaque, brilhosas ou com os craques da moda valem R$ 5 também”, diz o pizzaiolo José Alberto da Silva.
O pacote com cinco figurinhas é vendido nas bancas de jornal por R$ 2. Na reta final para completar o álbum, os colecionadores dão preferência à troca ou compra avulsa. “A chance do pacote vir repetido é maior, então eles querem poder escolher”, explica José. Com o emprego no horário noturno, ele tem dedicado as manhãs à venda e troca dos cromos no Parque Halfeld. “Já completei meu álbum, e estou quase terminando o segundo. Minha ideia é ter dois para vender um, e ter o retorno do que gastei.” A estimativa dos colecionadores é que o álbum preenchido pode valer até R$ 600.
Quem não tem pressa para terminar a brincadeira pode adquirir as figurinhas pela internet. No site da editora Panini é possível comprar até 40 por vez, cada uma pelo preço de R$ 0,40. Neste caso, o consumidor arca com o valor do frete para a entrega.
Boas notas, planilha e economia da mesada: vale tudo para completar o álbum
O custo para completar o álbum da Copa 2018 foi estimado em R$ 1.938, conforme levantamento feito pela plataforma Cuponation. Para driblar este custo, vale todo tipo de estratégia. Entre o público mais jovem, as artimanhas são diversas e vão desde promessa para os pais, economia da mesada até mudança de planos.
O estudante Caio Cardoso conta que juntou R$ 700 para comprar um tênis, mas decidiu investir na compra de figurinhas. Ele garante que não se arrependeu. A sorte também resolveu dar uma forcinha: o adolescente achou três figurinhas do Pelé. “Agora só estou vendendo as repetidas para tentar reaver o que gastei, que passou de mil reais.” Para isso, ele vai aos fins de semana, na companhia da mãe Monica Cardoso, ao Parque Halfeld. “Venho com ele por segurança, mas acaba sendo também um momento de distração em família.”
A pesquisadora Carla Lange, mãe do adolescente Thomas, concorda. “Ele está envolvido com a coleção, então, decidimos vir pela primeira vez apenas para trocar as figurinhas. É uma forma de entretenimento.” Atento aos cerca de 200 cromos que faltam, o jovem torcedor tricolor criou uma planilha para acompanhar cada avanço rumo ao objetivo final. Segundo ele, além de disciplina é preciso sorte. “A figurinha do Messi está bem difícil de achar.”
Amigos do colégio, os adolescentes Guilherme Chaves, Breno de Souza, Lucas David, João Vitor Macedo e Allan Chang têm recorrido às trocas para minimizar os gastos com o álbum. “Meus pais também gostam de colecionar, então eles me ajudam a comprar os pacotinhos”, conta João. Outras estratégias também são adotadas. “Eu combinei ter boas notas, e estou cumprindo”, garante Allan. “A gente sempre dá um jeitinho. Pede para família, economiza na merenda, troca com os amigos”, relata Lucas.