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A apoteose de Jorge Jesus

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Uma iguana roubou a atenção de Jorge Jesus antes de uma sessão de treinamento em Barranquilla, Colômbia (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo/Divulgação)

A maioria dos rubro-negros desconhecia Jorge Jesus quando anunciado pelo Flamengo, há aproximadamente um ano. Não bastasse o próprio clube ser treinado por Jesus, estaria ainda, ao seu lado, na linha técnica, João de Deus. Era demais até para qualquer cristão. Ainda que o Flamengo estivesse há dez anos sem conquistar títulos de maior relevância, a chegada de Jorge Jesus não era necessariamente uma interpelação divina na Gávea.

Afinal, se ordem divina fosse, qualquer rubro-negro desdenhoso saberia que o nome seria Arthur, não Jesus. Entretanto, passados 13 meses, não há sequer uma alma que seja Flamengo e não defenda uma apoteose para o português. Dizem por aí que um bacana da Baixada Fluminense até carta para o Papa Francisco escreveu para suplicar a canonização. E ele é evangélico.

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Jorge Jesus foi o artífice de um time que atendia à euforia mais deslavada de qualquer rubro-negro. E não houve tratado algum; nenhum tipo de armistício diante de uma dificuldade iminente. Se antes arrebatavam, os próprios torcedores foram completamente arrebatados. O Flamengo de Jesus é histórico porque é desesperado, tal qual a sua torcida. Sobrava ardência ao Flamengo. Grandes times reproduzem em campo fielmente a personalidade de seus treinadores.

Eufórico, intenso, insaciável, cabal, petulante, presunçoso. E chato, sobretudo. Como o próprio rubro-negro que está caçoando do ambulante a poucos metros de distância no cruzamento entre a Avenida Getúlio Vargas e a Rua Marechal Deodoro enquanto vende óculos de grau. Ou máscaras ou sombrinha ou luvas – o varejo sazonal é muito sagaz. Para lá da linha de defesa alta, da pressão ofensiva e da capacidade de ocupação de espaços e essas coisas, o grande mérito de Jesus foi a simbiose estabelecida genuinamente com os rubro-negros. Não me lembro de as arquibancadas saudarem treinador algum.

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Não sei se Jorge Jesus é maior do que Cláudio Coutinho ou Carlinhos Violino. Tampouco do que Fleitas Solich. Na verdade, não me interessa saber. Mas Jesus entregou aos rubro-negros que viram Zico memórias que pensavam estar restritas ao time de 1981. E, aos mais novos, que só viram Petkovic e Adriano, a certeza de que é possível testemunhar a história. Há mais uma escalação a ser decorada além daquela que vai de Raul a Nunes. E há 13 meses nenhum torcedor que seja Flamengo mesmo imaginaria nela Willian Arão.

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