Depois daquele jogo, Tite não escondeu que esperava melhor rendimento do Brasil. “Essa seleção tem condição de produzir mais e de forma equilibrada. Ela sentiu emocionalmente o gol (que sofreu)”, comentou. “As finalizações precisam ser mais precisas, mais frias. Claro que a minha expectativa era de vitória. Não estou feliz com o resultado (1 a 1)”.
Ao longo da semana, o treinador parecia mais fechado do que o normal nos treinamentos em Sochi, cidade escolhida pelo Brasil na Rússia. Tite manteve o hábito de ficar conduzindo a bola de um lado para outro do campo enquanto os jogadores faziam o seu aquecimento, mas inovou ao participar da tradicional roda de bobinho na última terça-feira. O comandante jogou poucos minutos – sem ser o bobo em momento algum, claro — e deu sorrisos tímidos. Foi naquela brincadeira que, instantes mais tarde, o atacante Neymar reclamaria de dores no tornozelo direito. E a preocupação de Tite só aumentaria.
Desde que o atacante voltou a treinar com bola, o técnico sempre trabalhou com a convicção de que teria o seu melhor jogador em totais condições a partir do terceiro jogo da Copa do Mundo. Neymar jogou no último domingo durante 90 minutos, mas esteve abaixo do que se esperava e apanhou muito além do limite do tolerável: 10 faltas. Tite pelo menos sabe que poderá contar com ele nesta sexta, porém tem a angústia alimentada sobre qual é a condição do atleta. O talento dele é fundamental para acabar com os demônios que rondam a mente do treinador brasileiro.
Tite assumiu a seleção em junho de 2016 com a missão de ser salvador. A equipe estava em sexto lugar nas Eliminatórias e estrearia o novo técnico no confronto fora de casa contra o então líder, o Equador. A expectativa era somente começar bem. Um empate bastaria. A vitória por 3 a 0 abriu caminho para a consolidação do status de que o técnico é, de fato, um salvador da Pátria.
Cobrança
Depois de 22 jogos no cargo, a pressão e a cobrança finalmente chegaram. O futebol que encantou e dominou os adversários nas Eliminatórias deu lugar a uma atuação insegura no primeiro jogo da Copa do Mundo. Após muito tempo, o treinador começou a conviver com as primeiras críticas e lidar com atuações ruins. Situação inédita. Um dia antes da estreia, em Rostov, Tite reconheceu que estava ansioso para a partida. Usou inclusive uma expressão que lhe é corriqueira, “espantar os fantasminhas” que lhe assombravam para o tão esperado primeiro jogo de Copa do Mundo.
Desde aquele empate contra a Suíça, todos eles voltaram. E com muita força. A equipe preparada e comandada por ele se tornou refém das expectativas altas que criou no povo brasileiro. A torcida havia perdido a fé na seleção depois do 7 a 1 sofridos diante da Alemanha e das decepções nos anos seguintes, em duas edições de Copa América.
O técnico desembarcou na quarta (20) em São Petersburgo e mostrou confiança. Na cabeça de Tite, o empate foi um mal necessário para mostrar falhas. Para tranquilizar o elenco, o treinador mencionou nos últimos dias que não é preciso ter 100% de aproveitamento na primeira fase para avançar às oitavas de final. Foi uma forma de aliviar a pressão gerada pelo tropeço na estreia.
Tite se apega às contas de Mundiais anteriores. Com sete pontos (um empate e duas vitórias) sempre uma equipe se classificou. Mesmo cinco pontos (dois empates e uma vitória) são suficientes na maioria dos casos. Todas as projeções foram apresentadas ao elenco nos últimos dias. “Temos uma nova oportunidade para jogar Temos que fazer um grande jogo e dar a volta por cima”, disse o meia Philippe Coutinho. É isso o que Tite mais deseja para voltar a se acalmar.