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Cuidadosa para evitar Covid, Beatriz Ferreira mira Pré-Olímpico: ‘espero ser um exemplo para todos’

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A atleta radicada em Juiz de Fora é um dos principais nomes da seleção olímpica de boxe (Foto: Reprodução/Instagram)

Beatriz Ferreira é considerada, atualmente, uma das esportistas mais importantes do Brasil. Número 1 do mundo na categoria 60kg, a pugilista carrega o sonho de disputar a Olimpíada de Tóquio, programada para começar em 23 de julho deste ano, e, para a maioria dos analistas da área, a baiana radicada há mais de 15 anos em Juiz de Fora é uma das principais esperanças de medalha para o país nos Jogos do Japão. No mês marcado pelo Dia Internacional da Mulher, a Tribuna conversou com a atleta da seleção brasileira de boxe sobre os títulos conquistados recentemente na Europa, os protocolos sanitários adotados ao longo da sua estadia fora do país em função da pandemia e sobre a vontade de ela seguir com o profissionalismo e as vitórias para ser ainda mais vista como uma referência a jovens de todo o mundo. Nos últimos dois domingos, a reportagem já havia contado, também, histórias da triatleta Talita Antunes, que se recuperou de uma complicação cardíaca da Covid-19 e reiniciou sua preparação para o Ironman , e da promissora Victoria Ribeiro, de apenas 15 anos, que acertou com clube de futebol português após ter recebido três propostas do exterior.

Na última semana, Bia incrementou sua bala em território europeu com um novo título na carreira. Em bolha instalada em um hotel, ela foi campeã do Cologne World Cup, competição disputada na Alemanha. O caneco sucedeu conquista do bicampeonato de um dos torneios mais tradicionais do mundo, o Strandja, na Bulgária, sacramentado no final de fevereiro. Os resultados elevaram a confiança da atleta de 28 anos após meses de treinamentos adaptados em Juiz de Fora e São Paulo, durante a quarentena da temporada passada.

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Bia dividiu treinos com atletas de outros países, como em sparring com a búlgara Stanimira Petrova (Foto: Reprodução/Instagram)

“Eu tô muito feliz de ter conseguido esses dois títulos. Apesar de a gente estar nessa pandemia, deu pra manter meus treinamentos, não intensivos como se tivesse uma rotina normal, mas com um equilíbrio entre todos esses protocolos”, reitera. “Logo quando a gente voltou, era minha dúvida se estaria preparada. Mas aí tive o Balkan na Bulgária também e consegui ser campeã. Vi que, por mais que a gente tenha passado por isso tudo, ainda estava tendo um alto rendimento, com foco bem ativo. Continuei me preparando e esses títulos não são novidades porque eu sei o quanto treinei pra isso e estava concentrada. Não tinha como dar errado.”

Pugilista vive momento mágico de hegemonia na categoria 60kg nos últimos anos (Foto: Reprodução/Instagram)

Base na Europa com foco na Ásia

Além da experiência vitoriosa em nações europeias, Bia também teve um intercâmbio com atletas de outros países, sempre concentrados em bolhas sanitárias para evitar as contaminações. “Fui para a Europa no início de fevereiro e fiquei lá em uma base de treinamento na Bulgária até o início da competição. Depois veio o campeonato e, em seguida, fomos pra Alemanha. Ficamos mais um tempo lá, com trabalho de base, envolvendo atletas de outros países também. E depois veio o outro torneio. Foi um mês e meio mais ou menos entre campings e competições. Foi um aprendizado, a gente brinca que a Europa é diferente, tem algumas estruturas que ainda não temos no Brasil, então é sempre produtivo treinar lá”, destaca.

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De volta ao seu país, Bia não terá folga diante da proximidade dos Jogos de Tóquio e distância ainda menor do Pré-Olímpico, agendado para maio na Argentina, sua prioridade no momento. “Daqui pra frente é continuar treinando forte. Tenho que estar pronta pra qualquer situação que possa aparecer, mas o foco é classificar para os Jogos Olímpicos, eu e o maior número de atletas possível no boxe. Estou muito confiante que nossa equipe vai levar muita gente, espero isso dos meus companheiros, vejo no dia a dia a vontade deles, a dedicação, estão todos maduros e prontos. E Tóquio está logo ali, agora mais perto do que longe, então o foco é esse e vamos buscar um bom resultado lá”, destaca, otimista.

‘Espero ser um espelho’

Em meio às medalhas, nocautes e hegemonia vivida em sua categoria com os principais títulos conquistados nos últimos anos, como Mundial e Pan-Americano, Bia ainda assimila o fato de se tornar referência para não apenas os pugilistas contemporâneos e mais jovens, como para todos aqueles que sonham com um futuro moldado pelo esporte.

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“Foi minha primeira vez na Alemanha, por exemplo, gostei muito e espero voltar logo. Fico muito feliz de estar vivendo isso tudo através do meu esporte. Sempre quis ser uma atleta de alto rendimento, a partir do momento que tinha que escolher uma profissão, mas não sabia que teria a oportunidade de conhecer tantos países, de estar descobrindo tantas coisas e culturas diferentes, e fico muito feliz com isso”, conta a baiana/juiz-forana.

Atleta exibe último troféu conquistado, do Cologne World Cup, na Alemanha (Foto: Reprodução/Instagram)

Marca de Bia e também do pai, Sergipe, testemunhada pela reportagem há anos, a humildade da atleta, mesmo com tamanhas conquistas, permanece. Questionada sobre já ser uma referência no mundo esportivo, ela conta ficar “até sem jeito de estar respondendo. Mas espero ser um espelho para todos. Um incentivo pra meninada, pra mulherada e para os meninos também, pro atleta em si que quer se arriscar no esporte. Não é fácil, tem muita gente que acha que é. Que você só viaja, mas temos que enfrentar muitas coisas, passar por diversas situações e ainda manter o foco”, destaca.

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As recompensas de todas as renúncias de um atleta ao longo da carreira, no entanto, valeram a pena. “Quando você começa a ter sucesso nos seus treinos, passa a conquistar vitórias e mais coisas por meio do seu esporte e isso tudo é muito significativo e compensa todo o sacrifício que você fez desde o início. É o que falamos aqui no boxe, você precisa plantar, regar e, depois, sim, vir a colher. Fico muito feliz com meu momento, espero que muita gente que me siga tente ser melhor que eu, porque não pode querer ser igual, mas sim melhor. Temos sempre que estar buscando isso. E esse é um dos motivos que faço meu trabalho tão bem feito, poder inspirar as pessoas a querer fazer também.”

‘Pela lógica eu já teria a vaga’

Mesmo com todas as conquistas, paralisação da última temporada por conta da pandemia e pela hegemonia nos ringues e nos rankings pela categoria 60kg, Beatriz Ferreira ainda não garantiu sua ida para o Japão. A princípio, ela terá que disputar o torneio classificatório para Tóquio, realizado na Argentina, daqui a menos de dois meses.

Já saíram alguns rankings, da AIBA e do COI, e sou a primeira colocada neles. Não procuro ver isso a fundo, porque pela lógica eu já teria a vaga, mas, se vai rolar o Pré-Olímpico, meu objetivo é ser campeã dele, assim como faço em todos os campeonatos que vou. Meu objetivo é ir e ser campeã, aí acredito que meu passaporte, sem sobra de dúvidas, vai ser carimbado pra Tóquio”, avalia.

Contudo, independentemente da importante pendência para sua participação olímpica, ela possui a segurança de que tem trabalhado da forma correta para buscar o evento mais cobiçado do mundo pelos esportistas. “Cada competição tem sido um aprendizado para a próxima. Ficamos contentes, mas temos que ver o que erramos, onde podemos facilitar para que os próximos desafios sejam mais fáceis ou que não tenham tantas surpresas pra sair com o ouro novamente. Estou no caminho certo, me preparando bem em meio a essa dificuldade toda, seguindo ‘firme na rocha’ e acredito que vou ter bons resultados em Tóquio.”

‘Os protocolos estão sendo bem rígidos’

Apesar dos compromissos profissionais de Bia por diferentes países em meio à pandemia, a pugilista nunca foi contaminada pelo coronavírus, o que ela atribui aos cuidados tomados por enxergar o tema com seriedade.

“Os protocolos estão sendo bem rígidos. Estamos sendo testados toda hora. Fomos testados pra viajar, quando desembarcamos, quando estávamos na base na Europa, antes de competir. Já nem sei quantos testes fiz pra saber se estava com coronavírus ou não. Nunca me contaminei, eu e mais alguns atletas do boxe. E os que tiveram e que são da equipe (seleção olímpica) foi no período da quarentena, ou seja, estavam em casa”, conta Bia, receosa com possíveis consequências no caso de ela ou algum companheiro de time contrair a Covid-19.

“Estamos tomando todos os cuidados, tanto a Confederação (Brasileira de Boxe) quanto os atletas, porque sabemos que não é uma brincadeira e pode causar sequelas, o que, para um atleta, é muito pesado, ainda mais em um ano olímpico. Preferimos tomar esse cuidado, todos querem estar em Tóquio. E nas competições, os atletas chegam, ficam isolados em um hotel, fazem exame e só podem sair depois que o resultado der negativo. Durante a competição ficamos em uma bolha. Na Alemanha, por exemplo, era tudo feito no hotel, não saíamos de lá pra nada. A competição, comida, exames, tudo era lá. Fazíamos os testes de cinco em cinco dias, usávamos máscara o tempo todo, álcool gel. E acho que ninguém se contaminou. Tivemos que refazer os testes no fim do torneio pra viajar e todos deram negativo”, assegura.

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