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“Não podemos ser toleráveis”: atletas LGBTQIA+ de JF clamam por respeito nos esportes

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Enquanto a celebração do Miss Gay, que será realizado neste sábado (20) em Juiz de Fora, traz uma grande manifestação artística e cultural e reforça a existência de corpos LGBTQIA+, no esporte, a presença de pessoas dessa comunidade ainda é vista com enorme preconceito pela sociedade. A Tribuna conversou com o atleta de vôlei universitário e ex-presidente da atlética de educação física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Matheus Neves, e com a jogadora de futsal do Clube Bom Pastor e fisioterapeuta do Tupi, Rebeca Bastos, membros LGBTQIA+, que ainda enxergam, no esporte local, enorme preconceito das pessoas e medo dos atletas em revelarem suas orientações sexuais por conta de julgamentos baseados não na questão esportiva, mas regados de ódio dos que ainda lhes enxergam como diferentes.

De acordo com Matheus, gay, não há mais espaço para preconceito nos esportes. “Se acontecer, eu paro a partida ou o treino. Não admito. Chamo atenção. Se possível, chamo a polícia. Homofobia é crime, as pessoas precisam entender. Não podemos ser toleráveis. Já está tudo explícito, a pessoa tem que querer conhecimento. Ela não precisa aceitar, mas precisa respeitar”, acredita o jovem de 22 anos. A opinião de Rebeca, 24, bissexual, é a mesma. “Se eu vejo o preconceito acontecendo com outra pessoa, me sinto mal e vou debater. Chamo a polícia, porque homofobia é crime. Temos que abraçar a lei que assegura a gente para sermos felizes do jeito que somos”, analisa a atleta.

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Matheus comemora conquista na CAV, competição universitária (Foto: Arquivo pessoal)

Respeito e orgulho LGBTQIA+

Rebeca tem histórico vitorioso pelo futsal do Clube Bom Pastor (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo a atleta de futsal, o preconceito no esporte é tão latente que indivíduos utilizam até de episódios de crimes para atacar pessoas LGBTQIA+ pela orientação sexual. “Em casos de assédio de professor e aluno do mesmo sexo, usam isso para falar mal de homossexual. Mas isso não é pela orientação sexual, é por ser doente mesmo, é pedofilia. Imagina o que passa na cabeça de um profissional fazer aquilo com criança ou adolescente. Não tem a ver com ser gay ou lésbica”, repudia Rebeca.

“Estamos no mundo para sermos felizes. Mas é muito complicado. No balé, por exemplo, se um homem pratica já é considerado gay, e pode não ser. Na ginástica, a mesma coisa. O esporte que ela escolhe não define a sexualidade. Pode ser gay e jogar futebol, o que tem de errado?”, questiona a jovem.

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Matheus reitera, ainda, que o olhar distorcido da sociedade reflete diretamente também no mercado de trabalho no meio esportivo, bem como em outras áreas. “As pessoas que são LGBT’s possuem uma dificuldade enorme em alcançar lugares maiores dentro da modalidade por causa desse preconceito. É algo muito delicado esse assunto nas nossas vidas. As pessoas puxam gatilhos que são muito grandes. Tirando algumas modalidades que as próprias pessoas fazem questão de demonstrar isso, tudo fica implícito. Não deveria ser assim”, conta o atleta.

O que o estudante e a fisioterapeuta também concordam é que as pessoas da comunidade precisam de muita força e imposição. “Até que não senti muita resistência quando era presidente da atlética porque as pessoas já me conheciam na faculdade, reconheciam a importância do que eu fazia. Eu não deixava o fato da minha sexualidade transparecer fraqueza, nunca fui fraco”, conta Matheus. Rebeca, que sofria de apelidos maldosos na infância, se considera uma guerreira. “Quando eu era mais nova, até brigava. Chorava, era complicado. Mas agora criei casca, deixo pra lá quando ouço algo. Sou bissexual com maior respeito e orgulho”, declara Rebeca.

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‘Receio de não ter lugar para treinar’

Com o provável julgamento das pessoas ao assumirem sua orientação sexual, alguns atletas precisam esconder o que são, como relata Matheus. “Um amigo meu, quando foi selecionado para a seleção brasileira de vôlei, não contou que era gay pelo medo de ser cortado da equipe por conta da sua sexualidade. Existem muitos outros. Eu mesmo, no início da minha carreira, evitava falar para não ter risco. Têm pessoas que mesmo com muita aptidão no futebol, acabam nem praticando, por conta do receio de não ter lugar para treinar sendo assumido”, relembra o garoto. “A adesão aumenta um pouco no quesito universitário, com as atléticas, mas só em alguns esportes, como o vôlei”, acredita.

Para os dois, os esportes femininos são mais abertos para pessoas LGBTQIA+. “Na minha análise, basquete, futebol e futsal masculino são os esportes coletivos que possuem menos pessoas que são assumidas”, acredita o jogador de vôlei. “No feminino, nos declaramos mais, não temos tanta vergonha. Parece que não pesa tanto essa questão da orientação sexual. Mas para homens, muito. Quantos do futebol profissional se assumem gays? Só por essa pergunta já vemos que vários atletas são, mas não se assumem por medo. As pessoas podem falar mal do atleta, agredir verbalmente e até fisicamente”, lamenta Rebeca.

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“Precisamos de apoio. Temos família, sentimento”

Mesmo que enxerguem avanços no ainda lento processo de igualdade de gênero, os dois atletas reforçam que ainda há muito para ser melhorado à comunidade LGBTQIA+. “Existe uma coisa muito estrutural dentro disso. As pessoas acham muito normal nos chamar de ‘bicha’, ‘viadinho’, ‘mulherzinha’. Isso não pode ser motivo de chacota e brincadeira. É a vida das pessoas. Utilizando essa brincadeira de péssimo gosto, ofende nós LGBT’s. Você repensa o que você é como pessoa. Não é nada confortável”, testemunha Matheus. “Precisamos de leis que nos respaldam em tudo, não só no esporte. Mas na sociedade como um todo. As pessoas têm que evoluir para que a vivência seja melhor, em qualquer ambiente. É respeitar o próximo independente de qualquer coisa. Educação é o básico”, pede Rebeca.

Para o ex-presidente da atlética de educação física, as oportunidades e os projetos precisam ser ampliados, fortalecidos e divulgados. “Uma ideia é fazer um grupo maior de apoio, com profissionais da área da saúde, principalmente psicólogos. Quando a pessoa ainda está na adolescência, se descobrindo, é muito complexo. Não se aceita do jeito que ela é, é importante muita conversa. Os professores precisam ter mais conhecimentos sobre como agir em situações adversas. É necessário ter espaço para que essas pessoas tenham voz e mostrar que o preconceito não é normal. Somos da mesma forma que uma pessoa cis hétero. Temos família, sentimento. Precisamos de apoio não só no esporte, mas em todos os âmbitos”, pede.

Já Rebeca pede por garantias constitucionais. “Precisamos de leis que nos respaldam em tudo, não só no esporte, mas na sociedade como um todo. As pessoas têm que evoluir para que a vivência seja melhor, em qualquer ambiente. É respeitar o próximo independente de qualquer coisa. Todos precisamos ver o ser humano da maneira mais linda possível, que é no amor. Seja pelo mesmo sexo ou oposto, vamos ser felizes”, aconselha.

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