O primeiro duelo da semifinal do Campeonato Mineiro entre Tupi e Cruzeiro será em Juiz de Fora, às 21h45 desta quarta-feira (21), no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. O veredicto ocorreu por volta das 14h desta segunda-feira (19), após reunião da presidente carijó, Myrian Fortuna, diretores do clube e representantes da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). A informação sobre o local do jogo foi inicialmente divulgada pelo vice-presidente de Futebol celeste, Itair Machado, no Twitter, e confirmada à Tribuna pelo gerente de futebol carijó, Nicanor Pires. Minutos depois, em nota oficial, o Tupi confirmou a remarcação do duelo, assim como a Federação Mineira de Futebol (FMF).
Em nota, o Tupi afirmou que “após reunião na Prefeitura no início da tarde de hoje (19), o Tupi Football Club decidiu manter em Juiz de Fora o primeiro jogo da semifinal do Mineiro, na próxima quarta-feira, às 21h45. O apelo da cidade e dos torcedores que realmente participam da rotina do time e a atuação do diretor de futebol Nicanor Pires foram fundamentais para a definição, que imediatamente já foi comunicada à Federação Mineira e ao Cruzeiro. O Tupi reforça que o momento agora é de concentração de toda a população de Juiz de Fora em torno do clube, sua diretoria e seus jogadores, em mais esse momento decisivo da vitoriosa trajetória carijó, e conta com todos no Estádio Municipal nesta semifinal.” A reportagem solicitou detalhes da reunião à assessoria da PJF, que se limitou a ratificar a nota oficial divulgada pelo Carijó.
A polêmica sobre a definição do palco do duelo foi instaurada após a cúpula carijó confirmar, no domingo (18), a transferência do jogo para o Mineirão, em Belo Horizonte (MG). A vaga nas semifinais foi garantida após o carijó vencer o Tombense no último sábado na disputa de pênaltis após empate em 0 a 0 em tempo normal, resultado que garantiu ao time local o título de campeão mineiro do interior. Na manhã desta segunda, a diretoria alvinegra concedeu entrevista coletiva na sede social do clube e alegou justificativa exclusivamente financeira na mudança do local. Os relatos foram marcados por protestos de grupo de torcedores, que direcionou ofensas sobretudo à mandatária da agremiação e Nicanor Pires.
Ingressos e transporte
O Tupi irá cobrar R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) nos ingressos para a partida no Estádio Municipal. O valor foi confirmado pela assessoria do clube na noite desta segunda (19), mas os pontos de venda e a carga de bilhetes ainda não haviam sido divulgados até o fechamento desta edição. A tendência é que o clube comece a comercialização das entradas nesta terça (20), nos postos de venda tradicionais na cidade. Os bilhetes deverão ser vendidos de forma antecipada no Calçadão da Rua Halfeld, no Centro, e na sede social carijó (Rua José Calil Ahouagi, 332, Centro).
Há, ainda, a pendência em relação ao transporte coletivo para o jogo. Com a possibilidade de motoristas e trocadores de ônibus entrarem em greve a partir das 0h desta quarta (21), a Settra também não havia se posicionado sobre a cessão dos veículos para os torcedores irem ao Estádio, como tradicionalmente ocorre.
Antes da publicação da nota do Tupi, Nicanor revelara à Tribuna não ter participado da nova decisão. Segundo o diretor, a presidente Myrian Fortuna teria comunicado a mudança após reunião com representantes da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). A reportagem não conseguiu, até o momento, contato com a comandante da cúpula alvinegra.
‘Eu não vejo a cidade pensar no clube’
“A decisão de levar o jogo para Belo Horizonte é exclusivamente financeira.” A constatação foi feita pelo diretor de futebol do Tupi, Nicanor Pires, em entrevista coletiva concedida na manhã desta segunda-feira (20), na Sede Social do clube, no Centro, antes da reviravolta do início dessa tarde. Ao lado da presidente Myrian Fortuna, do diretor de marketing, Bernardo Fortuna, e na presença do goleiro Villar, do meio-campista Tchô e do lateral Rodrigo Dias, a diretoria explicitou os motivos que fizeram o clube tomar a decisão de levar o confronto contra o Cruzeiro para Belo Horizonte. Segundo Nicanor, a ideia era buscar a maior arrecadação para tentar salvar o restante de 2018 do Tupi.
Em diversos momentos, representantes carijós ressaltaram que a baixa presença de público nos jogos do clube, inclusive nos bons momentos, como disputa da Série C e Campeonato Mineiro, foi um fator que pesou para decisão. “A gente compreende a insatisfação do torcedor, mas chegou a hora de a gente pensar no clube. Até hoje, desde que eu estou aqui, eu não vejo a cidade pensar no clube. A cidade não apoia o Tupi, não abraça. Boa campanha do Tupi no campeonato não significa bom público. E no futebol só existe uma forma de levar o torcedor, fazendo uma boa campanha. Foi assim na Série C, torcedor não compareceu, e agora no Mineiro”, lamentou Nicanor.
O mesmo questionamento foi feito pela presidente Myrian Fortuna, que chegou a afirmar que a movimentação dos torcedores após a nota oficial na noite de domingo (20) teria relação com o fato de um time grande jogar em Juiz de Fora. “Quem é que está pensando no Tupi, quem pensou no Tupi quando a portaria na Série B dava 200 pessoas? Está todo mundo brigando porque eles querem ver o Cruzeiro aqui, porque o Tupi jogou o ano passado o ano inteiro, mas quantas pessoas foram ver? Foram ver o Vasco, a torcida do Fortaleza, e agora querem ver o Cruzeiro, mas o Tupi ninguém quer ver. Isso é uma vergonha, não tenho medo de fazer o que eu faço pelo Tupi”, defendeu a dirigente antes de mudar de ideia poucas horas depois.
Torcedores protestam
Do lado de fora da sede, diversos torcedores protestavam contra a decisão da diretoria de levar o confronto para Belo Horizonte. Em certo momento, quando os dirigentes entravam no estacionamento da sede, alguns tentaram invadir o local. A Polícia Militar estava no local e controlou a situação.
Diante da revolta, mesmo com a garantia de transporte e ingressos gratuito, os cerca de 30 torcedores que se manifestavam foram unânimes em afirmar que não viajariam. “O clube tem que manter a tradição de jogar aqui. Eu não vou, faço uma campanha para que ninguém vá. Se o Tupi não quer jogar aqui, que ele arque com a consequência. Se ele acha que nós não somos capazes de apoiar o Tupi, que fique por lá”, afirmou o torcedor Fabrício.
“O que aconteceu hoje na sede social foi a sacramentação de um dos momentos mais vergonhosos da história do Tupi. Dirigentes desconexos, palavras vazias e sem argumentos válidos. A única explicação para mim é desprestigiar a torcida daqui. Como um dirigente disse, é uma aposta deles. É muito complicado fazer essa aposta, ainda mais em outra cidade”, lamentava o torcedor Otávio Botti.
Após a coletiva, ainda antes da reviravolta, o meio-campista Tchô foi conversar com a torcida para dar explicações sobre a decisão. “A gente sabe que eles ficam chateados. Se fosse escolher, a gente queria o jogo aqui. Nós, jogadores, queríamos jogar aqui. A gente pede desculpas, somos funcionários, isso foge do nosso controle”, se defendeu, sem saber que teria seu desejo de jogar em Juiz de Fora atendido em poucas horas.