A maioria dos brasileiros é apaixonada por futebol, tem time do coração, acompanha campeonatos nacionais e até mesmo internacionais com interesse. Com isso, o que gira em torno do mundo da bola acaba fazendo parte da vida e não é difícil encontrarmos gente que coleciona artigos ligados ao esporte, como camisas, figurinhas e outros artigos. E há ainda quem leve a paixão pelo velho esporte bretão bem mais além. Juiz de Fora ganhou um desses aficionados pelo esporte recentemente, vindo da vizinha Santos Dumont. O militar aposentado Vicente “Narroia” Filho, 51 anos, se mudou para a cidade no início desse ano, trazendo centenas, talvez milhares de artigos históricos como álbuns, bonecos, revistas, flâmulas e objetos ligados a clubes, craques e competições, em sua maioria ainda empacotados por conta da mudança.
Não satisfeito somente em preservar parte da história do futebol em sua casa, Narroia, vascaíno que tem uma coleção de camisas – da qual já perdeu a conta – de diversos clubes, incluindo o arquirrival Flamengo, passou a suas próximas gerações um legado de peso. Seu primeiro filho, hoje com 18 anos, se chama Francescoli, em homenagem ao meia-atacante uruguaio que fez história com a camisa do River Plate e atuou pelos gramados mundo afora nas décadas de 1980 e 1990. Já seu segundo menino, de 8 anos, foi batizado como Zidane Romário, carregando o nome de outras duas lendas do esporte mundial que penduraram as chuteiras mais recentemente.
Segundo o aposentado, homenagear jogadores famosos foi um pensamento que acabou surgindo de um sonho frustrado e comum à maioria dos garotos nascidos no Brasil. “A ideia nasceu de minha paixão pelo futebol. Como quase todo menino, tentei jogar bola, mas a vida me encaminhou para outros lados. Mas daí surgiu a vontade de homenagear figuras importantes do mundo da bola quando tivesse meus filhos. Então, combinei com a esposa que, caso nascessem meninos, eu daria o nome. Se fossem meninas, ela ficaria a cargo disso. Tive sorte, vieram dois rapazes.”
A escolha
Para escolher os nomes, Narroia usou um critério tão objetivo quanto possível: o desempenho em campo.”Quis colocar o nome do primeiro de Francescoli porque ele nasceu em 1996, mas a gestação aconteceu em um período que pegou a Copa América de 1995 (realizada entre junho e julho daquele ano). E o jogador que mais se destacou no campeão Uruguai, que venceu o Brasil na final nos pênaltis, foi o Francescoli. Não só por isso, mas também por conta de seu desempenho na Libertadores com o River. Além disso, sempre li muito, e acreditava que ele era uma pessoa simples, humilde, e isso se refletia em seu tipo de sucesso. Por ironia do destino, no ano de gestação do segundo filho, teve a Copa do Mundo de 2006, e o Zidane já tinha arrasado o Brasil em 1998 e continuava sendo um dos maiores jogadores do planeta. Um maestro. Falei que colocaria o nome do meu próximo garoto de Zidane, mas não abri mão de juntar a ele o gênio da área, Romário, que cansou de fazer gol. Assim surgiu o nome composto”, explica Narroia.
O filho mais velho do aposentado já teve a honra de conhecer de perto o craque que inspirou seu nome. Já o segundo aguarda a vez. “Sempre fazia contatos, ligando para Buenos Aires, onde ele jogava, buscando uma ponte com o Francescoli e contando a minha história. Acabei conseguindo esse contato, ele mandou uma camisa e, logo em seguida, aconteceu o confronto entre Vasco e River pela primeira fase da Supercopa dos Campeões da Libertadores (no dia 30 de outubro de 1997). Levei meu Francescoli a São Januário, aconteceu o grande encontro, uma cena que não vou esquecer nunca e, comprovando que o craque era aquela pessoa que realmente eu pensava, recebeu meu filho maravilhosamente bem, o levou ao vestiário e o encheu de presentes. Já o Zidane Romário ainda não teve a oportunidade de encontrar nenhum dos dois, embora tenha recebido presentes de ambos. Ainda quero promover esses encontros”, deseja Narroia.
Inspirados
Carregando no nome a responsabilidade de craque há mais tempo, Francescoli lidou bem com as brincadeiras pelo caminho. “Ter um nome como esse é para poucos. É difícil, porque sempre vou ser cobrado para jogar bola direito por conta do nome. Rola aquela ‘zueira’ dos amigos, mas é tranquilo. Sinto orgulho de me chamar assim. Eu estou tentando ser jogador também, fiz treinos no Cruzeiro e no Vasco, não desisti ainda. Comecei de meia, mas agora passei a ser volante”, diz o jovem que, caso não emplaque nas quatro linhas, vai seguir os caminhos do pai. “Se não der na bola, pretendo fazer carreira militar.”
Já o caçula também gosta de carregar na identidade o nome de duas lendas do futebol mundial. Na simplicidade de criança, faz brincadeira com quem se espanta com o modo como se chama, não tem preferências e quer mesmo pegar a inspiração de ambos para realizar seu sonho de ser atleta. “O pessoal mais velho, quando descobre que me chamo Zidane, faz careta, mas daí digo que me chamo Romário também e eles sorriem. Acho que os dois jogaram igual, e eu quero ser como eles, craque de bola. Tomara que tenha herdado o talento. Sei que tenho que treinar muito para isso, e vou fazer de tudo”, projeta.