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Desafios e vitórias de Jéssica Ladeira: o atletismo como realização de sonhos

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Conquistar mais do que os próprios sonhos, mas os de toda a família foi a principal motivação de Jéssica Ladeira, que há 14 anos vive os desafios e realizações de ser uma profissional de atletismo. Hoje, aos 27 anos, Jéssica coleciona medalhas, passagens por mais de 20 países e inúmeras histórias cruzando a linha de chegada nas primeiras colocações. Mas também leva consigo a memória do caminho que a trouxe até aqui, de largada ainda muito cedo..

Se fosse preciso nomear o ponto de partida de sua entrada no esporte, seria Leonardo do Carmo Soares, seu pai. Ele, que também foi atleta profissional, já correu a São Silvestre e conquistou diversos campeonatos na cidade onde vive, em Ubá, cerca de 110 quilômetros de Juiz de Fora. “O meu pai sempre foi minha principal inspiração. Desde criança eu via ele correndo, treinando, depois de trabalhar um dia todo, mas sempre com um sorriso no rosto”, conta Jéssica.

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E foi durante a infância que o atletismo entrou na sua vida. Com apenas 8 anos ela já começou a correr com seu pai, a princípio como uma brincadeira, mas que com o tempo se tornou coisa séria. “Meu pai percebeu que eu tinha talento para a corrida e começou a investir em mim. Acabou que minha entrada no atletismo foi muito natural, meu pai só foi me lapidando.”

Ubaense Jéssica coleciona importantes conquistas em corridas brasileiras e no exterior (Foto: Arquivo pessoal)

Obstáculos até uma jornada de sucesso

Em Ubá, onde Jéssica nasceu e mora atualmente, ela conta que o incentivo ao esporte sempre foi muito reduzido. “Se hoje em dia já é difícil, na época do meu pai era ainda mais”. Por isso, ele teve que procurar apoio em outras cidades, como Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Lá teve contato com a Pé de Vento, uma das equipes mais tradicionais do atletismo no Brasil. “Todos os grandes atletas já tinham passado pela Pé de Vento, e como meu pai era do meio e conhecia os treinadores, me levou até Petrópolis para fazer um teste. Foi uma aventura, a gente fez a viagem de moto, pegou sol e chuva até chegar.”

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Após o teste, para o fundador e técnico, Henrique Vianna, o talento de Jéssica ficou claro. A proposta foi para que ela ficasse em Petrópolis e fizesse o treinamento com a equipe. “Mas naquela época não existia um alojamento feminino e eu teria que morar com o técnico e a família dele. Por isso eu decidi voltar para Ubá, continuar meus estudos e treinar daqui.” Mesmo à distância, Jéssica permaneceu sendo acompanhada pela Pé de Vento, desfrutando dos benefícios de ser filha de um profundo conhecedor da modalidade. O treino era passado por Henrique e administrado pelo pai. “Eu comecei com esse treinamento com mais ou menos 13 anos, e dois anos depois eu já estava representando o Brasil nas competições.”

Influenciada pelo pai, Jéssica começou cedo no esporte e conta ter a autocobrança em seu DNA (Foto: Arquivo Pessoal)

Disney: corrida pelos sonhos

“O esporte muda vidas, é o que eu sempre falo. Eu, que vim de uma família humilde, tudo o que eu quis sempre tive que batalhar demais para conseguir. Com todos os meus sonhos foi assim”, afirma Jéssica. E foi mirando em um sonho de infância que ela conquistou, em quatro edições, a Corrida da Disney, uma prova de 6km cujo prêmio era uma semana nos parques da Disney, em Orlando, com tudo pago e direito a um acompanhante.

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“Eu sempre tive um amor pelos personagens e ir para Disney era um sonho de infância. Quando eu fiquei sabendo da corrida, eu logo pensei que teria que treinar muito para conseguir”. Ela realizou, então, não apenas o seu sonho, como também do irmão mais novo, que na época tinha 10 anos. “Depois que eu fui a primeira vez, toda a minha família me incentivou, porque todos queriam ir também. E nos próximos anos eu consegui levar meu esposo e também minha irmã”.

Alto rendimento nas corridas proporcionou viagens como para a Disney, ao lado de familiares (Foto: Arquivo Pessoal)

Falta de patrocínio e dificuldades na pandemia

Para um praticante do atletismo, a rotina de treinos é intensa. Como afirma Jéssica, essa entrega pelo esporte já ocorre há mais de uma década. “Desde pequena eu sempre tive muita cobrança, perdi minha infância, minha juventude, não vivi aquela adolescência que via os meus amigos tendo. Eu abdiquei de muitas coisas por conta do esporte.”

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Os treinos são diários, de segunda a segunda, e em média entre 20 a 25km de corrida por dia, além de fisioterapia e academia. Jéssica conta que o custo de um atleta de alto rendimento é elevado, porém o patrocínio, que sempre foi difícil, durante a pandemia ficou ainda mais fragilizado. “Eu tenho algumas parcerias, mas o patrocínio mensal ainda é muito difícil. Antes da pandemia, quando tinha uma competição no qual a premiação era em dinheiro, eu participava porque era o meu ganha pão. Hoje em dia eu consigo me manter com o básico, mas eu precisava de muito mais do que eu tenho.”

Principal meta de Jéssica, agora, é poder disputar a maratona em Paris 2024 (Foto: Arquivo Pessoal)

Foco em Paris 2024

Durante os 14 anos de atletismo, Jéssica guarda com carinho a lembrança de algumas competições. “Em 2016 eu participei do Campeonato Mundial de Cross Country, que aconteceu na Polônia, e nele eu fiquei entre as cem melhores”. Outros pódios dos sonhos de Jéssica eram os da maratona e da meia maratona do Rio. “Em 2017, fiquei em terceiro lugar na Maratona Olympikus no Rio de Janeiro, e em 2018, em segundo na meia maratona. Sem contar as vezes em que fui campeã brasileira e sul-americana”.

E nessa corrida da vida, onde os sonhos vão sendo conquistados, o próximo pódio que está na mira é o da Olimpíada. “Minha meta agora é ir para Paris em 2024. Lá eu disputaria a maratona e, ano que vem, eu já começo a preparar o meu treinamento focado nisso.”

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