“Usar o próprio esporte como forma de reabilitação.” Há dez meses em atividade, este é o objetivo central de equipe de profissionais especializados em medicina esportiva que atende atletas lesionados, sejam eles amadores ou profissionais, no ambulatório de trauma do esporte do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O método de atendimento, semanal e gratuito, às terças-feiras, pelo SUS, com necessidade de agendamento presencial, é embasado no conhecimento teórico e também na vivência de cada integrante do projeto, de relação profunda com a prática esportiva, como evidencia o coordenador e ortopedista Adriano Mendes.
“O HU é a via final do atendimento da alta complexidade na cidade e a ortopedia está inserida neste contexto. Todos os pacientes que vêm para a ortopedia são muito bem atendidos. A vantagem é que como todos nós da equipe praticamos algum esporte, temos um foco principal em ajudar esse praticante de atividade física para voltar à atividade. Usamos essa motivação embasada em conhecimento específico da área. Com essa visão multidisciplinar e com a bagagem da nossa prática, conseguimos determinar se houve ou não desenvolvimento de lesão pela atividade”, explica Adriano, especializado em cirurgias de ombro e cotovelo e trauma do esporte.
Além do coordenador, Samuel Lopes, especializado em cirurgias de joelho, e Marcus Abreu, pós-graduando em medicina do esporte, integram a equipe, auxiliados por médicos residentes do HU e fisioterapeutas voluntários. Uma curiosidade paira sobre o ponto de partida do ambulatório. A ideia foi amadurecida a partir de experiência no Rio 2016, como recorda Adriano. “Eu e o Samuel fomos médicos na Rio 2016 e conhecemos muitos brasileiros que fizeram voluntariado da equipe de saúde e que perguntavam se não conseguíamos desenvolver nada em Juiz de Fora. E conseguimos, motivados pela Olimpíada.”
O trabalho realizado, sem caráter emergencial, propõe a continuidade da prática esportiva em todos os casos em que esta possibilidade existe. “Nosso diferencial é usar o próprio esporte como fator de reabilitação. Às vezes, você sugere por um tempo uma outra atividade esportiva associada para que ele melhore a condição global. O objetivo é que o indivíduo continue praticando esporte. Ele só vai sair com prescrição para evitar se esse for o único recurso disponível”, destaca Marcus.
Mesmo não sendo a prioridade, o serviço disponibilizado, segundo Adriano, pode impulsionar a prática esportiva. “Há um potencial para a melhora do volume de praticantes na medida em que você oferece um serviço de assistência. Não vamos conseguir massificar uma prática pelo ambulatório, mas muitas vezes as pessoas deixam de fazer sua prática porque não têm diagnóstico”, relata.
Para atleta, equipe multidisciplinar faz a diferença
Atleta profissional de handebol, Kassiel Nunes, 19 anos, sofreu luxação no ombro durante a disputa dos Jogos do Interior de Minas (Jimi) pela Associação Desportiva de Juiz de Fora (ADJF)/Apogeu finalizada com título no domingo (10), em São João del-Rei. Na última terça (12), o jovem foi atendido no ambulatório pela primeira vez e viu na presença de médicos residentes um diferencial na consulta.
“Já consulto com o Dr. Adriano, que faz o trabalho específico no meu ombro ao lado do fisioterapeuta da minha equipe, Rômulo de Sousa, mas fiquei sabendo que o ambulatório é novo e achei ótima a existência de um sobre trauma de esportes. Ao mesmo tempo, a consulta tem acadêmicos e profissionais recém-formados acompanhando o processo, então todas as dúvidas são tiradas com as melhores respostas”, relata Kassiel, que possui histórico de três luxações no ombro esquerdo.
Ao todo, a equipe do HU realiza entre dez e 12 atendimentos a cada terça-feira. Entre as equipes beneficiadas estão as de basquete do Tupynambás e a Atlética de Medicina da UFJF.