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De pires na mão

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No Olavo Costa, projeto aprovado pela Lei de Incentivo ao Esporte sonha em ampliar atendimento a jovens do bairro (Foto: Leonardo Costa/15-01-16)

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O início do ano olímpico não começou diferente dos anteriores para os projetos esportivos de alto rendimento de Juiz de Fora. A expectativa por mais valorização do esporte com a proximidade dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro não alterou o cenário de fuga de patrocinadores. Desde o Tupi da Série B, passando pelo JF Vôlei da Superliga, até a ADJF da Liga Nacional de Handebol, todos têm sofrido para fechar os orçamentos, comprometendo a qualidade e, em casos mais extremos, a continuidade dos trabalhos.

Vem do JF Vôlei o exemplo mais marcante do que é descrito por muitos coordenadores de projetos esportivos da cidade como uma “falta de cultura para o esporte nas empresas de Juiz de Fora”. Com a crise econômica acertando em cheio as universidades públicas, a equipe teve que se adequar a um corte maior que 70% em seu orçamento. Uma das estratégias para tentar superar a turbulência foi reduzir as cotas de patrocínio para valores entre R$ 500 e R$ 10 mil por mês, mas mesmo assim, a dificuldade permaneceu grande, segundo o diretor-técnico Maurício Bara.

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“Visitamos mais de 120 empresas, com cotas de patrocínio muito baixas. Nem assim tivemos sucesso suficiente para arcar com as despesas mínimas da equipe. Temos um orçamento de R$ 300 mil que não se completou neste ano. Falta um entendimento do que o esporte pode gerar em termos de fixação e valorização social da marca. Entendo o momento difícil, mas sinto que os empresários de Juiz de Fora ainda estão longe de se envolver”, diz Maurício Bara, que lamenta não ver valorizados os resultados positivos das temporadas anteriores.

“Muitas vezes o discurso é o do resultado, mas quando os resultados vieram, o discurso não mudou. O que o Tupi está passando agora, também passamos logo que subimos para a Superliga. Fomos em 120 empresas e conseguimos pouco mais de dez parceiros. Estamos em um projeto que caminhou do zero e já figurou entre as seis melhores equipes do país. É frustrante não ter a resposta que se deseja. Podemos fazer muito mais, mas tem horas que não temos armas para lutar.”

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Das quadras para o gramado, a expectativa era que o Tupi tivesse mais força para captar recursos com parceiros após conquistar a vaga na Série B. Mas, pelo contrário, o clube já não conta com o seu patrocinador máster, a MRS Logística, que teve o contrato com o Carijó encerrado no fim de 2015. Um cenário pessimista, mas que é encarado com otimismo pela presidente Myrian Fortuna, que afirma guardar em sigilo o nome dos novos parceiros e nega ter encerrado as negociações com o antigo patrocinador.

“Vejo que muitos gostariam de patrocinar o Tupi, mas se sentem um pouco tímidos com a atual situação do país. Mas nós temos encontrado muitos parceiros. Tímidos, mas muitos. Todo mundo achou que seria fácil. ‘Agora o Tupi está na Série B e todo mundo vai participar’. Quando o Tupi estiver jogando a competição, as pessoas e as empresas vão estar mais envolvidas com o projeto. Só vamos divulgar quando estiver totalmente concluída a camisa do Tupi”, diz Myrian Fortuna. Até o momento, a equipe carijó conta com o patrocínio da Prefeitura de Juiz de Fora, Sudeste Automóveis, Inter Construtora e Krokero, este último foi anunciado na sexta-feira.

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‘A confiança é fundamental’

Apesar de demonstrar disposição para apoiar projetos esportivos, Marcelo Detoni afirma que algumas iniciativas precisam se organizar melhor. Para o diretor da Fripai Alimentos, a transparência é um requisito fundamental. “Quero a coisa muito clara. Se você está querendo parceria com uma empresa, você precisa mostrar para ela como estão sendo empregados todos os recursos. A confiança é fundamental para dar o apoio.”

Já o presidente da Regional Zona da Mata da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Francisco Campolina, discorda que as empresas não apoiam o esporte na cidade. “Se não apoiam é por não ter projetos convincentes. O patrocínio em esporte é caríssimo. Não se faz com R$ 30 mil por mês. Uma indústria que vende vergalhão de ferro vai anunciar na camisa do Tupi. Quem vai comprar isso? Não é produto para se colocar em uma camiseta de time. O que o vôlei vai dar de retorno de mídia? Qual o retorno de mídia que o handebol vai dar? O Tupi subiu para a segunda divisão, e qual é o projeto? Que retorno tem? Foi um acaso o Tupi ter subido (de divisão). Todo mundo sabe disso. Parabéns ao Tupi, mas não existe um projeto. A indústria está na cidade para gerar empregos e dar lucro. Projeto de marketing não é filantropia, é para dar retorno.”

Já Emerson Beloti, presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora, usa o exemplo do Chapecoense, clube da Série A do Campeonato Brasileiro que é patrocinado por três empresas instaladas em Chapecó (SC), para cobrar uma maior participação de negócios que receberam incentivos fiscais para se instalarem em Juiz de Fora. “A cidade precisa ter um compromisso empresarial com o esporte. Principalmente aquelas empresas que vêm para cá com vários incentivos fiscais. Estas deveriam ter um compromisso maior com a cidade.”

Luz no fim do túnel

Cenário semelhante é enfrentado pelo handebol da ADJF. A equipe não vai contar com o aporte financeiro de R$ 100 mil da MRS Logística na temporada que pretende disputar as três principais competições do calendário nacional (Copa Brasil, Campeonato Brasileiro e Liga Nacional). A carta na manga dos coordenadores da associação é a Lei de Incentivo ao Esporte, uma oportunidade de arrecadação na qual as empresas ou mesmo pessoas físicas destinam parte do que iriam recolher no imposto de renda para projetos esportivos aprovados e fiscalizados pelo Ministério do Esporte (ver quadro).

Um processo simples para quem patrocina, mas que ainda é visto com desconfiança por boa parte dos empresários da cidade. “É mais fácil alguém te dar R$ 20 mil, sem prestação de contas, do que conseguir pela lei de incentivo, que abate no imposto da empresa. A lei é muito prática, mas os contadores, de modo geral, acham que vão ter que abrir o balancete financeiro da empresa. Não tem nada disso. A empresa paga R$ 100 mil (de imposto)? Então pode doar 1% sem ter que abrir nada”, afirma o coordenador do handebol da ADJF, Cláudio Dias.

A Lei de Incentivo ao Esporte pode ser a chance de sobrevivência para equipes de alto rendimento, mas também para pequenas iniciativas que impactam diretamente nas comunidades. Desde 2013, o projeto Gols Para o Futuro/Fripai atende, com a prática do futebol, 40 crianças de 11 a 13 anos do Bairro Vila Olavo Costa. Para participar, é necessário o compromisso de pais e responsáveis com a frequência escolar dos filhos.

“O mais importante é levar os valores do esporte para aqueles ambientes que não têm oportunidades”, afirma Lucas Fajardo, coordenador do projeto, que atualmente recebe investimento direto da Fripai Alimentos, empresa instalada no bairro. Para 2016, a ideia é ampliar as atividades, passando de 40 para 170 crianças atendidas. Para isso, Lucas Fajardo já obteve aprovação do projeto na Lei de Incentivo ao Esporte. “Estou na fase de captação. Fácil não é. Sempre agradeço muito ao pessoal da Fripai por ajudar mesmo sem a isenção fiscal. Eles acreditam que ali (Vila Olavo Costa) é necessário criar esse ambiente.”

Além do patrocínio direto, a Fripai Alimentos deverá participar também pela lei de incentivo fiscal. O Gols Para o Futuro é um dos cinco projetos relacionados ao esporte que contam com a parceria da empresa, que projeta estar presente em outras iniciativas no futuro, segundo o diretor Marcelo Detoni. “O caminho é esse, ocupar os jovens com atividades saudáveis. O dinheiro é mais bem empregado por nós do que quando vai para o Governo. Esse ano vamos destinar o máximo que pudermos.”

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