(AE) – Considerado por muitos como o maior tenista da história, Roger Federer surpreendeu nesta quinta-feira (15) ao anunciar sua aposentadoria. O atleta de 41 anos afirmou que atingiu os limites do seu corpo, após uma série de cirurgias nos últimos anos, e decidiu que sua despedida será na Laver Cup, torneio entre equipes que será disputado no fim deste mês, em Londres, na Inglaterra.
“Como muitos de vocês sabem, os últimos três anos me apresentaram muitos desafios na forma de lesões e cirurgias. Eu trabalhei duro para voltar a minha forma plena. Mas eu também conheço as capacidades e os limites do meu corpo, que enviou uma mensagem clara para mim recentemente. Eu tenho 41 anos de idade. Joguei mais de 1.500 partidas ao longo de 24 anos. O tênis me tratou de uma forma generosa de um jeito que jamais poderia imaginar. E agora eu preciso reconhecer que chegou o momento de encerrar a minha carreira de atleta”, declarou o suíço em suas redes sociais.
Ele anunciou que sua despedida será na Laver Cup, competição que ele mesmo criou e que foi incorporada ao calendário da ATP nos últimos anos. O torneio divide os tenistas em duas equipes: o Time Mundo e o Time Europa. E, pela primeira vez desde que a competição foi criada, Federer terá a oportunidade de jogar ao lado do espanhol Rafael Nadal e do sérvio Novak Djokovic, seus dois maiores rivais no circuito. Há a possibilidade até de formar duplas com eles.
A aposentadoria do ídolo já era esperada nos últimos meses. Mas muitos aguardavam pelo anúncio somente em 2023. Especialistas apostavam que Federer iria testar seu corpo em seu retorno às quadras na Laver Cup para avaliar se valeria a pena voltar ao circuito na próxima temporada. Ele até havia confirmado presença no Torneio da Basileia, de nível ATP 500, marcado para o fim de outubro deste ano. Havia especulação de que anunciar sua aposentadoria nesta competição por jogar diante dos seus compatriotas, na cidade onde nasceu.
O anúncio desta quinta, portanto, surpreendeu os fãs e o mundo do tênis. “Esta é uma decisão agridoce porque eu vou sentir falta de tudo o que o circuito me deu. Mas, ao mesmo tempo, há muito a celebrar. Me considero uma das pessoas mais afortunadas da Terra. Eu recebi um talento especial para jogar tênis e eu o fiz num nível que jamais poderia ter imaginado e por muito mais tempo do que pensava ser possível”, declarou, em sua mensagem de despedida.
Em uma carta de quatro páginas, Federer faz uma lista de agradecimentos, encabeçada pela esposa Mirka e por seus pais e irmã. Lembra também dos seus treinadores e cita Severin Lüthi, amigo e técnico, e o preparador físico Pierre Paganini, considerado por muitos como um dos maiores responsáveis pela carreira longeva do tenista.
Sem citar nomes, agradeceu aos rivais. “Eu tive sorte o suficiente de jogar tantas partidas épicas que nunca vou esquecer. Nós batalhamos de forma justa, com paixão e intensidade e eu sempre tentei dar o meu melhor para respeitar a história do tênis. Sou extremamente grato. Nós estimulamos um ao outro e juntos pudemos levar o tênis para novos patamares”, disse o suíço.
Problemas físicos
A última partida oficial do tenista aconteceu em 7 de julho do ano passado, quando foi eliminado nas quartas de final de Wimbledon pelo surpreendente polonês Hubert Hurkacz, então número 18 do mundo. Desde então, o suíço tem dado entrevistas falando mais sobre cirurgias e possível aposentadoria do que em recordes e títulos, algo recorrente em sua vitoriosa carreira.
Federer vinha enfrentando problemas físicos desde 2020, quando seu afastamento das quadras coincidiu com a paralisação do circuito pela pandemia. Foram três cirurgias no joelho direito em apenas um ano e meio, o que acabou com o ritmo de jogo do atleta e colocou dúvidas sobre o seu futuro. Para efeito de comparação, Nadal, de 36 anos, já fala em aposentadoria.
Sem jogar nesta temporada, ele teve uma trajetória curta no circuito em 2021. Foram apenas cinco torneios, sem títulos ou finais. Seus últimos troféus foram conquistados em 2019, sem nenhum Grand Slam. Os quatro títulos vieram em competições de menor expressão. O último Major foi o Aberto da Austrália de 2018, quando ampliou o recorde de títulos deste nível para 20.
A marca, então assombrosa, acabou sendo superada por Nadal (22) e Djokovic (21) nas últimas duas temporadas. Federer também viu seus principais recordes sendo derrubados gradualmente pelos dois rivais, embora ainda ostente marcas importantes do circuito, como o maior número de semanas seguidas na liderança do ranking.
Ainda sem contar os resultados da Laver Cup, o suíço encerra sua carreira com 103 títulos, 1.251 vitórias e 275 derrotas. Foram 28 troféus de Masters 1000, uma Copa Davis (2014), uma medalha de ouro em duplas na Olimpíada de Pequim-2008, com o compatriota Stan Wawrinka, e uma prata em simples em Londres-2012.
Para muitos especialistas, Federer alcançou o auge do apuro técnico no circuito, superando Nadal, mas rivalizando com Djokovic neste aspecto. Por conta dos movimentos plásticos em quadra, é considerado o maior da história por boa parte do mundo do tênis, embora o assunto seja controverso.
Nadal: “Queria que este dia nunca chegasse”
Um dos maiores rivais de Roger Federer, Rafael Nadal lamentou nesta quinta-feira a notícia da aposentadoria do tenista suíço. Em mensagem ao ex-número 1 do mundo, o espanhol exaltou sua trajetória e disse ter sido um “privilégio” enfrentar Federer nas últimas duas décadas no circuito.
“Querido Roger, meu amigo e rival. Eu desejava que este dia nunca chegasse. É um dia triste para mim, pessoalmente, e para os esportes por todo o planeta. Tem sido um prazer, uma honra e um privilégio compartilhar todos estes anos com você, viver momentos tão incríveis dentro e fora de quadra”, disse o espanhol.
Federer e Nadal concentraram as atenções do circuito no final dos anos 2000, com partidas épicas, como as três finais seguidas de Wimbledon que disputaram, entre 2006 e 2008. A última, única vencida pelo espanhol, é considerada por muitos como a melhor partida da história.
A rivalidade, contudo, se tornou amizade anos depois. Eles fizeram exibições em diferentes cantos do planeta, muitas vezes para arrecadar recursos para suas respectivas fundações, voltadas para filantropia. Com apoio do espanhol, Federer criou a Laver Cup, torneio entre equipes, que rapidamente fez sucesso, principalmente após o jogo de duplas reunindo as duas lendas em 2017.
Federer e Nadal protagonizaram uma das maiores rivalidades da história do tênis. O clássico ganhou até apelido: “Fedal”. Mas o espanhol liderou a série com certa vantagem. Ele soma 24 vitórias, contra 16 do suíço, que “reagiu” nos últimos jogos entre eles. Venceu sete dos últimos oito confrontos.
Repercussão
O presidente da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), Andrea Gaudenzi, também lamentou a baixa de peso no circuito. “O impacto de Roger no tênis e o legado que ele construiu são impossíveis de serem exagerados. Nos últimos 24 anos, Roger trouxe milhões de fãs para o jogo. Ele liderou uma incrível nova era de crescimento e aumento da popularidade do nosso esporte. Poucas atletas transcenderam as quadras como ele fez. Roger nos fez sentir orgulho e felicidade por fazermos parte do mesmo esporte”, disse o dirigente.
Pelas redes sociais, o Comitê Olímpico Internacional (COI) exaltou a trajetória do tenista, que faturou duas medalhas olímpicas em sua carreira: ouro em duplas em Pequim-2008 e prata em simples em Londres-2012. “Uma carreira incrível chegou ao fim Muito obrigado por todas as memórias, Roger Federer! Você fará falta!”
Em comunicado, o presidente do COI, Thomas Bach, se manifestou sobre a aposentadoria do tenista. “Roger Federer é um cavalheiro dentro e fora das quadras e é um verdadeiro campeão olímpico. Parabéns, Roger, por sua destacada carreira. Boa sorte para o futuro. Espero que nossos caminhos voltem a se cruzar”, disse o alemão.
A direção de Wimbledon também homenageou o suíço, recordista de títulos na grama londrina, com oito troféus. “Roger, como nós podemos começar? Foi um privilégio testemunhar sua jornada e ver você se tornar um campeão em cada sentido desta palavra. Vamos sentir muita falta da sua graça nas quadras, mas tudo o que podemos dizer por agora é obrigado pelas memórias e pela alegria que você proporcionou para tantos.”
Pelas redes sociais, diversos tenistas lamentaram a aposentadoria do suíço. “Hoje é um dia triste para o tênis, sem qualquer dúvida”, afirmou o ex-tenista espanhol David Ferrer. “Roger foi um dos meus ídolos e uma fonte de inspiração! Obrigado por tudo o que você fez pelo nosso esporte. Eu ainda quero jogar com você! Desejo toda a sorte do mundo para o que vier em sua vida”, disse o também espanhol Carlos Alcaraz, novo número 1 do mundo.
Lenda do tênis, Billie Jean King afirmou que Federer tem o “tênis mais completo” de sua geração. “Roger Federer é o campeão dos campeões. Tem o tênis mais completo de sua geração e conquistou os corações dos fãs do nosso esporte pelo mundo com sua velocidade incrível em quadra e sua poderosa mente voltada para o tênis. Ele tem uma carreira histórica, que deixou memórias para sempre”, afirmou.