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Equipe PCD da Super Amigos cresce e participa da Corrida da Unimed neste domingo

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Equipe PCD da Super Amigos já é composta por mais de 20 pessoas (Foto: Fernando Priamo)

Entre os 1.700 atletas inscritos na 5ª Corrida e Caminhada Unimed Juiz de Fora, marcada para as 8h deste domingo (15), em frente ao Shopping Jardim Norte, um grupo vencedor, dentro e fora do esporte, seguirá competindo pela melhoria na qualidade de vida e crescimento pessoal. E neste ano, a equipe PDC (pessoas com deficiência) da tradicional Super Amigos também é motivada pela busca do bicampeonato do Ranking de Corridas de Rua da cidade na categoria masculina.

A vitória coletiva é detalhe, claro, se cada história dos integrantes do grupo juiz-forano for levada em conta. O triunfo, neste trajeto, é diário. O mais recente exemplo é o de Francisco Junior, 37 anos. Mais conhecido como Jota Junior, o assistente administrativo é o novato da Super Amigos. Mas veterano na superação pessoal.

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“Possuo prótese total de quadril, proveniente de uma artrite reumatoide viral. Tenho atrofia muscular severa em todos os músculos. Começou com oito anos. Peguei um vírus, que modifica o sistema imunológico, que passa a te atacar. Fico todo torto e tenho uma dor interna, só que o cérebro não sabe. Tenho dor, mas não sinto”, introduz Jota Junior, que conheceu a corrida no ano passado.

Jota Junior já melhorou sua marca em mais de 20 minutos nos 7km (Foto: Fernando Priamo)

“Quase cheguei na distrofia muscular, então meu médico disse que eu tinha que sair para fazer alguma coisa. Comecei com academia. Cheguei a pesar 49kg e, para 1,75m de altura, estava complicado. Mesmo com a fisioterapia e a musculação, ainda tive que buscar um outro esporte, tinha que ser um atleta. Não consegui aprender a natação pelo meu problema, mas vi nas redes sociais o pessoal correndo e me deu vontade. Resolvi participar de uma corrida por curiosidade, a Camilo dos Santos de 2019. Achei que, por já fazer academia, ia me dar bem entre os deficientes. Fiquei em último!”, relembra o atleta, sorrindo.

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Desde este resultado, ele buscou se aproximar, em rendimento, dos companheiros PCD’s. Por isso, entrou na Super Amigos, após contatos com o coordenador da equipe, Fernando Costa. “Ele me disse que primeiro vinha o bem-estar e, com o tempo, o melhor rendimento e os objetivos de tempo. Aí comecei a treinar, já como atleta da equipe nas provas, e fui melhorando. Na Camilo fiz 7km em 1h14min. Hoje já consigo em menos de 50 minutos.”

Compenetrado em viver com saúde, Jota Junior parece ter descoberto uma nova paixão que o auxilia em sua maior meta. “A corrida vicia. Porque o que me motiva é a doença. E você vai praticando e pegando gosto por aquilo. É muito bom. E você busca a superação própria. Porque quando você tem algum problema, e o que você faz passa a ser um motivo para ganhar um patamar melhor de saúde, você tem um ânimo, uma força de vontade única. Tem tanta gente normal que dá desculpa para tanta coisa, enquanto a gente tá sempre correndo, faça chuva ou faça sol. Não competimos com ninguém além de nós mesmos.”

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‘Mais do que auxiliar, nós somos ajudados’

O cabeleireiro Fernando Costa, coordenador do time PCD da Super Amigos, é um dos guias que auxiliam os atletas com deficiência durante treinos e provas. Corredor há 38 anos, a função de braço direito dos companheiros de equipe, sobretudo os de limitação visual, já é realizada há três décadas. Questionado sobre a importância do que faz, contudo, ele se emociona como em uma primeira conclusão de prova.

“Comecei a guiar para ajudar um amigo que criou a equipe de deficientes da Associação dos Cegos. Gostei muito, me fez muito bem porque mais do que auxiliar, nós somos ajudados. Porque vemos a garra, a resiliência do deficiente visual para enfrentar os obstáculos, sem rancor, mágoa e reclamações. Eles simplesmente têm o prazer de correr e nós só emprestamos os olhos para eles. Fico até arrepiado. É uma sensação muito boa”, descreve.

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O coordenador da equipe que existe há cinco anos, criada para atender esta demanda justamente após o fim de um dos grupos da cidade que recebiam os PCD’s, conta que 15 paratletas e oito guias, atualmente, compõem o time local. “Temos quatro pessoas com deficiência visual, além de atletas com deficiência intelectual, auditiva e em membros superiores e inferiores. Os que dependem dos guias são apenas os com limitação visual. Nós revezamos, sempre treinando e correndo com eles. Felizmente não faltam guias, pessoas sempre com disposição de ajudar”, explica Fernando.

A equipe está aberta à chegada de novos paratletas e também busca guias e suporte financeiro. “Participamos de todas as provas do Ranking, além do G10 e algumas corrida fora, como a Pampulha e a São Silvestre. Neste ano, três deficientes visuais vão estar nessas duas provas. Precisamos e é muito difícil conseguir patrocínio. Mas contamos com alguns apoios, pequenos, mas que fazem a diferença. Nos ajudam a comprar tênis para os atletas, às vezes viajar para correr fora. E nas tendas das corridas aqui sempre temos água, um lanche, tudo para o conforto deles.”

‘O sabor da vitória não tem igual’

Marquinhos e o guia Ademir são figurinhas carimbadas nas provas de JF (Foto: Fernando Priamo)

Um dos mais experientes paratletas da Super Amigos e da cidade, o teleoperador Marcos Aurélio Henriques, o Marquinhos Paulista, tem a corrida em 38 dos seus 52 anos de vida. Desde 2010 participa das provas entre os deficientes visuais.

“Nasci com miopia e, certo tempo depois de formado, com 28 anos, minha visão começou a ficar fraca. Fiz uma cirurgia e minha visão voltou a ficar limpa, mas depois de dois anos ela esteve turva, meio embaçada. Voltei ao oftalmologista, quando foi diagnosticada retinose pigmentar, que é a doença que eu tenho, de degeneração da retina. A visão vai acabando aos poucos. Hoje em dia só enxergo um pouco de claridade”, explica Marquinhos.

O paratleta não falta uma prova sequer do Ranking da cidade. “É o esporte que me identifico melhor. E onde tenho mais prazer por estar com os colegas”, conta ele, que, em todas as suas atividades esportivas, precisa ser auxiliado por um guia. “Nas corridas, o meu guia é a minha visão. Ele me fala tudo. Buracos, obstáculos, quebra-molas. Procuro sempre ir no mesmo passo que ele para poder entender o que está fazendo e correr corretamente.”

Marquinhos participará da 5ª Corrida da Unimed neste domingo e avalia o percurso com propriedade. “Estou treinando e domingo estarei lá, firme e forte. É uma prova fácil em relação ao percurso, plano, mas difícil porque todo mundo vai meter o pé. Precisamos de cuidado na largada e desempenhar o melhor possível para chegar bem. Em mais um ano iremos batalhar pelo título.”

O título masculino da Super Amigos na temporada passada, aliás, virou nova motivação do paratleta, de sorriso fácil. “Procuramos no ano todo sempre estar na frente, vencendo, e o sabor da vitória não tem igual. É sempre muito gostoso, mas a competição é o melhor de tudo.” Marquinhos, Jota e todos os PCD obviamente gostam e desfrutam de competições como qualquer esportista. A diferença é que correm como se sempre estivessem de mãos dadas com a autossuperação sendo a linha de chegada diária.

A Corrida da Unimed

Segunda etapa do Ranking de 2020, a prova, disputada neste domingo, bateu o recorde das últimas edições com 1.700 inscritos. A largada, em frente ao Shopping Jardim Norte, ocorre às 8h, com novo trajeto. O percurso principal tem 7km, com opção de caminhada de 3km. A corrida infantil ocorre no mesmo dia, mas a partir das 10h, com distâncias conforme a faixa etária, de 50 metros até 1km, entre jovens de 4 a 15 anos. Haverá, ainda, uma cãominhada. Os interessados podem participar gratuitamente, acompanhados pelos pets.

A retirada dos kits, com camisa, meia, viseira e pochete, além do numeral, deve ser realizada no Shopping Jardim Norte, sábado (14), de 13h às 17h. Os chips serão distribuídos no dia da prova, das 6h30 às 7h45. Os cincos primeiros ganhadores de cada categoria receberão troféus e todos que completarem o percurso ganharão medalhas.

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