Lembro-me que, em 2015 ou 2016, naquelas falas do tipo “acaba logo, ano tal”, eu e uma ex-colega de redação lembrávamos dos horrores vividos no ano e chegamos a um acordo de que o mundo estava retornando às trevas. Depois de um período de luzes – e aqui não há nenhuma analogia política – a sociedade dava claros indícios de retrocesso. Mal sabíamos nós que muita coisa ainda estaria por vir.
O adiamento de PSG x Istanbul Basaksehir, no Parque dos Príncipes, escancarou uma realidade que muitos tentam ainda deixar debaixo do tapete. A suspeita de um árbitro, autoridade máxima de uma partida, cometer racismo contra um atleta é o suprassumo da nossa involução. Sebastian Coltescu, um romeno, branco, usando a cor da pele para definir Pierre Webó, um camaronês negro. O exemplo clássico da marca causada pelo colonialismo. Tão nítido quanto a fala de Jorge Jesus, um português, branco, de um dos países que mais exploraram africanos e indígenas, dizendo que o mimimi está na moda ao ser perguntado sobre o episódio na França.
Situações, leitores, que doem. Que enojam. Que escancaram essa faceta criminosa e tudo que há de pior nos gramados – e na sociedade.
Mas nem só de tristeza profunda tem sido a semana. Curiosamente, no mesmo momento no qual franceses e turcos deram o baita recado ao mundo, negando-se a seguirem em campo, eu e meu colega Bruno Kaehler conversávamos sobre algo do futebol que muitos nos apaixona: a superação. Falávamos de Renan Rinaldi, goleiro do Tupynambás, que retornou ao gramado após quase 11 meses de recuperação da gravíssima lesão sofrida ainda em janeiro. Pelas redes sociais, senti a emoção do camisa 1 alvirrubro e do fisioterapeuta Guilherme Mendonça, um dos grandes aliados do arqueiro no longo e doloroso processo de volta às atividades. E eu Bruno, entusiastas das corrida, falávamos de como dói, fisicamente e psicologicamente, uma lesão. E do quanto essa situação deve ser dura – multiplicada à enésima potência – para atletas profissionais. Em um ano de pandemia, então? Renan Rinaldi foi um guerreiro.
Como bairrista assumida, torço muito pelo avanço do Baeta na Série D e pelo sucesso do goleiro neste retorno. Vitórias como a dele são, sem dúvidas, o que o futebol tem de melhor.