A reapresentação do elenco carijó em Santa Terezinha foi marcada por duas reuniões antes da atividade comandada por Júlio Cirico, integrante da comissão permanente carijó, após o pedido de demissão do técnico Ricardinho, anunciado ontem, em nota, pelo clube. Em rara presença, o vice-presidente de Futebol e médico do clube, José Roberto Maranhas, conversou ao lado do diretor executivo de futebol, Gustavo Mendes, com os jogadores por cerca de dez minutos. Pouco depois foi a vez de Cirico, que passa a comandar o time nas últimas três rodadas da Série B, falar com o grupo.
Os titulares contra o CRB apenas trataram a parte física. Os reservas tiveram intenso treino em campo reduzido. Cirico ainda conversou longamente e de forma individual com os volantes Renan, Marcel, Marcos Serrato e Recife, atendendo, posteriormente, à Tribuna para esclarecer o que lhe foi passado e os contatos com os atletas.
“Assumo até o final como treinador, isto está definido, e passamos para os atletas, que se abraçaram e vamos para uma guerra. Estamos motivados, e, ao contrário do que algumas pessoas vêm dizendo, estamos focados, e tenho certeza de que faremos um grande jogo e, quem sabe, buscar um resultado positivo. Hoje conversei com quatro jogadores, e amanhã farei também, e antes do treino começar falei com o grupo. Acho que a conversa nesse momento vale muito. O atleta tem que treinar, mas estamos em final de temporada e com uma preparação muito boa. É resgatar a auto estima, o emocional e acreditar. Lembrei a eles até uma situação que vivi tendo que superar o falecimento da minha mãe no dia do meu aniversário e temos que acreditar que ainda há possibilidades.”
Ricardinho teve rápida passagem por Juiz de Fora, comandando o Tupi em nove jogos, com apenas uma vitória, dois empates e seis derrotas. Com ele, também deixam o Galo o auxiliar Rodrigo Pozzi e o preparador físico George Castilhos. Ao comentar a conversa com o ex-comandante do Tupi, o diretor executivo de futebol, Gustavo Mendes, confirmou que Cirico, estará à frente do Alvinegro até o fim da competição. “O Ricardo me procurou e disse que fez o que podia e achou que era hora de sair. Contra argumentei, mas foi uma decisão irrevogável”, resumiu Mendes.
Postura do elenco foi determinante
A falta de resultados e o consequente iminente rebaixamento para a Série C do Campeonato Brasileiro não foram os únicos motivos para que o técnico Ricardinho comunicasse à cúpula carijó seu pedido de demissão na manhã de ontem. Presente diariamente nos treinos do clube, a Tribuna apurou que sucessivos problemas comportamentais de jogadores já vinham causando insatisfação na comissão técnica alvinegra. De forma recorrente, atletas reclamam da estrutura oferecida pela direção e questionam o método de treinamento de profissionais, desde a época em que Estevam Soares era o treinador.
Discussões
A saída de Glaysson do rol de relacionados para os jogos é simbólica para os profissionais da comissão técnica do clube. No início da Série B, a permanência do arqueiro teria sido condicionada ao emagrecimento, que ocorreu de forma eficaz. Após o segundo turno, contudo, o reserva de Rafael Santos voltou a ganhar peso, tendo que passar por novo processo de recondicionamento, deixando vaga entre os suplentes para Gonçalves. Outro acontecimento que ilustra o cenário é a discussão em treinamento entre o zagueiro Gabriel Santos e o preparador físico Renê Carlos, que havia pedido atenção do defensor em orientação de atividade, sendo prontamente respondido pelo atleta.
As semanas carijós ainda tiveram discussões entre jogadores em treinos e partidas e o preparador de goleiros, Walker Campos, reclamando do tom usado na fala do volante Renan ao se dirigir à presidente Myrian Fortuna durante reunião no vestiário após-goleada pelo Bahia. Ricardinho teria chegado ao seu limite ao ver a equipe sofrer 4 a 0 do CRB, antes da reação pouco realçada pelo próprio pentacampeão mundial, como transpareceu em entrevista coletiva após o duelo.
“A verdade é que nossa postura foi incompatível com meu conceito de futebol. Tem que ter mais intensidade, brio. Mostramos da metade do segundo tempo em diante a postura que deveríamos ter tido desde o início e que foi cobrada. Depois que achamos o gol foi mais na empolgação, porque não produzimos”, avaliou, completando ao ser questionado após o jogo sobre seu futuro disse, na noite de terça que “há um descontentamento muito grande da minha parte, porque estou no futebol há alguns anos como atleta, treinador, e vou para o sexto ano como técnico e esse tipo de postura é incompatível com meu conceito de jogo. Não foi isso o determinado desde o início do jogo, ou que nós viemos trabalhando.”