Lembro-me de que na Copa de 94, eu, ainda uma criança que começava a entender de mundiais, adorava o lateral-esquerdo Leonardo. De todos daquela Seleção, ele, não sei por qual motivo, era o que me chamava mais atenção. Aí Léo, o meu queridinho, deu uma cotovelada em Tab Ramos, dos Estados Unidos, e foi expulso em partida válida pelas oitavas de final do torneio que deu o tetra ao Brasil. Por mais que minha mãe, vendo meu desapontamento, tentasse me dizer que aquele lance bruto tenha sido sem querer, eu não engoli a explicação. Senti uma espécie de traição por torcer para um jogador que agiu de forma violenta com seu adversário.
Hoje, mais adulta e madura, costumo usar a frase de que atletas não são super-heróis. São humanos e de carne e osso como nós, reles mortais. E erram.
E de carne e osso fizeram-se Gabigol e Novak Djokovic neste fim de semana. Gabriel, atacante do meu time do coração, e Djoquinho, apelido que dei a meu tenista predileto desde que assisti a uma divertida campanha publicitária com ele e Guga às vésperas de um Roland-Garros.
Gabigol, ao sair do banco, fazer o gol que deu a vitória ao Flamengo contra o Fortaleza e, ao final da partida, negar-se em dar entrevista e fazer atividade com seus companheiros que também iniciaram na reserva, aumentou, de certa forma, sua arrogância. Por mais que a escolha de Dome possa ter sido contestada, o mais recente episódio do Maracanã soma-se a uma lista de outros estrelismos do 9 rubro-negro, que, por muitas vezes, pode até se achar um superior, mas, definitivamente, não é.
E Djokovic? Não que a bolada acertada na juíza de linha tenha sido criminosa. Muitos, inclusive, em defesa do sérvio, alegaram que a árbitra exagerou na dor. Mas Djoko, mais uma vez, também pisou na bola. Independentemente da intenção ou não, mostrou-se mal adversário ao dar uma raquetada de raiva após ter seu serviço quebrado. Se o momento de fúria tivesse partido do oponente Pablo Carreño Busta ou qualquer outro tenista de menor expressão do US Open, talvez não renderia tamanha repercussão.
Mas com o número 1 do mundo, por ser quem é e pela imagem que representa, pegou mal. Depois daquele “Tour de Covid”, em que vários foram contaminados durante um torneio organizado em plena pandemia, inclusive o próprio Djoko, e de algumas polêmicas falas referentes ao pagamento de premiação igual entre tenistas homens e mulheres, além de críticas públicas a vacinas, faz aquele cara irreverente perder um pouco a graça.
Por um momento, a Juliana do fim de semana sentiu-se como a Juliana lá dos tempos de Leonardo.
Gabigol e Djokovic foram antidesportivos. Perderam-se no calor do momento. E mostraram que, mesmo ídolos, também erram.