Dois anos e meio depois de voltarem a se enfrentar pela primeira divisão do Campeonato Mineiro, com público superior a 5.900 pessoas e vitória de 1 a 0 do Tupynambás, Tupi e Baeta se reencontram no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio para protagonizar o popular clássico Tu-Tu nesta quarta-feira (11), às 15h, desta vez pelo Módulo II do estadual, na 8ª rodada, e sem torcedores nas arquibancadas. A ausência se dá em função da previsão do prejuízo financeiro por parte do Galo, mandante da partida, com a abertura dos portões. Conforme a cúpula alvinegra, as despesas operacionais seriam elevadas e há incerteza em projeção do número de espectadores in loco, já que a presença nos jogos foi liberada pela Prefeitura de Juiz de Fora apenas para aquelas pessoas que estivessem imunizadas com as duas doses da vacina ou com a Janssen, de aplicação única.
“É horrível não ter torcida, mas para isso o jogo tinha que ser de noite e só a taxa de iluminação já são R$ 3 mil a mais, tirando os outros custos, além da pandemia. Ficou inviável, infelizmente”, explicou o presidente do Tupi, José Luiz Mauller Júnior.
Independentemente do contexto, porém, mais um capítulo da extensa história do clássico entre o Galo Carijó e o Leão do Poço Rico será escrito, e a Tribuna conversou com torcedores e dirigentes dos dois lados para projetar o dérbi de número 283 da história, que registra 131 vitórias do Tupi, 82 triunfos do Baeta e 69 empates até aqui.
Da superstição à confusão com primos
Cristian Louro Fonseca, 40 anos, é torcedor apaixonado pelo Tupi. “Comecei a torcer em 1985, tinha só 5 anos e meu pai me levou no Salles (Oliveira, estádio carijó em Santa Terezinha). Tinha um jogo, não me lembro qual, mas morávamos no Bairro Bandeirantes e encontramos o estádio lotado. A partir daí comecei a torcer, independentemente da fase”, conta o alvinegro.
Desde então, Cristian teve até que separar tumulto em arquibancada entre torcedores do seu time de coração e os próprios primos. “Eu devia ter 11, 12 anos, era um domingo à tarde e fui com meus primos, de Manhuaçu, ao jogo em JF entre o Tupi e o Ipiranga, da cidade deles. Acabou que uma organizada do Tupi e meus primos tiveram um princípio de confusão e eu fiquei no meio pra separar. Estava totalmente dividido ali. Acho que o Tupi venceu o jogo, mas é dessa história que sempre lembro”, brinca o carijó.
Nesta temporada, o torcedor do Galo diz que buscou não criar muitas expectativas na campanha. “Até esperava lutar pelo G-4, mas não muito por conta das últimas gestões em que não conseguimos nos manter na Série B, por exemplo, e voltamos pro Módulo II ainda”, recorda.
Apesar disso, ele elogiou o trabalho do técnico juiz-forano Rafael Novaes, comparando-o, curiosamente, ao comandante do último clássico Tu-Tu, Aílton Ferraz. “O Rafael é como o Ailton, tá tirando leite de pedra para, pelo menos, manter o time no Módulo II. Acho que ele tem o mesmo estilo de trabalhar com a base e tirar o máximo de proveito deles. Algumas falhas individuais de jogadores têm acontecido pela inexperiência”, avalia Cristian. “Vou torcer pelo Tupi, mas vejo o Baeta mais equilibrado. Acho que as investigações na base afetaram muito o elenco, teve a troca de treinador e a saída dos jogadores faltando poucos dias pra estreia, o problema entre gestores. Perdemos um pouco da esperança com isso”, completa.
Ainda assim, Cristian entende que vale qualquer tipo de superstição por uma vitória que pode dar confiança ao Tupi para buscar uma vaga no G-4 nesta reta final de primeira fase. “Eu tenho comigo que o Tupi tem mais sorte atacando no primeiro tempo para direção da ‘ferradura’. É uma superstição. Vou estar trabalhando, mas ligado no rádio pelo Tupi.”
Torcedor solo em jogo do título sem público
Se o clássico desta quarta não contará com a presença de torcedor, o título do Tupynambás na Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, em 2016, vem à memória de Felipe Castilho, 30 anos.
“Sou Baeta desde 2007, morava de porta para o clube. Da minha sala, eu via o campo (José Paiz Soares, no Poço Rico). E sempre busquei ir em todos os jogos em casa, confeccionei bandeiras que levava aos estádios. E quando fomos campeões da terceira divisão, eu tinha trabalhado até 2h como garçom e o Aloísio, que era da comunicação do clube na época, me chamou para ir com ele até Sete Lagoas acompanhar o jogo com o Coimbra. Mas não podia ter torcida”, lembra Felipe. “Pensamos que não conseguiríamos entrar, mas o Alberto (Simão, dirigente à época) nos viu e conseguimos entrar no ônibus dos jogadores. Assisti a partida em uma cabine de rádio e não podia fazer barulho. Quando o jogo acabou, de forma dramática, aliás, eu saí gritando e deu até polícia”, rememora. A partida na Arena do Jacaré não recebeu público na ocasião por falta de laudos de segurança.
Agora, contudo, Felipe encara toda a temporada distante das arquibancadas, mas não das análises da equipe comandada por Gustavo Brancão. “Acho que o time erra muito no meio-campo e está difícil de chegar as bolas nos atacantes, não está conseguindo criar muito. Mas se essa zaga atual estivesse em 2020, não cairíamos. Gostei do fato de terem aproveitado atletas de JF. E ainda tem a experiência do Fabinho Alves, nosso melhor jogador na Série D, que permaneceu. Mas não é um time imbatível.”
Sobre o clássico, Felipe não titubeia. “O Baeta pode perder todos os jogos, mas tem que ganhar do Tupi. Será uma motivação pra voltar para a elite. Se vencermos, mudamos a chave para o quadrangular final.”
De ponto triste, apenas a impossibilidade de acompanhar o duelo no Estádio Municipal. “É um absurdo. Em 2019, lembro que estava na arquibancada, cheguei no estádio quatro horas antes do jogo pela ansiedade e encontrei uma família que estava vindo de São José dos Campos (SP) só por causa do clássico. Disse que viria sempre que tivesse. É uma pena, no cenário regional é difícil ter clássico municipal. Mas entendo as dificuldades financeiras também”, releva.
Tupi: confiança e ascensão
Sétimo colocado e sem vencer há três rodadas, o Tupi soma 8 pontos, quatro a menos que o Democrata-GV, primeiro time no G-4. Para o presidente do clube, Juninho, não há uma preparação diferente dos demais jogos, mas uma vitória traz confiança. “O jogo em si é como outro qualquer, são 3 pontos, mas há um envolvimento da cidade, relembramos clássicos antigos, então acaba sendo diferente neste aspecto”, analisa.
Diante disto, o mandatário afirmou não mudar o popular “bicho” em caso de sucesso. “A gente mantém o padrão de todos os jogos, não é por ser o Tupynambás que vai valer mais, depende da circunstância do jogo. Uma decisão contra o Guarani na última rodada, por exemplo, pode trazer um incremento no bicho.”
Para o duelo, o Tupi não irá contar com o lateral-esquerdo Élder, expulso na última rodada, além de Gabriel Neto e Ramon, reservas, que também receberam o cartão vermelho no empate com o Betim.
Para Juninho, não há um favorito em qualquer circunstância. “Todo mundo interpreta o jogo antes de ele acontecer, mas chega na hora e muda tudo. Só ver o Flamengo goleado pelo Inter por 4 a 0 no fim de semana. Será um jogo difícil para os dois times, mas no futebol não existe favorito.”
Baeta a um passo do quadrangular
No caso do Tupynambás, vice-líder do Módulo II com 14 pontos, empatado neste quesito com o primeiro colocado, Villa Nova, uma vitória pode colocar o time a um passo do quadrangular final, entre os quatro mais bem colocados na tabela. Assim como Juninho, o vice-presidente do Leão, Cláudio Dias, preferiu deixar a rivalidade para os torcedores ao projetar o duelo. “Pra gente é um jogo normal. Estamos em busca da vaga entre os quatro, então vamos buscar a vitória contra qualquer equipe que for. Quero o acesso e o resto fica para a torcida.”
Apesar disto, a tendência é que exista uma premiação em caso de vitória no Tu-Tu. “O Tupynambás combinou com a comissão técnica de dar uma premiação se classificar entre os quatro e outra caso tenha o acesso. Mas demos uma gratificação no último jogo, contra o União Luziense, por entender que era muito importante, assim como esse contra o Tupi.”
Questionado se via favorito pela diferença na tabela, Cláudio negou. “No Módulo II, um dos últimos colocados (União Luziense) ganhou do Betim e do próprio Tupi, que estava em ascensão”, justifica.
Para o duelo, o técnico Gustavo Brancão poderá contar com o goleiro Renan Rinaldi, único atleta que esteve em campo no último clássico. O treinador terá o desfalque apenas de Vinícius Henrique, expulso na última rodada.