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Garçons acompanham jogo do Brasil “com um olho no peixe e outro no gato”

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Começa o jogo de Paulo Roberto de Carvalho, 61, e Ronildo Otávio, 29. Para eles, as vozes e mãos levantadas durante os 90 minutos que realmente importam são as dos clientes. O foco é nas mesas, não no gramado. O olhar de canto para as televisões ocorre em curto período de respiro entre um pedido e a abertura de um freezer. A Tribuna acompanhou, na tarde dessa sexta-feira (6), a dupla de garçons do Bar Salvaterra, no Alto dos Passos, durante a derrota brasileira para a Bélgica por 2 a 1 no duelo pelas quartas de final do Mundial na Rússia. Jogo do Brasil, para os dois trabalhadores, é hora de trabalhar, e não comemorar.

“Em um jogo de Copa do Mundo ficamos doidos para ver a partida. Estamos focados no salão e no cliente, mas tem hora que dá para ver pelo menos os gols”, conta Ronildo, garçom há 14 anos, e que, de fato, poucas vezes buscava seguir algum lance da partida por conta do movimento na casa.

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Ainda mais experiente é Paulo, profissional na área desde 1980, e que vê nos dias de trabalho em partidas da Seleção Brasileira um clima diferente. “É uma experiência muito grande. Toda vez que há Copa do Mundo estou trabalhando. Nem sempre dá para a gente ver, mas temos a casa cheia de torcedores que passam uma energia muito grande para a gente. Cada casa é uma casa, mas a energia é a mesma.”

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Ronildo Otávio, 29 anos, acompanhou o jogo da seleção com o canto de olho entre um pedido e outro dos clientes (Foto: Olavo Prazeres)

As lamentações, em voz baixa, com o gol contra de Fernandinho, levaram Paulo Roberto e Ronildo ao rápido acompanhamento do lance, em pausa que durou menos que dez segundos, mas já se tornara a maior da dupla desde o apito inicial. Visto o replay do fatídico lance, a cabeça seguiu erguida, e o monitor dos pedidos voltou a ser o foco para registrar cada demanda dos juiz-foranos sentados no bar.

“Sempre que dá uma oportunidade, dou uma olhadinha porque eu gosto, sou brasileiro e torcedor. Mas, normalmente, estou é com a galera mesmo, servindo, eles gritando e eu me sentindo bem com essa energia de todo mundo”, relata Paulo Roberto.

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Dribles de Hazard, Neymar e companhia na Rússia, a dupla do Bar Salvaterra também fintava as mesas em curto espaço para chegar aos produtos ou atender os clientes o mais rápido possível. Se Lukaku e Philippe Coutinho arrancavam em velocidade dezenas de metros, Ronildo e Paulo não paravam de andar por todo o bar, com direito a prorrogação pós eliminação. A movimentação ao menos auxilia a dupla a controlar a ansiedade. “Andando aqui o tempo todo ajuda a aliviar um pouco a tensão, igual o pessoal que fica assistindo, muito nervoso. Nós conseguimos dar uma distraída”, conta Ronildo.

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Foto: Olavo Prazeres

O gol de Renato Augusto, visto no replay, como sempre pelos garçons, é sinônimo de mais trabalho. A euforia vem com a esperança de um empate nos últimos minutos. As mesas viram tambores por segundos, e a cantoria antecipa novos pedidos e interações com os garçons, ainda mais compenetrados em ocupar todos os espaços do salão. Em contrapartida, o apito final leva uma certeza à Ronildo. “O pessoal provavelmente vai embora mais cedo. E tínhamos a expectativa de pelo menos mais dois jogos para seguir com esse movimento, então a eliminação prejudica”, conta. O trabalho, em contrapartida, continuou durante a noite dessa sexta. Apesar da eliminação, a festa juiz-forana seguiu no Alto dos Passos, sem hora para acabar.

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