“A minha avaliação é amplamente positiva. O VAR trouxe muitos benefícios para o jogo. O primeiro grande ganho é ser uma ferramenta que possibilita ao árbitro revisar suas decisões. E, nas vezes em que foi utilizado, obteve sucesso. Não podemos dizer que o VAR foi usado indevidamente. Inclusive nas oitavas de final, como no jogo entre Suécia e Suíça, no último lance”, destaca Quelhas.
A aprovação de Fábio e Quelhas faz com que a dupla já vá além ao esmiuçar o uso do recurso tecnológico. “Nós, como árbitros e seres humanos, estamos sujeitos a muitas falhas. Esses erros têm sido minimizados com esse equipamento, que podia ser ainda mais explorado. Não só em lances polêmicos de gol, mas por exemplo no pisão que o Neymar levou. Estamos focados no lance, na bola e muitas vezes acontecem lances isolados, fora do campo de visão do árbitro. No pisão, o VAR poderia agir”, explica Fábio.
Quelhas reforça a ideia de Fábio. Para ele, as imagens secundárias que a equipe de arbitragem de vídeo tem acesso poderiam ser usadas para o auxílio nas decisões disciplinares. “Não sei como a FIFA vai tratar isso, mas o VAR observa muitas coisas, mas nem todas as imagens são usadas, como um cara segurando o outro fora do lance. Acredito que poderiam usar essas imagens disciplinarmente. Eu gostaria que a FIFA estudasse uma exclusão temporária de jogadores, que o VAR também tivesse essa possibilidade diante de uma ação antidesportiva”, esclarece.
As consequências do VAR também podem mudar, com o passar do tempo, hábitos comportamentais dos atletas. “O VAR está criando uma nova cultura de aplicação da regra. Cada vez mais irão diminuir as simulações, e os pequenos contatos também não vão ser considerados pelo árbitro, que terá condições de revisar. Anteriormente o jogador se aproveitava muito disso para confundir o árbitro. O caso do Neymar, de pequeno contato no lance que não foi pênalti (contra a Costa Rica), por exemplo, foi interpretado que o contato não foi suficiente para causar prejuízo ao atacante. Isso pode fazer com que o jogador dispute mais a bola, a jogada”, completa Quelhas.
Para profissionais, ferramenta dá mais confiança
As decisões não têm auxiliado a arbitragem exclusivamente na prática, mas também no que tange ao lado mental dos profissionais envolvidos na condução das partidas na Rússia. Paralelamente aos trabalhos em campo e quadra, Fábio finaliza graduação em Psicologia no Centro Universitário Estácio Juiz de Fora. O estudo de seu trabalho de conclusão de curso (TCC) é intitulado “A percepção dos Árbitros de Futebol e Futsal sobre seu trabalho”.
No documento, alguns árbitros entrevistados citam que a atividade é considerada “cansativa, estressante, desvalorizada, havendo desgaste físico e psicológico.” De acordo com Fábio, árbitro assistente, o uso do VAR dá mais confiança aos árbitros. “A FIFA quer que errem o menos possível, o que preserva o profissional e o esporte. E no caso do ‘bandeira’, ajuda bastante porque ele pode estar mal posicionado ou errar em um lance de grande dificuldade. Mas, futuramente, e aí um ponto negativo para nós da área, é que não deveremos ter mais o assistente. O VAR mesmo vai verificar se houve impedimento, sem precisar do auxiliar”, opina.
Matthäus espera que VAR encerre encenações de Neymar
Agência Estado – Lothar Matthäus, ex-jogador alemão e vencedor do prêmio de melhor jogador do mundo em 1991, espera que o VAR coloque um fim às encenações de Neymar e de outros jogadores durante a Copa realizada na Rússia. “Com o VAR, não entendo como um jogador quer fazer trapaças. É muito perigoso”, disse o alemão, durante a apresentação do Prêmio Melhor do Mundo da Fifa. “Neymar não precisa disso, é um excelente jogador. É um dos cinco melhores do mundo. Para que fazer isso? Não gera simpatia. Não é bom para ele. Neymar vai fazer gols e vai fazer a diferença”, disse.
Matthäus insistiu que o comportamento de Neymar em campo não é repetido por outros grandes jogadores. “Maradona não fez encenações, Lionel Messi não faz, Cristiano Ronaldo faz de outro tipo. Não essas. Precisamos de jogador como ele, mas não desta forma”, atacou. Para o alemão, Neymar “não mostrou até agora que ele pode ser o melhor”. Mas o ex-atleta admitiu que uma eventual vitória da seleção na Copa pode mudar a história. “Devemos também falar do Mbappé, do Kane, que tem seis gols”, lembrou.
Matthäus ainda criticou a arbitragem do jogo entre Colômbia e Inglaterra, que terminou com vitória inglesa nos pênaltis, na última terça-feira, por ter permitido que os sul-americanos mantivessem o que ele chama de “provocação”. “Antes, eu achava que a Colômbia só tinha um Valderrama. Agora, tem uns cinco Valderramas”, atacou. “Eu não gosto dessa provocação, dessas encenações”, completou.
Quem também criticou o brasileiro foi Jorge Campos, ex-goleiro mexicano e que também apresentou o troféu de melhor do mundo, nesta quarta-feira. “Não se pode tocar em Neymar que ele voa, salta e é frágil”, ironizou. “Ele é um dos grandes jogadores da Copa. Mas não necessita tudo isso”, alertou, reconhecendo que o brasileiro tem sido alvo de violência. Para ele, o VAR “vai ajudar muito” a inibir esse comportamento. “Tem que se jogar limpo. Se deixar jogar, vai fazer coisas incríveis. Às vezes que tem recorrer à falta. Mas espero que o VAR ajude. Estão fazendo um show quando se jogam. Os jogadores nem os tocam e ele faz um show”, criticou. “Temos de defender o jogo limpo, ser honesto com você mesmo. O VAR vai ajudar contra encenações”, disse. “Ingleses, espanhóis e alemães não se jogam. Continuam a jogada. Isso tem que mudar”, completou.