Site icon Tribuna de Minas

Com ajuda de vaquinha criada pela mãe, jogador juiz-forano garante ida para Portugal

PUBLICIDADE
Jovem atleta é apaixonado pelo futebol desde o 5 anos de idade; hoje, aos 18, vai realizar um de seus sonhos: jogar na Europa (Foto: Felipe Couri)

O significado de família no dicionário não dá conta de definir o que são Luciana e Higor Dias, moradores do Bairro de Lourdes, Zona Sudeste de Juiz de Fora. A relação dos dois é mais que de mãe e filho: são também melhores amigos. As intensas relações de afeto testemunhadas pela reportagem são acompanhadas de orientações da genitora, com ouvidos atentos da cria. Apaixonado por futebol desde os 5 anos, Higor, hoje com 18, teve o apoio de Luciana, dona de loja de doces, durante toda sua trajetória futebolística. Em 2022, ano em que o juiz-forano passou por “momentos difíceis” e pensou em desistir da sua maior vontade – se tornar um jogador profissional -, a mãe, também fã do esporte, conseguiu driblar as dificuldades e arrancar em velocidade no intuito de realizar o sonho do filho. Ela, que tem diversos álbuns de fotos da trajetória de Higor no futebol, buscou nas redes sociais oportunidades de testes, e encontrou uma que poderia levar o garoto para a Europa.

“A minha mãe viu uma publicação de um projeto chamado na Cara do Gol, em Morungaba-SP. É uma pré-seletiva que envia jogadores para testes em clubes de Portugal. Iria para a cidade, e ela criou uma vaquinha para os custos da viagem”, conta o jovem, que joga como meia-atacante no futebol. Mas o que nem mãe nem filho esperavam, é que pouco antes de viajarem para Morungaba, o Recreio de Águeda, equipe portuguesa, faria contato com o atleta para já assinar contrato profissional, sem ter que realizar testes.

PUBLICIDADE

“Decidi criar a vaquinha para ele passar uma semana em São Paulo, mas acabou que nesse meio tempo o Higor foi convidado por um time, agora não precisa mais da seletiva. Ele irá usar esse dinheiro para entrar em Portugal; no ato de ingressar no país precisa de pelo menos 500 euros”, explica Luciana. “Pude ver que o povo de Juiz de Fora é solidário, abraçou a nossa causa” vibra a lojista. Até a publicação desta matéria, a família já tinha arrecadado cerca de R$ 3,6 mil; a meta da vaquinha on-line é arrecadar R$ 4 mil.

A princípio, Higor irá integrar a equipe sub-19 do Recreio de Águeda, que disputa a Liga Portuguesa e a Taça de Portugal nas equipes de base. “Sempre sonhei em jogar campeonatos assim. Muita gente se mobilizou e ajudou, fiquei muito feliz. Seria impossível eu ir sem a vaquinha, porque os gastos lá são altos, o time não tem alojamento, por exemplo”, revela. Mesmo com o dinheiro que conseguiu, Higor irá ter que conciliar futebol e mais um trabalho. “Vou receber ajuda de custo do clube. Meus treinos serão à noite, então na parte da manhã ou da tarde vou procurar um trabalho para me manter”, planeja o jogador.

PUBLICIDADE
Higor destaca o apoio da família, especialmente da mãe e do pai, que são seus pilares e o apoiaram para que ele seguisse seu sonho (Foto: Felipe Couri)

Destaque no futebol juiz-forano

A possibilidade de Higor se tornar um jogador profissional foi percebida pelo seu pai, Leonardo Dias, quando o garoto ainda dava os primeiros chutes. “Quando o Higor colocou o pé na bola, com 1 ano e meio de idade, o pai já disse que ele levava jeito”, diz Luciana. A partir dessa visão do pai, o filho começou a jogar futsal na escola, com apenas 5 anos. Aos 6, foi jogar futebol de campo no Tupynambás, quando conquistou a Copa ABS, e futsal no Clube Bom Pastor, lugar em que se sagrou campeão da Copa AOA.

“Depois, fui para o Sport, onde fiquei dos 11 aos 14, jogando futsal e campo. Foi uma trajetória longa, ganhei tudo o que eu poderia ganhar. Vencemos a MG Cup no sub-11, uma competição importante, em que batemos o Cruzeiro na final. Disputamos também a Go Cup, em Goiânia, uma competição internacional, que com certeza foi a experiência mais marcante na minha trajetória. Vi vários jogadores reconhecidos hoje, como o Andrey Santos (cria do Vasco, vendido recentemente para o Chelsea), o Endrick (jogador do Palmeiras, que irá para o Real Madrid quando completar 18 anos). Foi legal demais disputar uma competição mundial, ver delegações de outros países e ter essa convivência com eles. Fiz um amigo angolano, que mantenho contato, e hoje ele já é convocado para a seleção”, relembra Higor.

PUBLICIDADE

No sub-15, Higor continuou atuando tanto nas quadras quanto nos campos, mas em clubes distintos. “Fui para o São Bernardo e conquistei novamente a AOA e o Regional. Foi um lugar que fez muito bem. O futsal é o lugar que passei grande parte da minha vida, foi muito importante para meu desenvolvimento”. afirma. “E decidi focar no campo, retornando para o Tupynambás. Fiz um ótimo campeonato no Mineiro sub-15, me destaquei bastante”, avalia.

Após o campeonato estadual, o garoto teve a oportunidade de fazer testes no Palmeiras, em 2020. “Cheguei a ser aprovado no sub-16, mas os testes aconteceram na minha época de transição para o sub-17, e o treinador desta categoria me mandou embora. Falou que eu era muito franzino, magro. Mesmo assim, é um clube que admiro muito e tenho grande carinho. Percebi muita coisa nas duas semanas que eu estive lá, os sacrifícios que um jogador precisa fazer”, reconhece o juiz-forano.

PUBLICIDADE

Com a pandemia, Higor passou 2021 sem clube, realizando treinos em casa. Já no ano passado, com 17 anos, ele teve mais uma oportunidade. “Fui para o ArtSul-SP, treinei dois meses. Minha primeira experiência longe da minha família, foi bem importante. Não cheguei a jogar campeonatos, aconteceram problemas e tive que retornar para Juiz de Fora, mesmo já tendo treinado com os profissionais de lá”. Depois de mais um momento difícil, o atleta pensou em desistir. “Fiquei ainda mais desanimado, não queria mais jogar. Não via nada pela frente, mas Deus mudou minha vida. As coisas começaram a acontecer de uma hora para outra e agora vou para Portugal”, celebra.

Jovem atleta busca inspirar e ser exemplo para novos jogadores

Com toda sua base feita na cidade em que nasceu, Higor demonstra gratidão e busca ser espelho para os jovens conterrâneos. “Juiz de Fora representa muito, é onde passei toda minha vida e fiz grandes amigos. Espero levar o nome da cidade para grandes lugares. Quem sabe jogar uma La Liga ou Premier League. Meu maior sonho é jogar no Real Madrid e chegar na Seleção Brasileira. Está distante, mas não vou deixar de trabalhar e de sonhar nunca”, afirma o garoto. “Espero inspirar as crianças, peço para acreditarem neles e confiarem no tempo de Deus. Se for acontecer, vai acontecer. E claro, se esforçar, trabalhar duro”, opina.

Além de buscar ser inspiração, o garoto atenta pela necessidade do apoio da família dos atletas. “Minha mãe é tudo para mim. A pessoa que eu sempre quis ser. Olho para ela e vejo um espelho, assim como meu pai. Ambos se sacrificam muito por mim, fazem de tudo. São pilares. No momento mais difícil da minha vida, quando eu queria desistir, eles quem estavam comigo, me apoiando. Isso me dava forças e graças a Deus hoje estou um passo a mais do sonho”, diz Higor.

Já a mãe, emocionada, diz que seu maior desejo é que o filho continue com sua humildade. “Quero que ele seja para sempre esse menino amado por todos, que nunca me deu trabalho. Dentro e fora de campo, ele é exemplo. Serei sempre a fã número 1 dele.”

 

Exit mobile version