Chegar até a seleção brasileira é o sonho de qualquer atleta, seja qual for a modalidade que pratique. O juiz-forano Hiago Thales alcançou esse sonho e foi além, representando a Confederação Brasileira Desportiva de Surdos (CBDS) no Pan-Americano de futsal, no último final de semana, em Fortaleza: se não bastasse vestir a amarelinha, o atleta da Associação de Surdos de Juiz de Fora (ASJF) colocou o Brasil no topo do pódio e deixou o estado do Ceará com a medalha de ouro estufada no peito.
“O torneio foi difícil, era de um nível alto. Mas treinamos há mais de um ano e sabíamos que estávamos prontos para conquistar o título. É uma honra vestir a camisa da seleção brasileira. Fiquei emocionado por todos presentes terem reconhecido minha habilidade, técnica e confiança. Conto sempre com o apoio de meus amigos e familiares para representar Juiz de Fora em toda a América”, se orgulha Daniel.
Da surdez até a realização no futsal
Daniel nasceu ouvinte, mas ficou surdo com 1 ano e meio de vida, por conta de uma inflamação no ouvido. Logo aos 5 anos de idade, o garoto começou a jogar futsal. “Minha primeira experiência foi na escolinha do Boca Juniors, no Bairro Santa Luzia, em 2004. Acompanhava meu irmão mais velho nos treinos e ficava com vontade de jogar. Comecei a aprender futsal com os atletas ouvintes, e nunca me senti excluído, graças aos meu primeiros treinadores, Helton Mota e Valmir Teixeira. Eles abriram as portas para mim e nunca pensaram que eu não seria capaz. Pude aprender muitos atributos, principalmente pelo esforço que tinham para se comunicarem comigo”, relembra o atleta, que possui mais de 50 medalhas conquistadas.
Em 2014, após anos de futsal com atletas ouvintes, Daniel entrou para a equipe da Associação de Surdos de Juiz de Fora, e em pouco tempo se tornou um dos líderes do elenco. “Me orgulho muito de levar o nome da cidade comigo. Me responsabilizo por esse time, pois me representa muito. Somos fortes, sempre lutamos pelo títulos da Federação Mineira Desportiva”, conta o jogador. “Eu amo futsal, adoro estar dentro de quadra. Perco o estresse, me faz esquecer os problemas”, declara.
Inspiração para os atletas surdos
A próxima competição que a seleção brasileira de surdos irá participar é o Mundial, em São José dos Campos, ainda sem data definida. Daniel espera, novamente, estar entre os convocados para vestir a amarelinha. “Será um nível ainda mais profundo. Vou trabalhar, e se for chamado, ajudar ao máximo que eu puder”, espera.
Mesmo com a vida de esportista, Daniel estuda educação física na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e sonha também em ser professor de escolinhas de futebol. Ele busca ser inspiração para outros atletas surdos que tenham medo de entrar no mundo do esporte devido ao preconceito.
“O importante é nos reconhecermos individualmente. A gente nasceu ser feliz e quebrar barreiras. Cada um tem limite, mas quero mostrar que nada é impossível”, projeta Daniel.
LEIA MAIS: